Provas faltassem de que a moda tem um lugar na História, há mais um look icónico prestes a ir a leilão. A peça de roupa é famosa e, se contarmos a sua história, vamos encontrar uma série de personagens bem conhecidas que explicam porquê. Trata-se do vestido/conjunto do designer italiano Valentino com que a antiga primeira dama dos Estado Unidos Jackie Kennedy se casou com o armador grego Aristóteles Onassis em 1968. O leilão é da Bonhams e o valor de venda está estimado entre os 7000 e os 11.000 euros.

O casamento aconteceu a 20 de outubro na ilha privada do armador grego, Skorpios, e foi um verdadeiro acontecimento mediático, a pesar de apenas ter contado com cerca de 40 convidados. A noiva já era por esta altura um ícone de moda e o vestido com gola alta, manga comprida balão, torso com renda e saia de pregas acima do joelho era puro estilo década de 1960. A noiva completou ainda o look com um laço branco no seu volumoso cabelo comprido, bem ao estilo da época.

Na verdade o look final resulta de um conjunto composto por um “vestido em crepe de seda creme e com pregas sem mangas com fecho em zip” e por uma “sobreposição em chifon e renda com fecho em botões nas costas”, com “detalhe de botão no punho em branco e dourado”. A descrição da leiloeira acrescenta ainda que pertence à coleção “Sfilata Bianca”, apresentada em Roma em 1968, que “pertenceu e foi usado por Jacqueline Kennedy Onassis no seu casamento com Aristóteles Onassis” e que é “propriedade do iate Christina, que pertenceu a Aristóteles Onassis”.

O leilão da Bonhams no qual se integra este vestido chama-se “Classic Luxury — Style Icons” e conta com fatos de John Kennedy Jr, entre outras peças. Este leilão decorre online entre os dias 16 e 26 de setembro.

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O vestido Valentino chega agora a leilão através de um casal que fez amizade com o casal Kennedy Onassis a bordo do iate do armador grego, o Cristina. “O casal ficou extremamente próximo de Jackie e depois de se conhecerem e quando Aristóteles morreu, a Jackie deixou o barco e uma série das memórias daquela relação no barco”, disse a chefe de venda de carteiras e moda da Bonhams, Marissa Speer, à Women’s Wear Daily (WWD). “Quando o iate estava a ser limpo para retirar todos os pertences de Kennedy, o casal gostava tanto de Jackie que não queria que estas peças simplesmente desaparecessem no éter, ficaram com items [durante quase cinco décadas] guardadas, seladas e cuidadas.”

Do look de princesa de uma costureira negra ao Valentino curto. Os icónicos vestidos de noiva de Jackie Kennedy

A WWD conta que a 18 de outubro de 1968 deu conta de que Jackie tinha usado o vestido para ir a um casamento em que os filhos, Caroline e John Kennedy, foram menina das flores e pajem, respetivamente. Depois Valentino terá feito uma nova versão do mesmo vestido para que a noiva o usasse no seu próprio casamento.

Segundo a Bonhams, em dezembro de 2016 esteve a leilão uma ilustração de Valentino Garavani deste vestido. O desenho original feito a pastel e lápis de cor sobre papel tem como legenda “vestido de noiva desenhado para Jackie Kennedy”.

Contudo, há uma outra versão da história, segundo a qual este não foi um vestido criado de propósito para a ocasião. A peça tinha sido apresentada na famosa coleção toda em branco para a primavera/verão 1968 e só quando no dia depois do casamento o designer começou a receber inúmeras chamadas para confirmar se o vestido era da sua autoria, é que se apercebeu que se tratava de um vestido que a noiva terá simplesmente tirado do seu guarda-roupa, segundo disse numa palestra em Nova Iorque em 2014, citado no site Raked. A ex-primeira dama e o designer de moda italiano desenvolveram uma relação de amizade depois de um desfile de Valentino em Nova Iorque no qual Jackie encomendou uma série de peças.

O segundo vestido de noiva era em tudo oposto ao primeiro. No casamento com John F. Kennedy a 12 de setembro de 1953, Jacqueline Bouvier queria que o vestido ficasse a cargo de um designer francês, contudo, o futuro sogro assumiu o comando das operações e decidiu que a peça deveria ser de uma marca norte-americana, para enviar uma mensagem de diplomacia. A escolha recaiu sobre Ann Lowe, a costureira que já havia feito o vestido de noiva da mãe de Jackie, Janet Auchincloss, e que era negra e bisneta de um dono de uma plantação no Alabama com uma escrava. Tratava-se de uma costureira muito procurada pelas famílias de classe alta da costa este para a criação de vestidos de noiva e debutantes e a lista de clientes de Lowe incluía apelidos tão poderosos como Rockefellers, Du Ponts e Roosevelts.

O vestido de noiva de Jacqueline Bouvier era uma peça rica em trabalho minucioso. Todo o corpete tinha um efeito plissado a envolver o corpo, a saia amplamente rodada contava com um efeito de ondas na bainha, e grandes rosáceas em tecido com flores de laranjeira ao centro. Os efeitos tridimensionais em tecido eram uma especialidade de Lowe. O processo de criação do vestido foi atribulado, houve uma inundação no atelier que destruiu o vestido de noiva e vestidos das damas de honor que levou a designer a fazer um grande investimento próprio e reza a lenda que a noiva não gostou do seu vestido. A revista Life descreveu o casamento como sendo o “do jovem senador mais bem parecido de Washington com a fotógrafa mais bonita e curiosa de Washington”.