O primeiro-ministro do Reino Unido e líder do Partido Trabalhista não terá declarado no prazo previsto donativos feitos à mulher por um doador do partido, segundo o The Sunday Times. Só na terça-feira passada, Keir Starmer, que está a ser alvo de uma investigação sobre o assunto, entregou uma declaração de retificação junto do Parlamento para corrigir a situação.
O jornal britânico escreve que os donativos de que beneficiou Victoria Starmer não constavam na declaração inicial de registo de interesses do marido, o que irá contra as regras parlamentares. Os donativos terão coberto custos com uma “personal shopper“ (um profissional que ajuda a selecionar e comprar peças de vestuário), com roupas e ajustes de vestuário para a agora primeira-dama, antes e depois da vitória do Partido Trabalhista nas eleições de julho. As regras ditam que os deputados estão obrigados a registar as ofertas e os donativos no prazo de 28 dias. Segundo o The Sunday Times, não há registo recente de um primeiro-ministro declarar a oferta de roupas dadas aos cônjuges.
O Partido Conservador, entretanto, exigiu uma investigação completa sobre as ligações entre a família Starmer e o doador Waheed Alli, empresário dos média, ex-chairman da gigante britânica de compras online Asos e militante do Partido Trabalhista. Desde 2020, Alli entregou 500 mil libras (quase 600 mil euros) ao partido. No mês passado, foi noticiado que recebeu um “passe” de entrada em Downing Street apesar de não ter um cargo no governo.
Keir Starmer corrigiu a declaração após ter sido aconselhado a tal e depois de a sua equipa ter sido abordada por vários designers interessados em que Victoria Starmer usasse os seus produtos de graça. Essas propostas levaram a que a equipa solicitasse aconselhamento e, como consequência, a correção do registo de interesses.
Um porta-voz do número 10 de Downing Street disse ao The Sunday Times: “Procurámos aconselhamento junto das autoridades quando assumimos funções. Pensámos que tínhamos cumprido as regras, mas, na sequência de novos interrogatórios este mês, declarámos mais artigos.” O jornal britânico adianta que o primeiro-ministro está a ser alvo de uma “investigação”.
O código de conduta da Câmara dos Comuns determina que os deputados devem registar “qualquer benefício dado a terceiros, quer seja ou não acompanhado de um benefício para si, se o deputado tiver conhecimento, ou se for razoável esperar que tenha conhecimento, do benefício e se este foi dado devido à sua qualidade de membro da Câmara ou às suas atividades parlamentares ou políticas”.
Waheed Alli tem custeado despesas de Keir Starmer com roupas, óculos de sol ou alojamento, que foram devidamente declaradas. O problema está na não declaração dos donativos de que beneficiou Victoria Starmer. David Lammy, ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, defendeu à BBC que a prática de receber donativos para custear despesas com vestuário é transversal a governos anteriores. “Sucessivos primeiros-ministros, a menos que sejam um bilionário como o último, dependem de donativos políticos para poderem estar no seu melhor”, afirmou.