Alberto Fujimori, o polémico ex-Presidente do Peru, morreu ao final desta quarta-feira, vítima de cancro. Tinha 86 anos. Fujimori foi condenado a uma pena de prisão de 25 anos, por corrupção e violação dos direitos humanos. Cumpriu 19, saindo com um indulto humanitário controverso em dezembro do ano passado, Tinha regressado nos últimos meses à cena política como influencer e youtuber e chegou a ser noticiada a possibilidade de se candidatar às presidenciais peruanas de 2026.

A notícia foi dada pela sua filha, Keiko Fujimori, líder do partido Fuerza Popular, numa publicação no X (ex-Twiter).  “Após uma longa batalha contra o cancro, o nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de partir ao encontro do Senhor. Pedimos àqueles que o apreciavam que nos acompanhem com uma oração pelo eterno descanso de sua alma. Obrigado por tanto, papá”, diz a mensagem, que é assinada com os nomes dos quatro filhos, Keiko, Hiro, Sachie e Kenji.

O primeiro-ministro peruano já anunciou que Fujimori terá um funeral de Estado e que está a tratar dos preparativos com a família.

Conhecido e tratado no país como o “Chinês”, devido aos seus traços orientais, Fujimori era contudo descendente de japoneses. Nasceu no Peru em 1938 e governou o país dez anos, de 1990 a 2000. Na primeira eleição derrotou o escritor Mario Vargas Llosa e foi depois reeleito mais duas vezes, já no meio de críticas por ser um autocrata, várias denúncias de fraude e violações dos direitos humanos. No entanto, manteve sempre alguns admiradores, que o viam como o Presidente que salvou o Peru do terrorismo do Sendero Luminoso e do MRTA e do colapso económico devido a uma inflação galopante.

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Curiosamente, Fujimori acabou por morrer a 11 de setembro, no mesmo dia e com a mesma idade com que, há três anos, morreu Abimael Guzmán, o líder dos Sendero Luminosa, o grupo terrorista que combateu.

Fujimori foi operado seis vezes a um cancro na língua (leucoplasia) e sofria de problemas de estômago, problemas vasculares e pulmonares. Em outubro de 2021 foi submetido a um cateterismo ao coração para desobstruir uma artéria e em novembro desse mesmo ano voltou a ser internado devido a uma fibrose pulmonar. Já em maio deste ano foi-lhe detetado um novo tumor.

Bastaram dois anos na Presidência, para que Fujimori se tornasse controverso. A 5 de abril de 92, avançou com um golpe de Estado, com o apoio das Forças Armadas, que lhe permitiu controlar todos os poderes dos Estado: em 93 promulgou uma nova Constituição que ainda está em vigor. Depois, em 94, divorciou-se da mulher, Susana Higuchi, que denunciou perante o Congresso como tinha sido torturada pelos serviços secretos.

Em 2000 é conhecido o vídeo que destapa a maior rede de corrupção da história peruana, que o envolve. Nas imagens vê-se o seu assessor, Vladimiro Montesinos, que está preso, a entregar dinheiro a um congressista da oposição. Fujimori é obrigado a demitir-se e convoca novas eleições, e dois meses depois foge do Peru. Renuncia à Presidência através de um faxe enviado desde o Japão, onde fica até 2005. Nesse ano viaja para o Chile, que o extradita para o Peru em 2007.

Começa a cumprir pena em 2009, mas numa prisão especial e exclusiva e adaptada. Podia receber visitas da família e de políticos. Em 2017 recebe um primeiro indulto presidencial, com o argumento da sua grave situação de saúde. Uma investigação acabaria por revelar que o então Presidente, Pedro Pablo Kuczynski, tinha agido em conluio com o filho de Fujimori, Kenji Fujimori, que ocupava um alto cargo na Justiça e tinha nas mãos um processo de corrupção que poderiam levar à destituição de Kuczynski.

Kuczynski acabaria por renunciar à Presidência em 2018, Kenji por ser destituído pelo Congresso peruano (e mais tarde condenado a 54 meses por tráfico de influências) e Fujimori por regressar à prisão e ainda ver confirmado um novo julgamento em que era acusado da morte de seis dirigentes políticos.

Em dezembro do ano passado o Tribunal Constitucional peruano ordenou mesmo a sua libertação, desafiando a ordem do Tribunal Interamericano de Direitos Humanos. E Fujimori não ficou quieto. Usou as redes sociais para, com a ajuda da filha, fazer vídeos. Ameaçando voltar à política. Terá sido travado pela doença. Não pelas controvérsias.