O Governo optou por emitir uma recomendação às escolas: até aos 12 anos de idade, que deverão coincidir com o final do 2.º ciclo de estudos, os alunos não devem usar o telemóvel na escolas. Mais: se tiver acesso a esses equipamentos, não devem sequer transportá-los para o interior dos estabelecimentos de ensino. É, ainda assim, uma recomendação e, agora, cada escola deverá determinar o que considera ser mais adequado ao seu contexto próprio. Pais e diretores escolares consideram a medida “positiva”, sobretudo por dar margem a uma gestão caso a caso desta realidade.

Uma recomendação “muito positiva” que “não interfere com a autonomia das escolas”, resume Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). Uma visão partilhada por Mariana Carvalho, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que defende que a palavra proibição deve estar fora da questão.

A recomendação foi aprovada na quarta-feira num Conselho de Ministros dedicado quase exclusivamente ao tema da Educação e apresentada pelo ministro Fernando Alexandre em conferência de imprensa. “É muito positivo o facto de o Ministério da Educação não enviar para as escolas uma lei abstrata e geral. Envia uma recomendação, que as escolas poderão ou não pôr em prática”, destacou Filinto Lima em declarações à Rádio Observador. Uma posição em linha com o que os diretores escolares já tinham mostrado ao Observador em setembro do ano passado, quando a discussão sobre o tema sobre o uso de telemóveis em contexto escolar começou a ganhar contornos mais concretos.

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Nessa altura, a tónica da ANDAEP era, precisamente, a de que era preciso olhar para cada realidade e aplicar — ou não — medidas restritivas em função do contexto social e educativo de cada escola. Foi isso que acabou por se traduzir na posição assumida esta quarta-feira pelo Governo: lançar uma recomendação de proibição de uso de telemóvel para crianças até ao final do 2.º ciclo, deixando a porta aberta a que cada instituição (ou agrupamento) defina exatamente que regras vai pôr em prática para os seus alunos.

“É fundamental estabelecer regras para toda a comunidade educativa, mas cada organização escolar tomará as melhores decisões, porque temos grandes diferenças entre agrupamentos e mesmo entre escolas uma ao lado da outra”, sublinha Mariana Carvalho. A presidente da Confap refere que a palavra proibição se banalizou, exemplificando que em algumas escolas se impede os alunos de levar bolas para os recreios. “Acredito que a palavra proibir ou banir não deve estar neste vocabulário, mas devem existir regras e apelar-se a uma boa utilização de um dispositivo do qual nenhum de nós abre mão”, diz.

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O presidente da ANDAEP acredita que as escolas vão ter em conta a recomendação do Ministério Educação, que de resto está alinhada com uma tendência que já vai sendo seguida em vários países, adaptando a decisão consoante a sua realidade. “Se há escolas em que o professor até necessita, para o trabalho com alunos, que eles tragam por vezes o telemóvel, outras proíbem. E as coisas correm bem”, afirmou.

Filinto Lima lembrou o caso da EB 2/3 António Alves Amorim, em Lourosa, que há seis anos proibiu os telemóveis em todo o recinto. “É pioneira em relação à proibição do uso de telemóvel em contexto escolar e a situação é muito pacífica. Mas eventualmente noutras escolas a proibição pode não ser o melhor caminho“, considera.

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“É muito positivo o Governo dê recomendações, tem toda a legitimidade, mas em última instância quem deve decidir é a própria escola, os atores educativos, o conselho geral, que é o órgão supremo de qualquer estabelecimento de ensino”, sublinhou. Acrescenta, ainda assim, que é importante sensibilizar alunos para um uso correto e saudável dos equipamentos. “As escolas são fundamentais para ajudarem e ensinarem também os nossos filhos a estarem perante um dispositivo móvel. Não é deixando a tecnologia fora da escola, devemos prevenir. É a nossa visão”, diz ainda Mariana Carvalho.

Países caminham no sentido da proibição

Atualmente, apenas 2% dos agrupamentos de escolas em Portugal proibiram a utilização de smartphones, segundo dados apresentados esta quarta-feira pelo ministro da Educação. Um universo que o Governo considera ser necessário aumentar.

O governante justificou a recomendação com o aumentou do número de escolas em vários países europeus que regulam, restringem ou proíbem o uso de smartphones, seja por iniciativa das escolas ou por orientação governamental. Deu o exemplo do projeto-piloto em França que proíbe smartphones em todo o ensino básico em 199 escolas, mas há muitos mais.

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Em mais de 370 escolas de língua francesa em Wallonia e Bruxelas, na Bélgica, os smartphones foram banidos com o novo ano letivo, como noticiou no final de agosto o Brussels Times. Para o ano letivo 2024/2025 foi imposta em todas as escolas de Itália uma proibição absoluta do uso de smartphones nas aulas, inclusive para fins educacionais e de ensino. A restrição abrange todos os níveis de ensino, segundo avançou em julho a agência de notícias italiana.

Na Hungria, um decreto publicado pelo Governo exige que as escolas recolham os telemóveis e dispositivos eletrónicos dos estudantes ao início do dia. Na Grécia, por exemplo, as medidas são mais ligeiras. Segundo a Euronews, foi este ano publicado um decreto que determina que os alunos são obrigados a manter os telemóveis nas malas durante as aulas, tendo autorização para o usar fora delas.

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A Holanda tem sido um país pioneiro na proibição de telemóveis em contexto escolar, apesar de o tema gerar um forte debate no país. Como refere a Reuters, este ano, por determinação do governo,  telemóveis, tablets e smartwatches foram proibidos nas salas de aula da Holanda a partir de janeiro.