Tudo mudou nas últimas duas semanas. A paragem para os jogos das seleções foi marcante e revolucionária na Luz. Depois de ter perdido cinco pontos nas quatro primeiras jornadas da Primeira Liga, Roger Schmidt foi despedido por Rui Costa. Já depois de o mercado ter fechado, e de terem sido contratados Kaboré, Aktürkoglu e Amdouni, Bruno Lage foi anunciado como o substituto. Quis o destino que a estreia do setubalense nesta segunda passagem acontecesse contra um Santa Clara de sabor agridoce. Foi contra os açorianos que o técnico garantiu o Campeonato em 2019 (4-1) e foi contra a mesma equipa que perdeu em casa no ano seguinte (3-4), acabando por ser despedido pouco depois.
Entrar em ação na quinta jornada a oito pontos do primeiro classificado — devido à vitória do Sporting em Arouca (0-3) — era um cenário impensável e pouco visto na Luz. A tarefa de Lage não se adivinhava fácil, como o próprio assumiu na antevisão do encontro. “Vai ser um ano difícil por aquilo que se está a passar fora do centro de estágio, com as eleições. Eu sou é treinador e tenho de blindar o grupo dessas situações. [O Santa Clara é] um adversário muito competente e teve um início de época muito bom. Mais do que olhar para o adversário, [temos de] olhar para aquilo que podemos fazer. Foi isso que fizemos nestes dois dias. Espero um jogo dinâmico e ofensivo da nossa parte, com muitas oportunidades criadas”, assumiu.
Ficha de jogo
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Benfica-Santa Clara, 4-1
5.ª jornada da Primeira Liga
Estádio do Sport Lisboa e Benfica, em Lisboa
Árbitro: Cláudio Pereira (AF Aveiro)
Benfica: Anatoliy Trubin; Alex Bah, António Silva, Nico Otamendi, Álvaro Carreras; Florentino Luís, Orkun Kökçü (Leandro Barreiro, 81′), Benjamín Rollheiser (Zeki Amdouni, 67′); Ángel Di María (Andreas Schjelderup, 73′), Kerem Aktürkoglu (Gianluca Prestianni, 73′) e Vangelis Pavlidis (Arthur Cabral, 81′)
Suplentes não utilizados: Samuel Soares; Issa Kaboré, Jan-Niklas Beste e Tomás Araújo
Treinador: Bruno Lage
Santa Clara: Gabriel Batista; Luís Rocha, Frederico Venâncio, Sidney Lima; Lucas Soares, Adriano Firmino (Serginho, 84′), Pedro Ferreira (Matheus Pereira, 62′), MT; Vinícius Lopes (Ricardinho, 45′), Gabriel Silva (Gustavo Klismahn, 62′) e Alisson Safira (João Costa, 75′)
Suplentes não utilizados: Neneca; Diogo Calila, Bruno Almeida e Gui Ramos
Treinador: Vasco Matos
Golos: Vinícius (1′), Aktürkoglu (27′), Florentino (34′), António Silva (47′) e Di María (58′)
Ação disciplinar: Safira (30′), Luís Rocha (72′), António Silva (74′) e Serginho (90′)
Já o Santa Clara, agora comandado por Vasco Matos, está de regresso à Primeira Liga e apresentava-se em bom plano, com três vitórias e apenas uma derrota, diante do FC Porto (0-2). “Na análise do adversário a imprevisibilidade neste momento é maior, não sabemos que ideia é que o treinador do Benfica vai implementar, mas trabalhamos sempre muita coisa e olhamos sempre muito para dentro. Sinceramente, acredito muito naquilo que estamos a fazer. É um desafio que todos os que estão neste meio gostam. É defrontar uma equipa grande, num estádio emblemático, mas isso não nos pode desviar daquilo que é o nosso trabalho e o nosso foco. Nada nos pode desviar do nosso processo”, perspetivou o treinador.
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— SL Benfica (@SLBenfica) September 14, 2024
Com a alteração no comando técnico encarnado vieram as esperadas alterações no onze inicial, com Bruno Lage a lançar Rollheiser no apoio a Kökçü e Florentino, no que ao que ao meio-campo diz respeito. Na ala esquerda, Aktürkoglu foi a grande novidade e fez a estreia de águia ao peito. No banco de suplentes, Amdouni, Schjelderup e Kaboré marcaram presença, à semelhança de Beste, que esteve lesionado nas últimas quatro semanas. Em sentido inverso, Vasco Matos manteve o onze inicial que tem utilizado na Primeira Liga e que tem dado frutos.
E pior início da era Lage 2.0 era impossível, a fazer lembrar o primeiro jogo do treinador na equipa principal dos encarnados, frente ao Rio Ave, em que esteve a perder por 0-2. O Santa Clara saiu com a bola e, na sequência de um passe longo de Sidney Lima, Otamendi falhou a abordagem completamente sozinho, a bola caiu nas suas costas, Vinícius Lopes isolou-se e, perante a saída de Trubin, fez-lhe o chapéu e inaugurou o marcador… aos 21 segundos (1′). A partir daí e como seria de esperar, o Benfica assumiu as despesas da partida, mas mostrou algumas dificuldades em conseguir superar a muralha defensiva dos açorianos. Sem conseguir romper, Rollheiser foi o primeiro a tentar o golo de fora da área, mas o seu remate, em posição frontal, saiu por cima (13′).
A reação teve seguimento apesar do nervosismo inicial e, depois de Gabriel Batista ter negado o golo a Aktürkoglu (27′), o turco soltou a varinha mágica na jogada seguinte, dando o melhor seguinte a um passe picado de Kökçü (27′). Seis minutos depois ficou completada a reviravolta no marcador, com Di María a cruzar para o segundo poste, Otamendi a elevar-se e a servir Florentino para o golo, o primeiro do português nos últimos cinco anos (34′). Consumada a vantagem, o Benfica acabou por se soltar e continuar em busca do golo, mas Kökçü desperdiçou duas ocasiões à entrada da área (40′ e 44′) e as águias terminaram o primeiro tempo em sofrimento, já que Gabriel Silva atirou ao poste nos descontos (45+1′). Ainda assim, a formação de Lage superou o susto inicial e final e regressou às cabines na frente do resultado.
Para a segunda parte, Vasco Matos apostou na velocidade de Ricardinho em detrimento de Vinícius, mas o efeito da substituição acabou por esfumar-se em mais uma bola parada. Kökçü cobrou um canto na esquerda para a zona do primeiro poste e António Silva apareceu a cabecear para o golo, logo no início dos segundos 45 minutos (47′). Pouco depois, Bah isolou Di María com um grande passe de costa a costa e o Fideo aproveitou uma hesitação de Gabriel Batista para lhe fazer o chapéu e aumentar a vantagem (58′).
Com a vitória praticamente consumada, Lage aproveitou para estrear Amdouni e lançar os jovens Prestianni e Schjelderup. Já com Arthur também em campo e, numa fase em que tinha tudo para marcar, Amdouni falhou incrivelmente o golo com a baliza escancarada (83′) e Schjelderup, só com Gabriel Batista pela frente, repetiu o “feito” (88′). Na última oportunidade, o avançado suíço voltou a aparecer e, de livre, colocou a bola na barra da baliza açoriana. Com o triunfo sentenciado, a segunda passagem de Bruno Lage pelo Benfica começou da melhor forma, permitindo aos encarnados manterem a desvantagem de cinco pontos para o rival Sporting e igualarem o Famalicão no segundo posto, com 10 pontos.