A Noruega trouxe um balde de água gelada que acabou com a margem de erro. O FC Porto foi surpreendido pelo Bodø/Glimt na primeira jornada da Liga Europa, num jogo em que Vítor Bruno procurou gerir a equipa, e escorregou desde logo com um dos adversários onde os três pontos pareciam garantidos. As candidaturas a uma presença na final tornaram-se mais tímidas — mas o objetivo mantinha-se. 

Até porque o FC Porto, de forma bastante genérica, está bem. Os dragões só perderam no Campeonato com o Sporting, somando seis vitórias nas seis jornadas restantes, e mantêm uma distância de três pontos para a liderança leonina que não permite à equipa de Rúben Amorim estar demasiado descansada. Na Liga Europa, porém, a história foi diferente — e poderá ter motivado um graffiti feito nos últimos dias, nas imediações do Estádio do Dragão, de crítica a Vítor Bruno e nostalgia em relação a Sérgio Conceição. Mas o treinador até recorria à música para desvalorizar o ato de vandalismo.

Ficha de jogo

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FC Porto-Manchester United, 3-3

Fase da liga da Liga Europa

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Tobias Stieler (Alemanha)

FC Porto: Diogo Costa, João Mário (Grujic, 77′), Zé Pedro, Nehuén Pérez, Francisco Moura, Alan Varela (Danny Namaso, 90+2′), Stephen Eustáquio (Fábio Vieira, 77′), Pepê (Martim Fernandes, 63′), Nico González, Galeno, Samu (Deniz Gül, 77′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Tiago Djaló, Vasco Sousa, Iván Jaime, André Franco, Gonçalo Borges, Rodrigo Mora

Treinador: Vítor Bruno

Manchester United: Onana, Mazraoui, De Ligt (Harry Maguire, 79′), Lisandro Martínez (Jonny Evans, 79′), Diogo Dalot, Casemiro, Eriksen, Bruno Fernandes, Amad Diallo (Antony, 68′), Rashford (Alejandro Garnacho, 45′), Højlund (Joshua Zirkzee, 68′)

Suplentes não utilizados: Altay Bayindir, Tom Heaton, Lindelöf, Manuel Ugarte, Toby Collyer, Daniel Gore

Treinador: Erik ten Hag

Golos: Rashford (7′), Højlund (20′), Pepê (27′), Samu (34′ e 50′), Harry Maguire (90+1′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Samu (31′), a Bruno Fernandes (32′ e 81′); cartão vermelho por acumulação a Bruno Fernandes (81′)

“Não me apetece dizer nada, não comando o que se passa na cabeça das outras pessoas. Houve mais paredes destinadas a mim do que ao presidente. Olhando para o presidente, pelo caráter competitivo com que encara tudo, para mim pode ser mau porque pode ficar eventualmente melindrado por sentir que estou à frente dele nesse capítulo. Depois, é andar para frente. Isto é para quem tem andamento. Só conheço uma pessoa de sucesso que deu passos para trás… O Michael Jackson. Posso não ser um grande treinador, mas sou melhor do que cantor ou dançarino. Temos de olhar em frente e fazer o FC Porto ganhar e no final do ano fazer contas. A partir daí é o que é. Há entregas da Glovo que aparecem de forma mais célere ainda do que aquilo que aconteceu aqui”, atirou, de forma irónica, o técnico dos dragões.

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Era neste contexto que, esta quinta-feira, o FC Porto procurava conquistar os primeiros pontos na Liga Europa contra o Manchester United. No Dragão, Vítor Bruno fazia apenas uma alteração face à equipa que venceu o Arouca no fim de semana, trocando Vasco Sousa por Stephen Eustáquio, e mantinha Galeno e Pepê no apoio a Samu (e Otávio fora das opções). Do outro lado, nuns red devils que empataram com o Twente na primeira jornada e que estão a realizar um dos piores arranques de temporada de sempre, o pressionado Erik ten Hag apostava em Diogo Dalot e Bruno Fernandes no onze e tinha Højlund como referência ofensiva, sendo que Casemiro também era titular e reencontrava-se com os dragões.

O FC Porto começou melhor, precisando de meros segundos para expor as fragilidades defensivas do Manchester United. Samu rematou contra Mazraoui nos instantes iniciais (1′) e Galeno obrigou Onana a uma defesa atenta com um pontapé de fora de área (2′), ficando claro que os ingleses pouco ou nada conseguiam fazer quando os dragões conseguiam explorar a profundidade nas costas da defesa adversária através da explosão dos próprios avançados. Ainda dentro dos primeiros dez minutos, porém, a maré foi contrariada.

