Pelo menos 20 pessoas (incluindo pelo menos sete elementos do Hezbollah) morreram e mais de 450 ficaram feridas esta quarta-feira na capital do Líbano, Beirute, na sequência de uma onda de explosões simultâneas de walkie-talkies usados pelos operacionais do grupo fundamentalista xiita que controla o sul do Líbano.

Esta onda de explosões em walkie-talkies acontece um dia depois de um episódio semelhante com pagers usados pelos membros do Hezbollah. Na terça-feira, pelo menos 12 pessoas morreram depois de vários pagers armadilhados terem sido detonados em simultâneo por uma mensagem.

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Os dois ataques que visaram os equipamentos de telecomunicações utilizados pelos elementos do grupo xiita estão a ser atribuídos a Israel, que não confirmou oficialmente qualquer envolvimento num ataque contra o Líbano. A suspeita principal levantada por vários grupos no mundo árabe e por vários observadores internacionais é a de que Israel tenha armadilhado centenas de pagers walkie-talkies encomendados pelo Hezbollah, detonando-os à distância com o objetivo de causar o máximo dano possível em operacionais do grupo libanês.

Imagens partilhadas nas redes sociais mostram o estado em que ficaram os aparelhos depois das explosões.

Apesar de armadilhados com uma pequena quantidade de explosivos, os equipamentos de telecomunicações encontram-se muito perto do corpo dos operacionais, pelo que as explosões, ainda que relativamente pequenas, causaram um grande impacto.

As primeiras notícias sobre as explosões começaram a circular pouco depois das 17h locais (15h em Lisboa) e davam conta de várias explosões simultâneas na zona de Dahiyeh, nos subúrbios a sul de Beirute. Imagens divulgadas através das redes sociais mostraram o momento de uma das explosões, que ocorreu no meio de uma multidão que se encontrava reunida justamente para o funeral de uma pessoa que morrera no dia anterior, na onda de explosões em pagers.

Pelo menos duas das explosões ocorreram quando os walkie-talkies se encontravam dentro de carros, o que resultou em incêndios também nessas viaturas. A dada altura, foi também noticiado que se registaram explosões em sistemas caseiros de produção de energia solar.

De acordo com o The Times of Israel, os walkie-talkies terão sido comprados há cerca de cinco meses, na mesma altura em que foram comprados os pagers que explodiram na terça-feira — o que adensou as suspeitas de que se tratou de um ataque coordenado.

Há ainda várias dúvidas sobre de onde vieram os pagers e os walkie-talkies e sobre como e quando poderão ter sido adulterados. Os pagers são da marca Gold Apollo, uma empresa de Taiwan que entretanto já veio negar responsabilidade sobre o caso, garantindo que os equipamentos foram produzidos por uma empresa europeia que tinha autorização para comercializar a marca asiática. Em causa estaria a empresa BAC, com sede em Budapeste (Hungria).

Contudo, as autoridades húngaras já vieram dizer que aquela empresa seria apenas uma intermediária e que os aparelhos em causa não tinham passado pelo território húngaro.

Já os walkie-talkies serão de fabrico japonês, mas de acordo com a CNN estará em causa um modelo já descontinuado pela empresa japonesa ICOM.

Na sequência destas duas ondas de explosões em Beirute, foi já anunciado que o Conselho de Segurança da ONU se vai reunir na sexta-feira com o tema em cima da mesa. Isto depois de António Guterres, o secretário-geral da ONU, já ter alertado para o “grave risco de uma escalada dramática” no Líbano.

Esta quarta-feira, a CNN também noticiou, citando três fontes com conhecimento destas contactos, que o governo israelita teria informado os Estados Unidos de que iria levar a cabo um ataque contra o Hezbollah no Líbano na terça-feira, embora não tenha dado os detalhes do ataque ao governo norte-americano.

De acordo com a CNN, terá mesmo havido um telefonema entre o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, e o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, na manhã de terça-feira, horas antes de começarem a registar-se várias explosões em dispositivos de comunicação usados por operacionais do Hezbollah. Ainda de acordo com a CNN, terá mesmo sido Israel a estar por trás das explosões nos pagers e nos walkie-talkies, que terão sido armadilhados e detonados à distância em simultâneo.