O julgamento de quatro jornalistas russos, acusados de terem colaborado com a organização classificada “extremista” do opositor do regime de Putin falecido na prisão Alexei Navalny, começou esta quarta-feira em Moscovo, num contexto de repressão exacerbada no país.

O movimento de Navalny, o principal opositor do Presidente Vladimir Putin até à sua morte sob detenção em fevereiro, foi metodicamente reprimido nos últimos anos, e os seus aliados e apoiantes foram para o exílio.

A justiça russa tem agora como alvo colaboradores menos diretos e, em setembro, colocou no banco dos réus três advogados que defenderam Alexei Navalny. Assim como, desde esta quarta-feira, quatro jornalistas acusados de terem trabalhado para a sua organização anticorrupção (FBK) foram classificados como “extremistas” e banidos em 2021.

Este caso diz respeito à fotojornalista Antonina Kravtsova, que trabalhou sob o nome de Antonina Favorskaïa e cobriu com muita regularidade os julgamentos de Alexei Navalny para a SOTAvision, um dos últimos meios de comunicação social a documentar a repressão da própria Rússia.

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Em 15 de fevereiro, ela filmou o último vídeo que mostrava Alexei Navalny ainda vivo durante uma audiência, um dia antes de sua morte numa prisão no Ártico.

Foi detida em 17 de março, poucas horas depois de colocar flores no túmulo de Navalny. E, depois de passar 10 dias detida, foi presa novamente assim que saiu da prisão.

Em declarações aos media, antes do início do julgamento, Antonina Kravtsova disse: “Lembrem-se, a escuridão que nos rodeia não durará para sempre. Sempre há esperança”. “Quero acreditar que veremos o país com que Alexei (Navalny) sonhou”, rematou.

Outros dois arguidos são os repórteres Sergei Karelin e Konstantin Gabov, acusados de participar na criação de vídeos para a equipa de Navalny. O primeiro já colaborou com a agência Reuters e o segundo com a Associated Press (AP).

O quarto acusado é Artiom Krieger, jornalista da SOTAvision também acusado de ter colaborado com o FBK. Anteriormente, foi detido por oito dias em setembro de 2022, após ser preso enquanto cobria uma manifestação contra a mobilização militar.

Não brinquem com o destino. Deixem a Rússia”, disse aos jornalistas, acrescentando que “qualquer pessoa pode acabar na prisão por qualquer motivo”.

Artiom Krieger é sobrinho de um opositor ao conflito na Ucrânia e crítico de Vladimir Putin, Mikhail Kriger, condenado em 2023 a sete anos de prisão por “apologia ao terrorismo” e “incitação pública ao extremismo” na Internet.

Acusados de “extremismo”, os quatro jornalistas enfrentam até seis anos de prisão.

As autoridades russas aumentaram a pressão sobre os últimos meios de comunicação independentes e estrangeiros na Rússia nos últimos meses, num contexto de repressão generalizada de vozes críticas à ofensiva na Ucrânia lançada em fevereiro de 2022.

Vários jornalistas russos receberam penas pesadas nos últimos anos por diversas acusações.

Em julho, a justiça russa também condenou um repórter estrangeiro, Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, a 16 anos de prisão por acusações de “espionagem” que ele refuta. Foi libertado em agosto como parte de uma grande troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente.

Três dos advogados de Alexei Navalny, Alexei Liptser, Igor Sergunin e Vadim Kobzev, estão atualmente a ser julgados na Rússia sob a acusação de “extremismo”.