“Não, não recebi nenhuma ameaça”. As palavras foram ditas por Alejandro Arcos, presidente da câmara de Chilpancingo, no sul do México, na passada sexta-feira, um dia depois de o seu secretário, Francisco Tapia, ter sido morto a tiro. Dois dias depois, no domingo, Arcos foi assassinado e encontrado decapitado dentro de uma carrinha, relata a imprensa mexicana.
O homicídio de Arcos, de 43 anos, foi avançado depois de duas imagens terem circulado em grupos de mensagens no Whatsapp. Na primeira, via-se um corpo decapitado coberto com uma manta dentro de uma carrinha. Na segunda, uma cabeça, que parecia ser o autarca, pousada no capô. Pouco depois, as autoridades confirmaram que o presidente da câmara tinha sido assassinado.
Tapia, secretário do novo governo local, foi baleado três dias antes. Numa entrevista a uma rádio local no dia seguinte ao homicídio, Arcos respondia a uma questão sobre se tinha recebido ameaças que pudessem prever que também seria um alvo. “Não, não recebi nenhuma chamada, mensagens ou propostas até agora, nem recebi nenhum tipo de ameaças”, respondeu o recém-eleito autarca, citado pelo Infobae. Olhando para a sua carreira, o site destacou o seu trabalho comunitário junto da população local, mesmo antes de ter ingressado na vida política e ter sido eleito para a Câmara Municipal este verão.
As autoridades não revelaram detalhes sobre nenhuma das investigações ou suspeitos para qualquer um dos homicídios. Porém, a BBC adianta que Guerrero é um dos Estados mais afetados pelo tráfico de drogas e pela violência perpetrada por cartéis, crimes que se refletem muitas vezes em casos de corrupção e homicídios com motivações políticas. Ao longo do último ano, a caminho das eleições locais, seis candidatos a cargos políticos foram assassinados no Estado. A estes, somam-se agora as mortes de Arcos e Tapia. Chilpancingo, uma cidade com 280 mil habitantes, fica numa rota de tráfico de droga do Pacífico e há anos que é palco de lutas entre dois gangues.
Condeno de manera enérgica el homicidio del Presidente Municipal de Chilpancingo, Alejandro Arcos Catalán, hecho que la Fiscalía General del Estado ha confirmado, dando inicio a las investigaciones pertinentes para su esclarecimiento y para llevar a los responsables ante la…
— Evelyn Salgado Pineda (@EvelynSalgadoP) October 7, 2024
Nas redes sociais, as reações ao crime, multiplicaram-se. “A sua perda põe de luto toda a sociedade de Guerrero e enche-nos de indignação”, escreveu no X a governadora estatal, Evelyn Salgado, prometendo intensificar as operações de vigilância e segurança na cidade.
O partido de Arcos, o PRI, também condenou o homicídio e apelou ao fim “da violência e impunidade” para “crimes cobardes”, assim como o Senador Alejandro Moreno, presidente do partido. “Funcionários jovens e honestos, que procuravam o progresso da sua comunidade”, escreveu Moreno, pedindo ao Ministério Público mexicano que assuma as investigação dos dois homicídios, devido “à situação de ingovernabilidade em Guerrero“.
Han asesinado a nuestro alcalde de Chilpancingo, Alejandro Arcos, y hace apenas tres días al secretario de este mismo Ayuntamiento, Francisco Tapia.
Llevaban menos de una semana en el cargo. Funcionarios jóvenes y honestos que buscaban progreso para su comunidad.
Nuestro pésame…— Alejandro Moreno (@alitomorenoc) October 7, 2024
Esta segunda-feira, a Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, garantiu que o caso já está a ser investigado e que está em cima da mesa a possibilidade de este passar para o Ministério Público. Adiantou ainda que na terça-feira será reunido o Conselho de Segurança, para apresentar uma estratégia concreta que dê resposta à questão de segurança em Chilpancingo, relata o jornal Heraldo de Mexico.
Segundo publicações nas redes sociais de Alejandro Arcos, o autarca passou os seis dias em que ocupou o cargo a coordenar as equipas de emergência e resgate, procurando dar resposta aos danos causados pela passagem do furacão John na região. No domingo, horas antes de ser morto, tinha estado em Tepechicotlán, em contacto com comunidades afetadas.