A economia portuguesa deverá terminar o ano de 2024 com um crescimento de 1,6%, estima o Banco de Portugal, que em junho tinha apontado para uma expansão mais favorável da economia (2%). Parte desta revisão está relacionada com uma alteração das séries de dados usados pelo INE, explica o Banco de Portugal, que também passou a apontar para uma aceleração mais fraca da economia no próximo ano: a anterior previsão de 2,3% era uma das mais otimistas mas, nesta terça-feira, o Banco de Portugal cortou a projeção de crescimento em 2025 para 2,1%.

Os dados estão no Boletim Económico de outubro, um relatório onde o Banco de Portugal atualiza, trimestralmente, as previsões macroeconómicas. O supervisor explica que, “face às projeções divulgadas em junho, as projeções atuais incorporam as novas séries de contas nacionais anuais e trimestrais para o período 1995 a 2024 (até ao segundo trimestre), tendo como referência o ano de 2021, que substitui a anterior base 2016”.

Estas novas séries “incorporam nova informação de base relevante e melhorias metodológicas”, explica o supervisor financeiro referindo-se a um efeito que já tinha sido explicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) há algumas semanas.

Economia cresceu um pouco mais em 2022, 2023 (e 2024, até agora) com nova base de cálculo do INE

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As novas previsões foram apresentadas nesta terça-feira por Mário Centeno, em conferência de imprensa na sede do Banco de Portugal, em Lisboa. O governador do Banco de Portugal destacou, também, um outro indicador que está no boletim económico que diz respeito à taxa de poupança, que deverá superar os 11% (do rendimento disponível), um valor historicamente elevado em Portugal num contexto de crescimento económico.

O boletim inclui “uma revisão em alta da poupança das famílias, que deverá situar-se acima de 11%”. “São valores mais elevados do que tínhamos antes da pandemia, num momento positivo do ciclo económico, de descida das taxas de juro, é o momento de as famílias constituírem poupanças como as que foram muito úteis” no passado recente, diz Mário Centeno.

A Europa viveu um período inflacionista – que “não foi tão temporária quanto queríamos mas foi um fenómeno temporário” – e aí “foi essencial o papel da poupança que existia, para enfrentar um período difícil da economia nacional e europeia”. Agora, “é o momento de todos reconstruirem as almofadas financeiras para o futuro“, sublinha o governador do Banco de Portugal.

Atividade tem estado “mais fraca” mas prevê-se uma “aceleração” no final do ano

O Banco de Portugal, que tinha uma das projeções mais otimistas entre as principais instituições, passou a prever uma aceleração menos pronunciada da economia nacional. “A atividade económica em Portugal deverá crescer 1,6% em 2024, 2,1% em 2025 e 2,2% em 2026” e, por outro lado, “a inflação deverá reduzir-se para 2,6% em 2024 e fixar-se em valores consistentes com a estabilidade de preços nos anos seguintes”, afirma o Banco de Portugal.

O supervisor reconhece que “a evolução recente da atividade foi mais fraca do que o esperado” mas “projeta-se uma aceleração no final do ano“. O crescimento em cadeia (trimestre a trimestre) do PIB “reduziu-se no segundo trimestre, para 0,2%, após um início do ano dinâmico (0,6%)”.

Olhando para a frente, o Banco de Portugal antecipa que “o dinamismo do rendimento disponível continuará a refletir uma evolução favorável do mercado de trabalho, com aumento do emprego e dos salários, e o impacto das medidas orçamentais”, prevê o supervisor, acrescentando que “a transição gradual para taxas de juro mais baixas e as entradas de fundos europeus apoiarão um maior crescimento do investimento”.

Por outro lado, “a procura externa dirigida à economia portuguesa acelera no horizonte de projeção, mas a evolução das exportações é condicionada pelo esgotamento do impulso da recuperação pós–pandemia dos serviços, em particular dos associados ao turismo”, acautela o supervisor liderado por Mário Centeno.

Em plena negociação do Orçamento do Estado para 2025, o supervisor liderado por Mário Centeno, salienta, quanto à política orçamental, que “a sua orientação expansionista em todos os anos do horizonte de projeção, num contexto em que o PIB se encontra acima do seu potencial, gerará a necessidade de um ajustamento posterior numa fase menos favorável do ciclo económico”.”Assim, a redução sustentada do rácio da dívida pública não deverá abrandar o ritmo, pois representa um elemento fundamental para a estabilidade macroeconómica e para o crescimento das gerações presentes e futuras”, termina o Banco de Portugal.

Garantia pública no crédito “protege os bancos, não protege as pessoas”, diz Centeno