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Hiper-pop, psicadelismo e um deus selvagem: seis discos de setembro para ouvir do princípio ao fim

Uma lista que inclui um ou outro nome mais conhecido, mas também uma data de desconhecidos do grande público – nada de medos, um desconhecido só o é até perdermos algum tempo a conhecê-lo.

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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

Não, não vamos falar do soberbo Manning Fireworks, de MJ Lenderman, e não, não vamos falar de My Method Actor, de Nilüfer Yanya, porque sobre estes dois gloriosos álbuns já gastámos muitos caracteres este mês, ambos com direito a texto próprio. Para quem não leu, segue um breve resumo: Manning Fireworks é um espantoso exercício alt-folk (ou alt-country, se quiserem), repleto de riffs inesquecíveis e de melodias que parecem vir do início dos tempos, simultaneamente desafiante e reconfortante; My Method Actor é a chegada de Nilüfer Yanya âà idade adulta, já sem depender do ruído das guitarras e capaz de soar num minuto a Sade e no outro aos Cure.

Vamos antes aproveitar a ocasião para falar daqueles discos que, tendo sido editados neste mês que passou, por uma ou outra razão não tiveram direito ao devido destaque. Pelo que nada de perder tempo, vamos já ao assunto que nos traz aqui: os grandes discos de setembro de que nos esquecemos de falar, incluindo um ou outro nome mais conhecido, mas também uma data de desconhecidos do grande público – nada de medos, um desconhecido só o é até perdermos algum tempo a conhecê-lo.

“Imaginal Disk”

Magdalena Bay

Um amigo encontrou a melhor definição para Imaginal Disk, disco hiper-pop dos Magdalena Bay: isto é gente que venera o Brian Eno e o Max Martin ao mesmo tempo – que é como quem diz que têm tanto fascínio pela experimentação como pela pop perfeita. Esse lado hiper-pop nota-se logo à primeira faixa, She Looked Like Me!, em que tudo é grandioso e explosivo (e não há nenhuma razão para isto não explodir e não trepar as tabelas de vendas por aí acima).

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Mas onde Imaginal Disk se revela extraordinário é ali a meio, quando chegamos à tríade Death & Romance, Vampire in the Corner Fear, Sex — esta parte de um simples jogo de teclado, com toalhas de violinos sintetizados em fundo para arrancar uma melodia quase r’n’b futurista que não sai dos nossos ouvidos; enquanto Vampire in the Corner começa quase como uma lullaby infantil, enquanto discretos arranjos, e depois beats variados, vão sendo adicionados e colorindo esta estranha e admirável canção, que demora dois minutos e meio a explodir em glória. A pop é tão mais bela quanto mais estranha for.

“Free Energy”

Dummy

Desde a excelente batida da primeira canção, Intro-UB, que percebemos que Free Energy vai ser um belíssimo disco de pop psicadélica e dançável que não tem medo de lançar mão a tudo o que dê jeito para levar a bom porto uma canção. E quando dizemos “tudo o que dê jeito” é mesmo tudo: num momento estamos a navegar pelo shoegaze mais ruidoso, noutro passeamos por ambientes mais jazzy e a eletrónica está por todo o lado – é como se esta malta tivesse resolvido condensar toda a discografia dos Stereolab num só disco.

E por falar em Stereolab, a influência deles é notória, pelo menos em faixas como a ótima Soonish. Não são a única influência: aqui e ali lembramo-nos dos My Bloody Valentine ou dos Death in Vegas ou dos Disco Inferno, consoante se pende mais para o ruído de guitarra, para o ruído eletrónico ou para a batida. Poucos discos são tão honestos no título: Free Energy é uma injeção de adrenalina psicadélica como já não se pratica há muito.

“Alligator Bites Never Heal”

Doechii

O que é que faz um tipo que não é especialista em hip-hop, e para quem o instrumental é (mesmo) muito importante, de modo a encontrar discos de hip-hop que lhe agradem? Simples: segue os conselhos dos amigos quando lhe dizem “vais adorar isto”. E isto pode ser DENIAL IS A RIVER, a quarta faixa de Alligator Bites Never Heal, em que Doechii confessa que gosta de festas e de drogas “and I like to fuck”, sobre um beat que consiste num par de acordes de sintetizador, repetidos com um groove danado.

