Os modelos da Bentley, dos coupés às berlinas, passando pelo SUV, propõem aos clientes um cocktail difícil de recusar entre potência e luxo, confiando em motores a gasolina e híbridos plug-in (PHEV), com destaque para o imponente 6.0 W12, com até 750 cv de potência. Há quatro anos, o construtor britânico anunciou que, em 2030, possuiria uma gama exclusivamente composta por modelos eléctricos, mas os clientes é que mandam e estes deixaram bem claro que vão continuar, em muitos casos, a preferir motores a combustão. E isso levou o construtor de Crewe a reajustar a estratégia.
A Bentley mantém como objectivo lançar o seu primeiro veículo 100% eléctrico em 2026, mas o plano de passar a vender apenas modelos a bateria dentro de seis anos passa a fazer parte do passado. E esta decisão nem sequer é estranha, uma vez que o novo CEO, Frank-Steffen Walliser, que nos últimos 29 anos trabalhou na Porsche onde desenvolveu o 918 Spyder, alinhou pela Porsche o rumo da Bentley (que dirige desde Julho), desacelerando a aposta nos modelos eléctricos e reforçando o investimento nos PHEV.
Bentley Continental GT troca W12 por um V8 PHEV. E ganha potência e binário
O CEO defende a estratégia assumida dizendo estar convencido que “os clientes de veículos luxuosos não são fãs, neste momento, de modelos eléctricos” e que “preferem os carros de luxo com motor de combustão”. Mas a realidade é que os clientes não compram carros de luxo ao nível dos Bentley com motor eléctrico porque não podem, uma vez que eles não existem.
Os novos PHEV, que a Bentley já começou a oferecer na nova geração do Continental GT Speed, substituem o mais nobre motor a gasolina da marca, o 6.0 W12 sobrealimentado com 659 cv e 900 Nm de binário, por uma mecânica que associa um 4.0 V8 biturbo com 782 cv e 1000 Nm de força a um motor eléctrico com 190 cv, o qual é alimentado por uma bateria de 25,9 kWh. A troca de motorizações visa, sobretudo, reduzir as emissões, já que o 6.0 W12 pode fornecer uma potência superior (no Batur atinge 750 cv). Enquanto o antigo Continental GT Speed de 2023 anunciava um consumo de 13,7 l/100 km e a emissão de 311g de CO2/km, a nova geração de 2024, já à venda, reivindica apenas 1,3 l/100 km e 29g de CO2/km, uma vez que os PHEV usufruem de uma fórmula vantajosa de calcular o consumo e, por tabela, as emissões. Contudo, espera-se que este “fazer vista grossa” às vantagens indevidas dos PHEV termine em breve, o que tornará esta tecnologia menos interessante para contornar os limites de emissões de CO2 que, em 2025, serão de apenas 94g/km.
Para os clientes da Bentley, não existe perda de emoções ao volante com a troca das motorizações a gasolina dos modelos da geração anterior pelos PHEV da nova geração. Se, por exemplo, compararmos o Continental GT Speed de 2023 (equipado com o 6.0 W12) com o seu sucessor de 2024 (já dotado do 4.0 V8+PHEV), que já está à venda, o “velho” coupé anunciava 335 km/h e 0-100 em 3,6 segundos, enquanto o “novo” mantém a velocidade máxima, mas reduz o tempo que necessita para ultrapassar a fasquia dos 100 km/h para apenas 3,2 segundos.
Quanto aos veículos eléctricos da Bentley, tudo depende das alterações que a União Europeia aceite introduzir — pressionada sobretudo pelas marcas alemãs — aos actuais objectivos em matéria de emissões de CO2 para os próximos anos. A começar por 2025, pois é isso que vai determinar o esforço que os construtores vão ter de realizar para evitar multas. Até lá, resta aguardar o Bentley eléctrico de 2026, bem como os Ferrari e Lamborghini esperados em 2025, pois se estes tiverem boa aceitação dos clientes e o legislador, como se espera, apertar a legislação que protege os PHEV, cruzando os consumos anunciados com os obtidos em condições reais de utilização (que todos os veículos enviam para as marcas e, estas, para a UE), então o mais provável é que a antecipada gama de veículos eléctricos venha mesmo a estar disponível em 2030.