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O Presidente ucraniano esteve esta quarta-feira de manhã no parlamento da Ucrânia a apresentar o “plano de vitória” para pôr fim à invasão russa. Dividido em cinco pontos, e com três adendas secretas, a proposta foca-se na adesão à NATO, na defesa ucraniana, na dissuasão da agressão russa, no crescimento económico e cooperação e na arquitetura da segurança ucraniana no pós-guerra.

“Se o plano for apoiado, podemos acabar com a guerra o mais tardar no próximo ano”, começou por dizer Volodymyr Zelensky perante o primeiro-ministro ucraniano, deputados, ministros e líderes militares, incluindo o Comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Syrskyi, o diretor do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), Vasyl Maliuk, o chefe dos serviços de informações ucranianos, Kyrylo Budanov, e o ministro da Defesa, Rustem Umerov.

1. NATO

O primeiro ponto insere-se na dimensão política e militar e, tal como já tinha sido confirmado pelo chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, foca-se na adesão da Ucrânia à NATO, diz o Kyiv Independent. No topo da lista, este é um passo que deve ser dado “agora”. “Compreendemos que a adesão à NATO é uma questão para o futuro, não para o presente”, disse Zelensky, acrescentando que um convite imediato mostraria a Vladimir Putin o erro dos “seus cálculos geopolíticos”. “Somos uma nação democrática que provou que pode proteger o nosso modo de vida comum”.

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2. Maior capacidade militar

O segundo ponto sublinha a necessidade de levar a guerra para o território russo, como aconteceu no início de agosto durante a incursão transfronteiriça de Kursk. Dentro deste está também o levantamento das restrições ao uso de armas de longo alcance impostas a Kiev para responder aos ataques russos, o fornecimento adicional de capacidades de longo alcance e de mais tipos de armamento e o apoio ocidental para abater mísseis e drones russos lançados sobre a Ucrânia. Ao Wall Street Journal, oficiais europeus já haviam relatado esta dimensão militar do plano, revelando que estão detalhadas listas de alvos em que estas armas seriam utilizadas, como armazéns de armas mais profundos no território russo.

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3. Pacote de dissuasão estratégica

terceiro ponto inclui uma das três adendas secretas e propõe um “pacote abrangente de dissuasão estratégica não nuclear no seu território” que protegeria o país contra futuras agressões.

4. Crescimento económico e sanções à Rússia

quarto ponto está inserido na dimensão económica, aquela da qual menos se sabia. Foca-se no crescimento económico e na cooperação com a União Europeia e os Estados Unidos. Volodymyr Zelensky propõe que a Ucrânia utilize os seus recursos naturais, como o urânio, o titânio e o lítio, e que haja um acordo especial sobre o investimento e a utilização conjunta destes recursos com a UE e os EUA.

Dentro do quarto ponto, está ainda uma adenda secreta e o reforço das sanções internacionais contra a Rússia, com o objetivo de enfraquecer a sua capacidade de agressão.

5. Segurança pós-guerra

Por fim, o quinto ponto diz respeito à arquitetura de segurança da Ucrânia no pós-guerra. Segundo Zelensky, Kiev possui uma força militar grande e experiente que deve reforçar a NATO e o continente europeu. “Se os parceiros concordarem, depois da guerra, prevemos a substituição de certos contingentes militares dos EUA estacionados na Europa por unidades ucranianas”, afirmou.

Depois de apresentar os pontos do seu plano, Zelensky alertou para o perigo de Vladimir Putin conseguir atingir os seus “insanos objetivos geopolíticos, militares, ideológicos e económicos”. Se isso acontecer, o Presidente ucraniano acredita que vai criar a ideia, para outros potenciais agressores, de que as “guerras de agressão também podem ser lucrativas para eles”, enumerando a região do Golfo, a região do Indo-Pacífico e África como os potenciais agressores.

Zelensky acrescentou ainda que a “coligação de criminosos de Putin” inclui agora a Coreia do Norte e destacou também o apoio do Irão e da China. “Isto é, de facto, a participação de um segundo estado na guerra contra a Ucrânia, do lado da Rússia”, disse, citado no The Kyiv Independent.

“Temos de implementar o plano de vitória para forçar a Rússia a estar na cimeira de paz e pronta para acabar com a guerra”, acrescentou.

Depois do parlamento ucraniano, Volodymyr Zelensky segue na quinta-feira para Bruxelas para apresentar o “plano de vitória” ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. O primeiro a conhecer o plano foi Joe Biden, depois da visita do Presidente ucraniano aos EUA para a Assembleia Geral das Nações Unidas no fim de setembro.

Kremlin: Kiev precisa de acordar

O porta-voz do Kremlin foi o primeiro a reagir à apresentação do “plano da vitória” ucraniano e, apesar de considerar ser muito cedo para comentar ao pormenor, afirmou que Kiev precisa de “acordar” e perceber “a futilidade das políticas que estão a seguir”. Citado na Reuters, Dmitry Peskov disse que a proposta ucraniana era provavelmente um plano “camuflado” dos EUA que consistia em utilizar Kiev para lutar contra a Rússia “até ao último ucraniano”.

Kremlin rejeita plano de vitória de Zelensky e afirma que Kiev “precisa de acordar”

“Mas poderia haver um plano diferente, que poderia ser realmente pacífico, que é o regime de Kiev perceber a futilidade das políticas que estão a seguir e perceber a necessidade de acordar e perceber as causas que levaram a este conflito”, disse Peskov.

“Ótimo, em teoria, mas na prática é pouco claro”. Deputados ucranianos reagem ao “plano de vitória”

Os deputados ucranianos reagiram ao “plano de vitória” apresentado esta manhã por Volodymyr Zelensky, indicando que é “ótimo, em teoria”, mas que os passos para a sua execução são “pouco claros”. Outros têm diferentes preocupações, dizendo que é “muito vago” e “demasiado dependente dos aliados ocidentais”.

Roman Lozynskyi, do Partido Holos, citado pelo The Kyiv Independent, refere que o “plano de vitória”, por um lado, “parece uma fantasia”, mas pelo outro, “os sistemas Patriot, os mísseis Storm Shadow, os caças F-16 e o controlo parcial de Kursk também pareciam”. Yaroslav Yurchyshyn, da mesma bancada parlamentar, realçou que o Comando militar ucraniano já aceitou o plano de Zelensky, e que está a ser coordenado com os aliados.

No entanto, Oleksii Honcharenko, deputado do Partido de Solidariedade Europeia, criticou as propostas do chefe de Estado ucraniano por serem demasiado dependentes do Ocidente, sem exigir medidas por parte dos dirigentes do país. “Onde está a cláusula para a luta contra a corrupção, ou para fortalecer as nossas instituições democráticas?”, afirma Honcharenko, apoiado pela sua colega partidária, Iryna Heraschenko, referindo que o termo “parceiros” é utilizado mais vezes do que “Ucrânia” ou “Rússia” no plano do Presidente.