Nascido na Carolina do Norte, e já depois de ter passado pelo Texas e pela Virgínia quando estava na Força Aérea, James Jordan decidiu mudar-se em 1963 para Brooklyn para poder estudar sistemas hidráulicos de aviões enquanto a mulher, Deloris Peoples, conseguiu encontrar vaga também num banco. No entanto, e com a preocupação de dar o melhor ambiente possível aos quatro filhos, entre os quais Air Michael, a família ficou em alerta pelo aumento da criminalidade na zona e regressou à Carolina do Norte (onde nasceu o quinto e último descendente). Essa sempre foi a preocupação de James. Triste ironia do destino, já com os filhos com vidas estáveis e o sentimento de dever cumprido na educação dos mesmos, foi assassinado no interior do carro por dois jovens quando tinha parado para descansar a caminho de casa após um dia de golfe.
The North Carolina judge who presided over the 1996 murder trial of James Jordan, the father to NBA great Michael Jordan, petitioned the state’s parole commission on Tuesday to release the man he sentenced to life in prison.
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— ABC News (@ABC) October 17, 2024
O mundo de Michael Jordan, filho mais conhecido que se tornou um dos melhores jogadores de basquetebol de sempre, ruiu. Tinha sido ele a oferecer ao pai aquele Lexus onde tudo aconteceu. Acabado de ganhar o seu primeiro tricampeonato da NBA pelos Chicago Bulls, o shooting guard deixou literalmente tudo – incluindo os pavilhões, assumindo que perdera o desejo e a motivação de jogar (voltou alguns meses mais tarde mas numa liga secundária de basebol, quase numa homenagem à modalidade preferida do progenitor). Nada fazia sentido, tudo perdeu sentido e a forma como foram sendo conhecidos pormenores dos detalhes de tudo o que se passou nesse dia 23 de julho de 1993 era quase uma ferida aberta que não conseguia cicatrizar.
Depois de ter passado o dia todo a jogar golfe, James Jordan regressava a casa mas sentiu-se cansado e foi aí que encostou um pouco o seu Lexus vermelho no parque de um Quality Inn. Larry Demery e Daniel Green, dois jovens acabados de chegar à maioridade, preparavam-se para tentar fazer alguns assaltos mas ao verem aquela viatura mudaram o foco. Foi aí que dispararam contra o pai de Michael Jordan, deixando o corpo num pântano em McColl, na Carolina do Sul, e fugindo com a viatura. Só dez dias depois James foi encontrado, com o reconhecimento a ser feito apenas mais dez dias depois pela decomposição extrema. Já os jovens não demoraram a ser encontrados e detidos, até pelas chamadas que fizeram do telefone que estava no carro, sendo condenados a pena perpétua num julgamento onde apenas um decidiu falar em tribunal.
Houve explicações ao longo dos anos. Ainda no julgamento, questionou-se o porquê de ambos dizerem que tinha sido o outro a matar James Jordan mas apenas um querer falar em tribunal. Mais tarde, o caso esteve numa lista de quase 200 que seriam reavaliados por erros dos técnicos de laboratório ou omissões evidentes mas mais tarde acabou por “cair”. Em 2018, a diretora executiva do North Carolina Center on Actual Innocence revelou ter provas de que Daniel Green estava inocente, tendo apenas ajudado Larry Demery a levar o corpo para o pântano, mas o caso não foi reaberto. Agora, 31 anos depois, tudo pode mudar.
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Michael Jordan dedicates the 1996 NBA Finals win to his late father and pours out his emotions on the locker room floor pic.twitter.com/YWJM1mJ7cD
— Today In History (@historigins) October 16, 2024
Gregory Weeks, o juiz que conduziu o caso, admitiu que se tem sentido ensombrado pela possibilidade de haver um inocente preso há mais de três décadas. O que mudou? Ao rever de novo tudo ao pormenor, Weeks percebeu que um analista de sangue forense que acompanhou o processo e testemunhou não referiu uma descoberta importante: os testes forenses realizados que deram resultados negativos ou inconclusivos e que nunca chegaram a ser mencionados. Nesse sentido, o juiz já reformado escreveu ao Conselho de liberdade condicional da Carolina do Norte para analisar de novo o caso e libertar Daniel Green, que não falou em tribunal e foi acusado por Larry Demery de ter sido o responsável por puxar o gatilho da arma. A informação foi avançada pela ABC News, que acrescenta essas irregularidades encontradas ao pedido.
Antes, Green tinha referido que pensava ser apenas um assalto, que a ideia seria “apenas” amarrar James Jordan para fugir com o carro e que depois dos disparos de Demery ajudou o seu amigo de infância a levar o corpo para um pântano. Mais tarde, em tribunal, não quis falar mais. Agora, pode ser libertado, sendo que Demery também estará perto de conseguir a liberdade condicional mas pelo comportamento na prisão.
The judge who presided over the 1996 murder trial of Michael Jordan's father petitioned Tuesday to release his convicted killer. https://t.co/4YfAu0NWb1
— Action News on 6abc (@6abc) October 16, 2024
“Nunca fui tão assombrado por um caso como aconteceu neste em específico. Todos os dias agora vivo com o remorso, a dor e o sofrimento causados pelas minhas decisões de juventude”, argumentou o antigo juiz Gregory Weeks, citado pela ABC News. “Quando ouvi o juiz falar em nome do Daniel, chorei. Fiquei estupefacto com tudo”, comentou o reverendo Thomas Jones, conhecido defensor da justiça criminal que foi acompanhando o caso de Daniel Green ao longo dos anos. A WRAL TV, estação da Carolina do Norte, elencou uma série de desenvolvimentos menos conhecidos nas últimas três décadas, da questão da arma a uma alegada entrevista de Larry Demery em 1993 onde teria confessado a uma jornalista o crime, passando pelo encontro em 2018 entre Demery e a advogada Christine Mumma, que representa Daniel Green, onde foi assumido que o testemunho dado em tribunal foi a pedido dos investigadores em troca de um melhor acordo após o julgamento. Apesar disso, nada mudou. Agora, o caso pode finalmente ter um novo capítulo.