Os médicos internos de Calcutá, no nordeste da Índia, anunciaram esta sexta-feira o fim de uma greve que durava há mais de um mês, desde a violação e o assassínio de uma colega.
Desde a descoberta, em 9 de agosto, do corpo da médica residente de 31 anos no hospital de Calcutá onde trabalhava, os internos deixaram de trabalhar e exigiram negociações com as autoridades locais para obter garantias de segurança.
Há mais de um mês que a capital do estado de Bengala Ocidental tem sido palco quase diariamente de manifestações contra o flagelo da violência sexual, endémico na Índia.
Em 2022, a Índia registou 31.500 violações, ou cerca de 86 por dia, de acordo com um relatório das autoridades.
“Os internos vão retomar a maior parte das tarefas nos hospitais, mas não vão participar em consultas (…) ou operações não urgentes”, disse à agência de notícias France-Presse um dos representantes.
“O movimento de protesto não acabou”, alertou Aniket Mahato. “Estamos a retomar gradualmente devido às cheias em vários locais do nosso estado (…) precisamos de ajudar as vítimas”, explicou.
“Se as nossas reivindicações não forem atendidas, retomaremos a greve”, avisou o porta-voz.
A ministra-chefe do estado, Mamata Banerjee, pediu na quinta-feira aos grevistas para pararem o movimento devido às inundações significativas que afetam Bengala Ocidental.
Um suspeito foi detido pela morte e violação da médica, mas os manifestantes têm acusado as autoridades de negligência na investigação.
Irregularidades no caso, como a morte ter sido inicialmente dada como suicídio, bem como a suspeita de envolvimento de mais do que uma pessoa no crime, desencadearam protestos.
O chefe da polícia de Calcutá foi demitido esta semana e nos protestos tem sido também exigido a demissão de Mamata Banerjee.
O tribunal superior da Índia criou em agosto um grupo de trabalho de médicos de todo o país para fazer recomendações sobre a segurança dos profissionais de saúde no local de trabalho.
O painel vai definir diretrizes para a proteção de profissionais médicos e profissionais de saúde em todo o país.
A Associação Médica Indiana (IMA) realizou a 17 de agosto uma greve geral, paralisando os serviços médicos não essenciais em todo o país, em protesto contra o crime.
A greve da maior associação de médicos do país juntou-se à uma paralisação realizada nos três dias anteriores pela Federação das Associações de Médicos Residentes da Índia.
Na declaração de greve, a IMA pediu o aumento dos protocolos de segurança nos hospitais para o nível dos existentes nos aeroportos, o fim do horário de trabalho de 36 horas, que a vítima cumpria na altura da morte, e a garantia de espaços seguros para os médicos descansarem.