Era o emprego com que sempre sonhara. Aos 22 anos, a britânica Tizi Hodson encheu-se de esperança e candidatou-se a um anúncio que recrutava motociclistas. Mas, como acontece com muitas candidaturas um pouco por todo o mundo, a resposta nunca chegou. Até 2024. O mais curioso é que passaram quase 50 anos desde que Hodson, atualmente reformada, enviou a candidatura por correio, em janeiro de 1976.

Agora, recebeu uma resposta, justificando a falta de feedback, durante todas estas décadas, com o facto de a carta ter estado perdida atrás de uma gaveta nos correios. “Sempre me perguntei por que nunca tive notícias sobre o trabalho. Agora eu sei porquê”, diz a mulher, hoje com 70 anos, citada pela BBC. No topo da carta recebida agora por Tizi, há uma nota manuscrita que diz que sublinha que se trata de uma “Entrega tardia pelos Correios de Staines. Apenas cerca de 50 anos atrasado”.

A mulher não sabe quem enviou a carta nem como descobriu a sua atual morada — uma tarefa difícil, uma vez que, ao longo de quase meio século, mudou de casa (e até de país) várias vezes. “Como me encontraram, quando mudei de casa 50 vezes, e até mudei de país quatro ou cinco vezes, é um mistério”, confessou Hodson, natural de Gedney Hill, na região britânica de Lincolnshire, no leste de Inglaterra.

A carta que se ‘perdeu’ no tempo por 71 anos

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Ainda assim, a mulher diz-se feliz por ter a carta de volta e garante que se recorda do momento em que redigiu, numa máquina de escrever, a candidatura ao seu emprego de sonho. “Significa muito para mim tê-la de volta todo este tempo depois. Lembro-me muito claramente de estar sentada no meu apartamento em Londres a redigir a carta”, contou Hodson, que confessa que, durante algum tempo esperou ansiosamente pela resposta à candidatura. ”

Todos os dias eu procurava na caixa do correio, mas não havia nada lá e fiquei tão desapontada, porque eu queria mesmo ser motocislista”, confessa, acrescentando que fez de tudo para que a carta não transparecesse o facto de ser mulher — o que poderia prejudicar as hipóteses de ser escolhida para o emprego. “Eu até, de forma estúpida, lhes disse que não me importava com o número de ossos que poderia partir, pois estava habituada a isso”.

No entanto, a falta de resposta da empresa que contactou não desmotivou Tizi Hodson que acabou por sair do Reino Unido para trabalhar em África e chegou a ser piloto — mas de aeronaves. Foi também instrutora de voo e trabalhou com animais.

Olhando para trás quase 50 anos, Tizi Hodson garante que faria tudo de novo. “Se eu pudesse falar com o meu eu mais novo, dir-lhe-ia para fazer tudo o que eu fiz. Passei momentos maravilhosos na vida, mesmo que tenha partido alguns ossos”.