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Na primeira situação em que se aproximou da baliza de Diogo Costa, o Manchester United abriu o marcador. Rashford recebeu de Eriksen no corredor esquerdo, acelerou quase sem oposição e passou por João Mário e Eustáquio para depois atirar rasteiro já na área, abrindo o marcador (7′). O FC Porto reagiu por intermédio de João Mário, que rematou por cima num lance de insistência (14′), mas tudo ficaria pior pouco depois: novamente pela esquerda, Eriksen soltou Rashford, o inglês assistiu Højlund e o avançado também atirou rasteiro, com Diogo Costa a tocar ainda na bola sem conseguir evitar o dilatar da vantagem (20′).

À passagem dos primeiros 20 minutos, o FC Porto estava a perder no Dragão de forma manifestamente injusta, já que estava por cima do jogo e só podia queixar-se da própria ineficácia e da eficácia inglesa — que tinha o seu expoente na ala esquerda, onde João Mário, com pouca ajuda de Pepê, ia tendo muitas dificuldades para travar um inspirado Rashford. Ainda assim, a primeira parte ainda tinha muito para contar.

Ainda antes da meia-hora, recuperando alguma justiça no resultado, Pepê aproveitou um cabeceamento de Samu que Onana defendeu para a frente para desviar na recarga e reduzir a desvantagem (27′). Sete minutos depois, o mesmo Samu apareceu a cabecear na pequena área, antecipando-se a De Ligt e na sequência de um cruzamento de João Mário na direita, para marcar pelo quinto jogo consecutivo e empatar (34′). Ao intervalo, estava tudo empatado no Dragão.

Erik ten Hag mexeu logo ao intervalo e tirou Rashford, que estava a ser o melhor elemento do Manchester United e antecipando-se uma eventual lesão do avançado inglês, para lançar Alejandro Garnacho. Ainda assim, a primeira situação de perigo da segunda parte pertenceu mesmo ao FC Porto, com Francisco Moura a aparecer quase isolado na esquerda e a rematar rasteiro para uma defesa importante de Onana (47′). Pouco depois, porém, não foi apenas um aviso.

Pepê acelerou na direita, depois de um passe muito inteligente de Nico, e colocou rasteiro na área; Samu, novamente à frente de De Ligt, atirou forte e de primeira para bisar e carimbar a reviravolta dos dragões (50′). O Manchester United procurou reagir, com Garnacho a atirar de fora de área para Diogo Costa encaixar (58′) e Mazraoui a obrigar o guarda-redes a uma defesa apertada (62′), mas o FC Porto parecia ter as ocorrências controladas e nunca era apanhado em desorganização defensiva ou descompensação posicional.

Vítor Bruno mexeu pela primeira vez à passagem da hora de jogo e demonstrou clara preocupação com o que Garnacho podia fazer na esquerda, trocando Martim Fernandes por Pepê, colocando o jovem lateral na direita da defesa e João Mário mais adiantado no corredor. Erik ten Hag respondeu com Antony e Zirkzee, num all in ofensivo, mas os ingleses continuavam desinspirados e não conseguiam criar verdadeiras situações de perigo à exceção de remates de meia-distância, como aconteceu com Bruno Fernandes (70′).

Já dentro dos últimos dez minutos, quando Vítor Bruno já tinha lançado Deniz Gül, Fábio Vieira e Grujic para procurar ter alguma bola, Bruno Fernandes viu o segundo cartão amarelo e foi expulso pelo segundo jogo consecutivo, deixando os ingleses em inferioridade numérica para a ponta final da partida. Um inferioridade numérica que não fez diferença nos descontos, quando Eriksen cobrou um canto na direita e Harry Maguire fez exatamente aquilo para que tinha entrado, cabeceando para bater Diogo Costa e empatar (90+1′). 

FC Porto e Manchester United empataram no Dragão e continuam ambos sem ganhar na Liga Europa, sendo que os dragões somam apenas um ponto em duas jornadas na competição europeia. Num dia que chegou a parecer épico, com a reviravolta alcançada depois de ter dois golos de desvantagem, Vítor Bruno bem falou em Michael Jackson — mas só teve mesmo o thriller.