O serviço nacional de saúde britânico (NHS, na sigla original) está numa “condição crítica” com listas de espera cada vez maiores e um baixo desempenho no tratamento do cancro, com o Reino Unido a ter taxas de mortalidade mais elevadas do que outros países. As conclusões constam de um relatório encomendado pelo novo governo britânico, que tomou posse em julho, e elaborado por Lord Darzi, cirurgião e ex-secretário de Estado da Saúde.

Uma das revelações feitas no documento, que é o culminar de nove semanas de trabalho para identificar as falhas do serviço de saúde britânico, é que o tempo de espera nas urgências do Reino Unido aumentou exponencialmente nos últimos anos. “Se um doente chegasse a um serviço de urgência numa noite normal em 2009 (quando começaram a ser recolhidos dados suficientemente pormenorizados para tornar possível esta análise) haveria 39 pessoas à espera. Em 2024, este número tinha aumentado para mais de 100 pessoas“, lê-se no relatório, que é citado pelo The Telegraph.

Além disso, o relatório sugere que os serviços de urgência podem ser mais mortais do que ir à guerra: “De acordo com o Royal College of Emergency Medicine [associação independente de médicos de emergência], estas longas esperas podem estar a causar mais de 14 mil mortes por ano — mais do dobro de todas as mortes em combate das Forças Armadas britânicas desde que o serviço de saúde foi fundado em 1948.”

O cirurgião Lord Darzi afirma que o serviço nacional de saúde britânico tem “mais recursos do que nunca”, com um financiamento recorde, no entanto, avisa, continua a ser necessário aumentar a produtividade e transferir mais cuidados para fora dos hospitais. “Com o orçamento do NHS a ascender a 165 mil milhões de libras este ano, a produtividade do serviço de saúde é vital para a prosperidade nacional. Além disso, o NHS tem de reconstruir a sua capacidade de tirar mais pessoas das listas de espera”, diz o relatório, que tem 142 páginas e que descobriu que o número de trabalhadores dos hospitais aumentou 17% desde 2019. Ainda assim, a produtividade é pelo menos 11,4% mais baixa do que nesse ano.

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Segundo a BBC, outras das conclusões é que o serviço de saúde britânico ficou enfraquecido pela política de austeridade de década de 2010 e pela falta de investimento em edifícios e tecnologia, o que deixou as infraestruturas de saúde públicas muito atrás das privadas (e das de outros países). “Apesar de ter trabalho no NHS durante mais de 30 anos, fiquei chocado com o que encontrei durante esta investigação — não apenas no serviço de saúde, mas no estado da saúde da nação”, revela Lord Darzi.

Em reação ao relatório, que indica que os problemas podem demorar até oito anos a serem resolvidos, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, considerou que o serviço nacional de saúde do país tem de “reformar-se” ou vai “morrer”. Num discurso realizado esta quinta-feira, o governante prometeu a “maior reformulação do NHS” e reconheceu que as pessoas têm “todo o direito de estar zangadas”.

Keir Starmer, citado pela BBC, disse que o plano de 10 anos do governo britânico para o NHS, que está previsto para os próximos meses, será “muito diferente de tudo o que foi feito antes” e terá três grandes mudanças: a transição para um serviço de saúde digital, a transferência de mais cuidados dos hospitais para as comunidades e a concentração de esforços na prevenção.

Por sua vez, Amanda Pritchard, diretora executiva do serviço de saúde britânico, enfatizou que os médicos e enfermeiros estão “a tratar um número recorde de doentes todos os dias, apesar do equipamento envelhecido e dos edíficos em ruínas, do aumento de número de doenças múltiplas de longa duração e da gestão dos efeitos prolongados da pandemia”. “Embora as equipas estejam a trabalhar arduamente para que os serviços voltem a funcionar, é evidente que os tempos de espera (…) são inaceitáveis e que temos de abordar as questões subjacentes delineadas no relatório de Lord Darzi para podermos prestar os cuidados que todos desejamos aos doentes”, acrescentou, segundo o Telegraph.