“As melhores descobertas na vida acontecem quando não se está à procura.” É assim que o fotografo da National Geographic Jimmy Chin descreve como por um mero acaso a equipa que liderava numa excursão ao Monte Evereste a propósito de um documentário descobriu uma pista sobre um mistério com mais de 100 anos: o que aconteceu a Andrew “Sandy” Irvine, um montanhista que desapareceu durante a tentativa para se tornar o primeiro homem a chegar ao topo da montanha.

Andrew Irvine foi visto pela última vez a 8 de junho de 1924 a subir a montanha ao lado do seu parceiro George Mallory. Permanece até hoje a dúvida sobre se chegaram a alcançar o pico do Evereste. O corpo de Mallory acabou por ser encontrado em 1999 por um montanhista norte-americano. O de Irvine nunca apareceu, apesar de inúmeras buscas para o encontrar, em parte porque era ele que transportava a câmara que poderia conter uma eventual derradeira prova para esclarecer se tinham ou não sido os primeiros a alcançar o topo.

Agora a equipa da National Geographic diz ter encontrado o que acredita ser o pé do montanhista, que ficou a descoberto depois de o gelo de um glaciar ter derretido. “Acho que derreteu literalmente uma semana antes de o encontrarmos”, explicou Jimmy Chin em entrevista à revista norte-americana.

Tudo aconteceu depois de a equipa — composta também pelos cineastas e montanhistas Erich Roepke e Mark Fisher — ter encontrado na montanha uma botija de oxigénio datada de 1933, nove anos depois de o desaparecimento de Irvine e Mallory. A data, lembraram-se, coincidia com uma expedição britânica, a quarta tentativa de alcançar o topo do Evareste. Uma tentativa que também acabou em fracasso, mas durante a qual foi descoberto um machado que pertencia a Andrew Irvine.

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Os elementos da National Geographic ficaram convencidos de que se o montanhista tivesse caído da face norte da montanha o seu corpo podia estar por perto. Começaram então a especular que se a botija de oxigénio tivesse caído da montanha, “provavelmente teria caído bem mais longe do que um corpo — mais como um míssil.”

Pondo em pausa os planos do documentário, a equipa começou a procurar mais pistas. Foi Erich Roepke que primeiro se apercebeu de algo na neve. Era uma bota castanha, rota e desbotada, com uma meia a espreitar para fora, no interior estava um pé. “Levantei a meia e via-se uma etiqueta vermelha com a inscrição A.C. IRVINE costurada”, revelou Chin.

“Foi um momento monumental e emocionante para nós e para toda a nossa equipa. Esperamos que isto possa finalmente trazer paz de espírito aos seus familiares e à comunidade de montanhistas”, afirmou.

A sobrinha-neta de Irvine, Julie Summers, de 64, foi uma das primeiras a ser informada da descoberta. “Eu simplesmente bloqueei … Todos tínhamos perdido a esperança de que qualquer pista sobre ele fosse encontrado“, admitiu à BBC. A família do montanhista cedeu entretanto uma amostra de ADN para ajudar a confirmar se o pé é mesmo de Irvine.

A equipa que fez a descoberta recusou avançar detalhes sobre o local em que o pé foi descoberto para desencorajar caçadores de troféus, mas está confiante de que mais pistas possam estar por perto, incluindo a câmara que Irvine transportava. “Certamente reduz a área de busca”, afiançou Jimmy Chin.