“Este é um evento meterológico que acontece uma vez em mil anos.” A procuradora-geral da Florida, a republicana Ashley Moody, destacava assim, à Fox, a singularidade do furacão Milton, que atingiu várias partes daquele estado norte-americano nos últimos dias. A responsável adjetivou o fenómeno meteorológico como “único” — e deu um exemplo: em apenas 24 horas, “registaram-se 27 tornados” na Florida.

Os dados meteorológicos mostram realmente uma situação extrema. Em São Petersburgo, uma cidade na Florida perto de Tampa, choveu com uma forte intensidade: numa hora, choveu 129 milímetros; em três horas, 230 milímetros. Numa comparação simples, choveu em três horas aquilo que deveria chover no mês de agosto, normalmente o mais chuvoso em São Petersburgo.

O furacão Milton, que chegou a terra na categoria 3 (o máximo é 5), levou a que se batessem vários recordes. Por exemplo, em São Petersburgo, uma das cidades mais afetadas pela intempérie, nunca tinha chovido tanto em 24 horas. Noutro fenómeno igualmente extremo, foram emitidos 125 alertas de tornados — o maior número de sempre no estado da Florida num dia.

Como indicou Ashley Moody, a passagem do Milton pela Florida caracterizou-se pela sua assimetria. Dito doutro modo, as regiões do oeste do estado foram fortemente afetadas, assim como algumas parte do leste. Foi um furacão que evoluiu bastante rapidamente e, por isso, tornou difícil prever quais seriam os verdadeiros impactos. Ainda que já tenha passado pelo estado e se tenha assistido a uma melhoria das condições meteorológicas esta sexta-feira, as equipas de resgate e as autoridades ainda estão a avaliar os danos e os impactos.

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A pressão e a passagem do nível 2 para a 5: porque é que o Milton foi “único”?

No domingo, os meteorologistas apontavam para uma tempestade tropical que se estava a formar no Golfo do México. Mas 24 horas depois ficaram alarmados com a rapidez e a intensidade com que evoluía. Assim, passou de ser apenas uma tempestade para um furacão com intensidade fora de comum. Para isso, contou o facto de se terem registados rajadas na ordem dos 289 quilómetros por hora por onde o Milton passava. E a pressão caiu para níveis bastante baixos: reportou-se uma pressão de 897 milibares. 

O Milton juntava-se assim à categoria de cinco furacões no Atlântico que desciam abaixo dos 900 milibares. Nesta lista, estavam apenas o Wilma e o Rita, de 2005, o Allen e o Gilbert, dos anos 80, e ainda a tempestade do Dia do Trabalhador, em 1935. Daí que os meteorologistas tivesse ficado bastante preocupados e, na terça-feira, o Milton tivesse passado à categoria mais intensa: a 5. 

Tornados, destruição e inundações. Os vídeos da passagem do Milton pela Florida

Perante estas previsões, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, veio a público alertar que se poderia tratar da “pior tempestade em cem anos”. O Chefe de Estado aconselhava às populações da Florida a abandonarem as suas residências, realçando que se tratava de uma questão de “vida ou de morte”. Os mesmos apelos foram feitos pelas agências de proteção civil e pelo governador, Ron DeSantis.

Porém, como dá conta o meteorologia e jornalista do New York Times Judson Jones, o Milton foi perdendo intensidade, por causa de uma “interação com ar frio e seco” que desviou o furacão para nordeste, quando entrou. em terra. Isso acabou por enfraquecê-lo, se bem que tenha na mesma deixado um rasto de destruição na Florida, em particular no centro e na costa oeste do estado.

Meteorologista emociona-se em direto perante dimensão do furacão Milton e causa onda de alerta. “Agradeceram-me por lhes ter salvado a vida”

O bebé que nasceu durante o Milton e o adolescente salvo em escombros

Duas histórias com o desfecho positivo marcaram a passagem pelo furacão Milton na Florida. Uma delas aconteceu com Kenzie Lewellen, que estava grávida e ficou em pânico no momento em que começou a ter contrações na madrugada de quarta-feira. “Estava muito nervosa”, confidenciou à NBC News a jovem de 22 anos, oriunda de Port Charlotte.

Mesmo assim, a mãe de Kenzie Lewellen decidiu arriscar e transportá-la para o Hospital de Sarasota. “Estava muito vento. Estávamos a ser o mais cuidadosos possíveis. Não havia muitas pessoas nas estradas, porque estava muito vento e estava a chover bastante”, lembrou a jovem. Quando chegou ao centro hospitalar, teve de se despedir da mãe e ficar apenas na companhia do namorado, Dewey Bennett.

A jovem recordou ainda que, quando foi encaminhada para uma sala no hospital, assistiu da janela à tempestade. “Dizia ao meu namorado que uma árvore que via desde a janela parecia que ia voar. E depois voou mesmo”, contou à NBC. Para complicar ainda mais a situação, houve complicações e o bebé teve de nascer de cesariana. “Havia tantas coisas na minha cabeça, uma tempestade e a minha família”, desabafou.

O bebé de Kenzie Lewellen e Dewey Bennett acabou por nascer saudável e sem problemas de saúde. E não foi o único que nasceu durante o furacão Milton — nasceram outros seis. O diretor-executivo do hospital de Sarasota, David Verinder, realçou num comunicado, citado pela NBC, que ficou “orgulhoso da equipa” médica com que trabalhou durante a intempérie. “Deixaram as suas casas e as suas famílias para estarem com os pacientes e com a sua comunidade.”

Noutra história com final feliz, após a passagem da tempestade, na quinta-feira, um jovem de 14 anos foi resgatado pelo xerife Chad Chronister, juntamente com membros da marinha norte-americana. O adolescente estava “submerso” e estava a “flutuar em destroços” quando foi salvo.