A Unidade Central Operativa da Guardia Civil Espanhola encontrou referências ao filho mais velho do Presidente da República numa troca de mensagens entre o espanhol Víctor de Aldama, ex-presidente do Zamora FC que está implicado no caso de corrupção Koldo, e o empresário do setor dos hidrocarbonetos Claudio Rivas. Os dois estão envolvidos num alegado esquema de fraude fiscal no valor de 182 milhões de euros e foram detidos pelas autoridades espanholas esta segunda-feira.

A notícia foi avançada esta semana pelo El Confidencial. O jornal espanhol escreve que durante a investigação do caso Koldo — um escândalo de corrupção relacionado com a compra de material sanitário durante a pandemia de Covid-19 —, foi descoberto este esquema entre os dois homens, que terão defraudado o fisco espanhol em 182 milhões de euros em impostos derivados da venda de hidrocarbonetos.

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Durante a investigação deste esquema, a unidade da Guardia Civil espanhola acabou por realizar uma perícia ao telemóvel de Víctor de Aldama, acabando por encontrar mensagens que trocou com Claudio Rivas que mencionavam Nuno Rebelo de Sousa. O tema era a expansão da atividade da rede de gasolineiras Villafuel, uma das sociedades de Rivas, para Portugal.

As mensagens datam de agosto de 2021 e foram descobertas na aplicação Signal, diz o El Confidencial. Na correspondência, que foi enviada para o Tribunal Central de Instrução n.º2 da Audiência Nacional espanhol no âmbito desta investigação de fraude fiscal, Aldama diz a Rivas que tinha prevista uma “conferência com o filho do Presidente de Portugal” às 16h do dia seguinte e que este lhe tinha perguntado “se podia entrar na empresa com uma percentagem”.

Segundo a troca de mensagens, a que a revista Sábado teve entretanto acesso, Claudio Rivas respondeu que não. Explicava que não queria envolver ninguém em Portugal no negócio da expansão da Villafuel “até que a [petrolífera italiana] Agip, os italianos” dissessem se entravam ou não como sócios. Segue-se uma pergunta de Aldama: “E eu?”. “Tu sempre”, responde o empresário.

Bom dia. Não, em Portugal não ponho ninguém até que a Agip, os italianos nos digam se entram como sócios”, escreveu Claudio Rivas.

No dia 5 de agosto, data em que segundo Aldama estava prevista a reunião com o filho do Presidente, o ex-presidente do Zamora FC telefonou a Claudio Rivas. Este não atendeu, diz a Sábado, e respondeu com uma fotografia num barco para mostrar que estava indisponível. “Tudo bem, penteia-te”, remata Aldama.

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Segundo a correspondência vista pela Sábado, Aldama ainda viria a enviar uma mensagem às 22h41 a perguntar se o empresário se tinha perdido, mas os dois não terão falado mais nesse dia através da aplicação. Depois disso não há mais menções ao “filho do Presidente de Portugal” nas mensagens intercetadas pelas autoridades espanholas a que a Sábado teve acesso.

Nas mensagens a menção é apenas “ao filho do Presidente da República”, mas, diz o El Confidencial, depreende que Aldama e Rivas estavam a falar de Nuno Rebelo de Sousa porque Marcelo Rebelo de Sousa tem apenas um filho (Nuno) e uma filha (Sofia) e era ele o Presidente português (tinha sido reeleito para um segundo mandato havia poucos meses, em janeiro de 2021), depois de cinco anos no cargo.

Apesar de as mensagens escritas estarem anexas ao relatório enviado pela unidade da Guardia Civil à Audiência Nacional, o filho do presidente português não é referido no documento, diz ainda a Sábado.

Contactado pela revista, Nuno Rebelo de Sousa garantiu, através do seu advogado, que “não conhece o referido senhor, nada sabe sobre o invocado negócio, nunca reuniu com ele, o assunto é-lhe totalmente estranho, ignora a quem o mesmo se refere e a quê na referida escuta, e repudia qualquer ligação que possa ser feita a si mesmo por quem quer que seja sobre tal assunto.”

A imprensa espanhola noticiou esta segunda-feira que Aldama e Rivas foram detidos juntamente com 13 pessoas, todos acusados de um esquema de fraude fiscal que passou pelo uso de redes corporativas para evitar o pagamento de IVA na venda de combustível e para branquear os lucros obtidos. Os investigadores da unidade da Guardia Civil Espanhola acreditam que também terão corrompido funcionários da administração para que olhassem para lado. Segundo a RTVE, Aldama e Rivas ficaram em prisão preventiva.