Para que ninguém tenha dúvidas do talento que para aqui vai, a canção seguinte, CATFISH, tem um beat simples mas que se faz sentir e rapanço com uma pinta do outro mundo, daquele que fica a moer nas entranhas. Doechii não é exatamente uma desconhecida (já teve um single de platina com What It Is (Block Boy) e Alligator Bites Never Heal é, oficialmente, “apenas” uma mixtape e não um disco oficial, mas isto é bom demais para ser deixado na prateleira: se não conhecem, corram a ouvir – não vai haver pinga de arrependimento.

“Triple Seven”

Wishy

Talvez seja avisado andarem de bem com a vizinhança, se quiserem apreciar Triple Seven como merece ser apreciado: com o amplificador no 11. É um festival de ruído de guitarras, não muito afastado do proporcionado outrora pelos My Bloody Valentine, que claramente são uma influência dos Wishy – que aqui assinam um dos discos de guitarras mais divertidos dos últimos tempos. Mais: Triple Seven faz todo o sentido num momento em que se vive uma espécie de revivalismo do shoegaze, mas não vale apenas como objeto sob influência, tem as suas próprias armas de sedução.

Game é uma descarga de eletricidade capaz de esvaziar uma barragem, Spit faz faísca em cada compasso, graças a um daqueles riffs do tamanho do mundo (que podiam muito bem ter sido platina na era do grunge). Por vezes o volume sonoro diminui marginalmente, deixando-nos apreciar a beleza da escrita das canções – como em Busted, que recorda um pouco os Strokes, ou em Busted, em que é inevitável lembrarmo-nos de Blinda Butcher, dos My Bloody Valentine. Para os devotos das guitarras não há nada que saber: este é o disco que vos fará ficar de más relações com os vizinhos.

“Woodland”

Gillian Welch & David Rowlands

E depois do noise puro, a acalmia e o regresso às origens. Gillian Welch e David Rowlands são um casal, e partilham um estúdio de gravação, que sucumbiu a um incêndio há uns anos. Por norma, Rowlands produz Welch, que é considerada uma figura quase lendária da cena folk americana e, em certa medida, uma purista. Woodland está cheio de voltinhas bluesy, de slide-guitars, de órgãos hammond e daquelas melodias que imediatamente associamos à música americana de raízes – e não falha uma canção, um arranjo que seja.

Welch e Rowlands, por esta altura, sabem tudo sobre como criar uma canção e fazer um grande disco é mais uma questão de estarem inspirados do que um sacrifício imenso. Enumerar as grandes canções de Woodland seria listar as canções do álbum: podemos até destacar as cordas de What we had, ou a simplicidade rural de North country, mas Woodland não é um objeto para escutar em separado – é um disco à antiga, para apreciar com um whiskey na mão e as persianas baixas.

“Wild God”

Nick Cave

Não sei se Nick Cave acredita num Deus interventivo, mas tendo em conta tudo o que lhe aconteceu nos últimos anos (como perder dois filhos) talvez seja melhor que não acredite: como se pode manter a fé por um ser aparentemente tão arbitrário? Só Nick Cave poderá responder a essa pergunta – o que conhecemos são apenas os atos: fazer concertos a solo, só com piano, de uma intimidade quase impossível, editar discos – como Ghosteen ou Carnage – sombrios como o demo.

Wild God marca uma mudança sonora brutal face aos últimos álbuns: há os característicos coros e as proverbiais explosões que conhecemos em Nick Cave, mas o rácio de acordes menor por compasso diminuiu consideravelmente. Há algo de libertação em Wild God, como se Cave tivesse finalmente voltado a respirar. E o estranho é que mesmo para quem prefere o Cave furioso este novo Cave é um altíssimo upgrade ao profeta moribundo dos últimos tempos.

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