A Jaguar está a chamar à oficina 2760 unidades do I-Pace, fabricadas em 2019 e isto só nos EUA, a que há que somar todas as outras comercializadas nos restantes mercados, inclusivamente o português, uma vez que todas têm a mesma origem e montam as mesmas baterias. O construtor britânico percebeu que há risco de incêndio no seu primeiro modelo eléctrico depois de terem sido registadas múltiplas ocorrências deste tipo, todas elas originadas por aparentes casos de thermal runaway.
Provocado por um defeito de fabricação, por uma pancada forte, por um acidente ou por um curto-circuito, o thermal runaway ocorre sempre que uma célula da bateria começa a aquecer descontroladamente, esteja ou não a ser recarregada. Esse sobreaquecimento leva-a a incendiar-se e a propagar o fogo às restantes células, acabando as chamas por consumir o veículo e colocar em risco as viaturas estacionadas ao lado e até as infra-estruturas, de locais de parqueamento a estações de carregamento. O problema não é novo e apresenta-se como uma fragilidade da tecnologia que os construtores de automóveis têm de controlar (idealmente anular) se querem que os consumidores adquiram veículos eléctricos.
Por enquanto, o Jaguar I-Pace é o único modelo a bateria da marca britânica e, se é comercializado de ambos os lados do Atlântico, todas as unidades são fabricadas na Áustria desde que foi lançado em 2018, na fábrica da Magna Steyr, e daí exportados para todo o mundo. A autoridade norte-americana para a segurança rodoviária (NHTSA, na sigla em inglês), que obriga os construtores a avisar os seus clientes sempre que detectam qualquer problema que possa fazer perigar o veículo ou os seus ocupantes, sob pena de incorrerem em multas pesadas, tomou conta da ocorrência e, juntamente com o construtor, já informou os proprietários do risco de incêndio, aconselhando-os a cuidados adicionais até o problema estar ultrapassado.
A Jaguar avança que a investigação sobre as causas para o problema ainda continua, uma vez que o defeito foi descoberto há pouco, mas admite que há um software incluído no I-Pace que deveria detectar este tipo de falhas e que pode não estar “a proporcionar o apropriado nível de protecção”. Segundo declarações prestadas pelo construtor à NHTSA, em Julho foi introduzido um novo software, mas a marca veio a concluir posteriormente que seriam necessárias maiores “mexidas” para conseguir mitigar o problema.
Já depois de o recall ter sido anunciado nos EUA — uma vez que na Europa, onde não há um sistema eficaz de protecção para a segurança dos automobilistas —, a Jaguar teve conhecimento de três novos incêndios, o que levou o construtor a preparar um novo software com uma limitação de carga a um máximo de 80%. A medida limita-se apenas a restringir danos em caso de algo correr mal e, atendendo a que o I-Pace não é conhecido por oferecer uma autonomia acima da média, potencialmente deixará os proprietários do modelo insatisfeitos por verem o seu alcance entre recargas ser ainda mais reduzido. E, ao que parece, nem a Jaguar acredita na solução avançada, pois a NHTSA (sem oposição do construtor) recomendou aos clientes que não estacionem o carro na garagem de casa e, muito menos, que o recarreguem aí, aconselhando-os a estacionar e recarregar longe da sua residência. E, já agora, afastado dos carros dos vizinhos. Estes vão agradecer…