Nem telescópio, nem binóculos. Se resistir e o céu não estiver nublado, vai ser possível ver a olho nu, em Portugal, um dos cometas mais esperados deste ano. Chamam-lhe mesmo o “cometa do século” devido às suas características “excecionalmente brilhantes”.

Mas tem um nome mais cifrado: C/2023 A3  — C de cometa não periódico; 2023 do ano em que foi descoberto; A porque o encontraram na primeira quinzena de janeiro e 3 porque foi o terceiro objeto espacial identificado nesse período. Tem ainda um outro nome Tsuchinshan-ATLAS, assim batizado devido a dois telescópios: o do Observatório da Montanha Púrpura na China, o primeiro a vê-lo a 9 de janeiro de 2023, e o ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) da África do Sul que confirmou a sua existência um mês depois.

Em Portugal, este cometa que não se aproximava da Terra há 80 mil anos, “será visível a olho nu em meados de outubro, sendo os dias de melhor visibilidade 14, 15 e 16 desse mês”, diz ao Observador Rui Agostinho, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e sub-diretor do Observatório Astronómico de Lisboa.

Apesar de não se precisar de nenhum aparelho para ver o cometa, já que tem  “entre 4 e 6 de magnitude (nível de luz)”, não haverá muito tempo para o observar. A sua longitude faz com que o seu tempo de exposição seja relativamente curto. “Só será visível a olho nu durante o crepúsculo (pôr do sol) e, durante a noite, irá desaparecer“, explica o astrónomo.

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E não é preciso ir para o campo. “Mesmo numa cidade iluminada como Lisboa o cometa será visível (desde que as condições meteorológicas sejam favoráveis), uma vez que o C/2023 A3  e a sua cauda serão visíveis quando ainda existe alguma luz solar no céu. Caso só fosse possível ver o corpo celeste durante a noite, seria recomendado que nos deslocássemos a um local mais remoto, sem a iluminação da cidade”, continua 0 especialista.

O melhor é aproveitar esta oportunidade, pois há 27 anos que não é possível ver um cometa a olho nu, refere Mar Gómez, doutorada em Física e responsável pelo canal de meteorologia espanhol El Tiempo, aquando da passagem do cometa Hale-Bopp.

No entanto, existe um problema: a aproximação ao sol. Como os cometas, ao contrário dos asteroides, não são compostos por material rochoso e sim por gelo, poeira e materiais orgânicos, o cometa corre o risco de se desintegrar quando estiver perto de intensa irradiação solar.

Mais sorte têm os habitantes do Hemisfério Sul que já puderam olhar para o C/2023 A3. Há mesmo imagens partilhadas nas redes sociais, como a publicada pelo astrónomo chileno, Álex Sáez.

De acordo com o site StarWalk, o cometa começará a ter visibilidade em Portugal e no Hemisfério Norte no dia 1o de outubro, sendo que o dia em que estará mais próximo da Terra será dia 12 (isto se não se desintegrar no dia 27 de setembro, quando fará a sua aproximação ao Sol). O C/2023 A3 começará em seguida a perder o brilho, mas ainda será visível a olho nu (desde que o céu esteja limpo) pelo menos até dia 19 de outubro em todo o Hemisfério Norte.

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O Tsuchinshan-ATLAS poderá até não ser o cometa do século, pois, como refere Rui Agostinho, “ainda é cedo” para lhe atribuir esse estatuto, mas arrisca-se mesmo a ser o cometa deste ano que tem sido muito interessante para quem gosta de observar o céu. Ainda há pouco tempo tivemos a passagem de um meteoroide que entusiasmou o país bem como as auroras boreais. Resta esperar pelo próximo mês para voltar a erguer os olhos e assistir à passagem de um cometa tão especial.

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