O regresso de Arsenal, nas duas últimas temporadas, e Chelsea, esta época, às principais discussões da Premier League em conjunto com Manchester City e Liverpool deixou os outros dois elementos dos big six ingleses fora da mesa de jantar. Manchester United e Tottenham, cada um à sua maneira, cada um com as suas decisões e cada um com as suas idiossincrasias, têm sido os protagonistas de verdadeiras debacles nos anos mais recentes. Este domingo, cruzavam-se.

Já com o Liverpool isolado na liderança da Premier League, Manchester City e Arsenal igualados a um ponto dos reds e Chelsea com apenas menos um ponto do que citizens e gunners, o Manchester United recebia o Tottenham numa altura em que as duas equipas já estão algo afastadas dos teóricos principais rivais. Em Old Trafford, porém, surgiam em situações diferentes: os red devils empataram em casa com o Twente no arranque da Liga Europa, enquanto que os spurs conseguiram impor-se diante do Qarabag.

Do lado do Manchester United, Erik ten Hag tinha a clara noção de que o cerco começa a ficar cada vez mais apertado a cada resultado menos positivo — e que o jogo grande contra o Tottenham, este domingo, poderia tornar-se decisivo. “Temos de assumir a situação, ainda estamos a trabalhar, estamos em progresso. Temos de contratar jogadores, mas tomámos a decisão de contratar jogadores muito jovens, como aconteceu no ano passado. São jogadores em que acreditamos para este momento e também para o futuro e temos de construir com eles. Mas também temos de ser justos. Ganhámos dois troféus nas últimas duas épocas e somos ambiciosos. Queremos ganhar mais e chegar o mais longe possível, entrar em cada jogo para ganhar, seja qual for o adversário”, disse o treinador neerlandês na antevisão.

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Do outro lado, Ange Postecoglou não escondia que perdeu o élan que chegou a ter com os adeptos dos spurs depois do início entusiasmante da época passada. “É difícil dizer como é que lido com as críticas porque acho que cada um de nós lida com o assunto de maneira diferente. Mas temos de entender que é parte da nossa existência como treinadores. Não sei quem é que disse que era um ‘trabalho impossível’, mas acho que se tem tornado cada vez mais impossível porque parece que o sucesso não é suficiente se não tiver identidade. E a identidade não é suficiente se não tiver estética. E a estética não é suficiente se não tiver um legado. Existe sempre uma camada adicional. Parece que ninguém está a fazer um bom trabalho se não ganhar todas as competições no final do ano”, atirou o técnico australiano.

Neste contexto, Erik ten Hag lançava Alejandro Garnacho, Bruno Fernandes e Rashford no apoio a Zirkzee, com Manuel Ugarte e Kobbie Mainoo no meio-campo e Diogo Dalot a ser naturalmente titular na direita da defesa. Já Ange Postecoglou tinha Timo Werner, Dominic Solanke e Brennan Johnson no trio ofensivo, com Son Heung-min a falhar o jogo após sair lesionado na Liga Europa na semana passada, e James Maddison, Bentancur e Kulusevski formavam o setor intermédio, com Pedro Porro a surgir na ala direita.

O Tottenham entrou praticamente a ganhar. Logo nos instantes iniciais, Micky van de Ven lançou-se numa das suas arrancadas, descaído no lado esquerdo, e entrou na grande área a toda a velocidade antes de cruzar rasteiro para o segundo poste, onde Brennan Johnson apareceu a encostar para abrir o marcador (3′). Os spurs foram essencialmente dominantes durante toda a primeira parte, com Johnson a ter ainda um remate ao poste (20′), e o Manchester United só conseguiu criar perigo através de um pontapé de Garnacho que também acertou no ferro (37′) antes de tudo ficar pior.

Já nos últimos minutos antes do intervalo, Bruno Fernandes teve uma entrada muito dura sobre James Maddison e viu o cartão vermelho direto. O internacional português deixou o Manchester United reduzido a dez elementos durante toda a segunda parte, naquela que foi a primeira vez na carreira em que foi expulso com vermelho direto, e Erik ten Hag ainda teve outra contrariedade ao ser forçado a lançar Mason Mount por problemas físicos de Kobbie Mainoo.

O treinador neerlandês voltou a mexer logo no arranque da segunda parte, procurando fortalecer o meio-campo com Casemiro e sacrificando Zirkzee, mas voltou a acontecer o pior. Logo nos primeiros instantes depois do intervalo, Brennan Johnson arrancou na direita sem qualquer oposição, cruzou e beneficiou de um desvio em De Ligt para assistir Kulusevski na perfeição, com o sueco a saltar de forma acrobática para aumentar a vantagem na cara de André Onana (47′).

O Tottenham nunca deixou de ter o controlo das ocorrências, apesar de o Manchester United ter tido um período mais pressionante e intenso à passagem da hora de jogo, e ainda aumentou a vantagem com um desvio de Solanke na sequência de um canto na direita (78′). Os spurs venceram os red devils em Old Trafford, com a equipa de Erik ten Hag a somar a segunda partida consecutiva sem ganhar e a ficar desde já a oito pontos da liderança da Premier League — e muito graças a Brennan Johnson, que fez esquecer a lesão de Son e marcou pelo quarto encontro seguido.