Era uma despedida anunciada, mas nem por isso deixou de ser menos emocionante. Aos 40 anos, Andrés Iniesta confirmou esta terça-feira o fim da carreira, deixando definitivamente os relvados depois de passagens pelo Japão e pelos Emirados Árabes Unidos após 22 anos de Barcelona. Um dos melhores de sempre, o melhor de sempre que não chegou a ser Bola de Ouro, pendurou as botas.

Numa conferência de imprensa previamente agendada no America’s Cup Experience em Port Vell, Barcelona, o antigo internacional espanhol anunciou o fim da carreira rodeado de amigos, companheiros e família. O dia, naturalmente, não foi ao acaso: 8 de outubro, o oito que usou nas costas durante praticamente toda a carreira e que se tornou uma imagem de marca.

“Obrigada por estarem aqui. Também a todos aqueles que não conseguiram estar. Suponho que permitam que me emocione hoje. Nunca pensei…”, começou por dizer, sem esconder as lágrimas, que motivaram a primeira ovação da manhã. “Nunca pensei que este dia chegaria, mas todas as lágrimas destes dias são lágrimas de emoção, de orgulho. Não são de tristeza. São lágrimas daquele miúdo que tinha o sonho de ser jogador. E consegui, conseguimos. Com muito sacrifício e muito esforço. E sem que nunca me tenha rendido. Valores imprescindíveis da minha vida. Sinto-me muito orgulhoso desse caminho. Sinto-me muito feliz por ter conseguido alcançar esse sonho, ser jogador”, continuou Iniesta.

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A conferência de imprensa contou naturalmente com a presença da família do jogador, a mulher, o pai e os três filhos, mas também de várias figuras ligadas ao futebol. Xavi, Piqué, Sergi Roberto e Belletti estiveram presentes, mas também elementos do atual plantel do Barcelona, como Gavi, Dani Olmo, Ansu Fati e Ronald Araújo, e o treinador Hansi Flick. Joan Laporta e Deco estavam nas primeiras filas e o Real Madrid fez-se representar por Emilio Butragueño. Uma das presenças mais emocionantes, porém, foi a do pai de Dani Jarque, o antigo jogador do Espanyol que morreu em 2009 vítima de ataque cardíaco e que era amigo próximo de Iniesta.

Na verdade, toda a manhã foi mais do que uma conferência de imprensa, com o jogador espanhol a servir de autêntico mestre de cerimónias ao longo de uma viagem por toda a carreira. Com Iniesta a intercalar cada momento com um breve comentário, ouviu-se o testemunho do primeiro treinador, algumas palavras da família, memórias de La Masia e declarações de Luis Enrique, Louis van Gaal, Vicente del Bosque e Pep Guardiola.

“O futebol acaba nesta etapa. O jogo continua… Não posso estar muito longe do futebol, foi a minha vida e vai continuar a ser. Estamos a trabalhar em diferentes projetos. Neste passo seguinte tenho a motivação para continuar a formar-me fora do futebol, mas da mesma maneira. Necessito de aprender, de cometer erros, de me formar. No projeto dos clubes que temos, nas academias, que são um legado que quero manter. E já comecei o curso de treinador. Todos os que me conhecem sabem que sou muito teimoso, espero fazer um grande trabalho não a correr atrás da bola, mas do outro lado”, explicou o antigo médio do Barcelona, sem dar grandes pormenores sobre timings ou aquilo que vai verdadeiramente fazer nos próximos tempos.

“Tenho muita vontade de tudo. Se existe uma palavra que pode resumir esta etapa, essa palavra é ‘orgulho’. Orgulho de ter lutado até ao último dia. O resto é história: títulos, derrotas, momentos maus… Mas o orgulho e o facto de nunca me ter rendido é o que me faz ser feliz. Tenho pena, porque teria jogado até aos 90 anos, mas estou feliz por ter concretizado o sonho de ser jogador”, acrescentou, agradecendo de forma mais particular aos pais, à mulher e aos filhos.

As homenagens a Iniesta, porém, começaram ainda nas primeiras horas do dia, com Lionel Messi a assinalar o fim da carreira do antigo colega de equipa. “Um dos companheiros com mais magia e um daqueles com quem mais gostei de jogar. Andrés Iniesta, a bola vai sentir a tua falta e todos nós também. Desejo-te as maiores felicidades, és um fenómeno”, escreveu o argentino nas redes sociais.

Também o Real Madrid, para além de se ter feito representar por Emilio Butragueño na cerimónia, emitiu um comunicado a saudar a carreira de Iniesta. “Na sequência do anúncio de Andrés Iniesta sobre a sua retirada do futebol como jogador profissional, o Real Madrid, o seu presidente e a sua direção querem mostrar o seu reconhecimento, admiração e carinho a uma das grandes lendas do futebol espanhol e mundial. Contribuiu com o seu futebol e com os seus valores para engrandecer o desporto, para além dos numerosos títulos alcançados. O seu golo icónico na final do Mundial da África do Sul de 2010 vai ficar para sempre na memória de todos os adeptos espanhóis”, indicou o clube merengue.

Depois de começar a jogar no Albacete, de onde é natural, Andrés Iniesta chegou a La Masia em 1996 e com apenas 12 anos. Estreou-se na equipa principal em 2002, pela mão de Louis van Gaal, e conquistou tudo nos catalães: nove campeonatos, quatro Ligas dos Campeões, seis Taças do Rei, cinco Supertaças, duas Supertaças Europeias e três Mundiais de Clubes. Saiu em 2018 para jogar no Vissel Kobe do Japão, onde ainda ganhou três troféus, e na última temporada esteve no Emirates dos Emirados Árabes Unidos.

Na seleção de Espanha, somou 131 internacionalizações e 13 golos e conquistou o Euro 2008 e o Euro 2012 e o Mundial 2010, sendo que marcou o golo decisivo na final deste último contra os Países Baixos. Marcou ainda presença nos Mundiais de 2006, 2014 e 2018 e no Euro 2016.

O dono da bola que sempre teve o infinito escrito nas costas. Iniesta, o maior Bola de Ouro que não chegou a sê-lo