Ayamoussa Sacadura tem 23 anos e vivia há oito no Líbano e esta sexta-feira, à chegada a Lisboa, em fuga da guerra que opõe Israel ao movimento xiita Hezbollah, considerou que “ninguém deveria passar pelo que se passa” naquele país.
Nascida no Brasil e neta de uma portuguesa, Ayamoussa Sacadura preparava-se para iniciar o último ano do curso de Design Gráfico na faculdade, mas a escalada da guerra trocou-lhe as voltas e esta sexta-feira, na companhia de mais cinco familiares, agradece a Portugal o ter-lhes permitido sair com vida do Líbano.
Ayamoussa Sacadura veio no segundo voo de retirada de cidadãos portugueses que pediram para saírem do Líbano, na sequência do conflito espoletado por Israel no passado dia 23 de setembro com uma campanha de intensos bombardeamentos contra o movimento xiita libanês Hezbollah no sul e no leste do Líbano, mas também nos subúrbios sul da capital, Beirute.
Esta campanha ocorre após mais de 11 meses de intenso fogo cruzado na fronteira israelo-libanesa, iniciados um dia depois de o movimento islamita palestiniano Hamas — de que o Hezbollah é aliado — ter efetuado em território israelita, em 7 de outubro, um ataque que fez cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.
A escalada da violência entre Israel e o Hezbollah tem levado milhares de pessoas a abandonar o Líbano.
O primeiro grupo, de 44 pessoas, chegou a Lisboa, igualmente em voo operado pela FAP, no passado dia 28.
A família de Ayamoussa vivia em Joub Jannine, capital do Distrito Ocidental de Bekaa e saíram hoje às 7h00 locais (5h00 em Lisboa) de Beirute, trazendo consigo apenas duas malas de 30 quilos cada.
À chegada a Lisboa, em declarações à imprensa, Ayamoussa diz que conseguiram trazer duas malas de 30 quilos. “O que é bastante coisa, mas não quando se trata de uma vida inteira, sabe? Nós trouxemos em maior parte roupas porque a gente achou que seria o necessário, o mais importante no momento. E eu lembro que era uma sensação de ‘eu preciso disso agora ou eu posso comprar isso depois se eu tiver a chance'”, descreve.
Esforçando-se por não chorar, Ayamoussa acrescenta que trouxe consigo “algo muito importante”. “Eu trouxe comigo, de importante para mim, foram álbuns de fotos, mas eu também tive que deixar vários para trás. Então eu tirei fotos no meu telefone para me poder lembrar de novo num futuro próximo”, salienta.
Na descrição que faz, chega a repetir três vezes o quão grata está a Portugal por permitir sair de um cenário de guerra e destruição que, volta a reiterar, “ninguém deveria ter de passar“.
Ayamoussa considera que desta vez o conflito entre Israel e o Hezbollah é muito pior que 2006. “É uma aflição que ninguém deveria passar. Pela primeira vez em anos a minha cidade foi acertada por um míssil na semana que se passou, o que nunca tinha acontecido antes, então foi uma surpresa para todos nós. A gente ainda tinha uma certa segurança lá até essa semana que se passou e essa segurança foi completamente destruída com esse ataque”, lamenta.
“Eu lembro que nós simplesmente saímos correndo de casa por causa do barulho. Eu e os meus irmãos mais novos. Eles têm oito anos e 14. E eu lembro de segurar eles, chorando nos meus braços porque nenhuma criança deveria passar por isso”, defende.
Quanto a planos para o futuro, Ayamoussa diz que não se importava de voltar para o Brasil, mas a mãe prefere ficar em Portugal, mas a esperança que têm é que o conflito no Líbano acabe rapidamente para regressar.