“Amarrados”
Halle Berry produz e interpreta este filme de terror de Alexandre Aja, no papel de uma mãe que vive com os dois filhos pequenos numa velha casa de madeira no meio de uma floresta. Eles serão os únicos sobreviventes de um Mal de natureza sobrenatural que se abateu sobre a humanidade e a dizimou, e cujas manifestações apenas a mãe consegue ver. A casa tem propriedades mágicas, impedindo a entrada desse Mal e dos que o transportam, e mãe e filhos só podem sair dela em busca de comida se estiverem presos a grandes cordas que os unem e os ligam àquela e protegem, e não devem de forma alguma largá-las. Amarrados assenta mais numa atmosfera de ameaça permanente, tensão e dúvida do que em sustos ou em gore, e apesar de um final algo confuso, tem, para além da superfície de terror, uma segunda interpretação como metáfora para a permanente preocupação (por vezes, sufocante e obsessiva) das mães com os filhos.
“Um Ano Difícil”
Responsáveis por alguns dos melhores filmes de grande público franceses dos últimos anos, como Amigos Improváveis (2011) ou O Espírito da Festa (2017), Olivier Nakache e Éric Toledano assinam agora Um Ano Difícil, uma comédia satírica sobre dois sujeitos (interpretados por Pio Marmaï e Jonathan Coen) que devem dinheiro a toda a gente e sobrevivem à custa de pequenos esquemas. Até ao dia em que se transformam, por puro oportunismo, em membros de um coletivo de ativistas ecológicos, daqueles obcecados com o aquecimento global e o hiperconsumismo. As despesas da comédia deste bastante divertido Um Ano Difícil são feitas à custa dos catastrofistas militantes, embora o filme claudique mesmo no final, ao contradizer tudo aquilo de que tinha (e certeiramente) feito troça até aí, em nome de um desenlace feliz e “fofinho” para os protagonistas.
“Grand Tour”
No novo filme de Miguel Gomes, Prémio de Melhor Realização no Festival de Cannes, Edward (Gonçalo Waddington) é um funcionário público inglês colocado em Rangum, na antiga Birmânia, em 1917, pela administração do Império Britânico. Quando recebe um telegrama da noiva, Molly (Crista Alfaiate), que não vê há vários anos, anunciando que chega no dia seguinte para se casarem, Edward entra em pânico e mete-se no primeiro comboio, para estar bem longe quando Molly desembarcar em Rangum. Esta, em vez de ficar fula ou inconsolável, acha a situação divertida, e segue-lhe no rasto. E enquanto os acompanha nos respetivos périplos, num preto e branco reminiscente das produções cinematográficas dessa época, Miguel Gomes vai entremeando no filme imagens contemporâneas, feitas a cores nos vários países que as duas personagens vão atravessando. Grand Tour foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.