Estiveram em campos opostos nas diretas do PS, em que Francisco Assis apoiou Pedro Nuno Santos e Fernando Medina esteve com José Luís Carneiro, mas o Orçamento colocou ambos no lado da pressão para que o PS viabilizasse a proposta do Governo.  Os dois socialistas estão satisfeitos com a posição agora adotada pelo líder socialista, mas Medina não deixa de ser duro com os avisos de Pedro Nuno, no fim de semana passado, aos socialistas que comentam nas televisões.

Esta quinta-feira, o secretário-geral do PS anunciou que vai propor a abstenção no Orçamento para 2025 à Comissão Política Nacional, permitindo a viabilização da proposta do Governo não só na primeira votação, na generalidade, como na votação final global, no fim de novembro. “Estou naturalmente satisfeito com a decisão tomada”, diz Francisco Assis ao Observador, considerando que “é a que melhor serve o interesse público na presente conjuntura nacional.”

Já o ex-ministro das Finanças disse, no canal Now na noite de quinta-feira, que esta é “uma boa decisão para o país. Era a expectável e a desejável”, acrescenta. Para Fernando Medina, esta é a “decisão que melhor protege o interesse do país nesta fase”.  O socialista reconhece que a posição “não corresponde à matriz original”, já que o maior partido da oposição não costuma viabilizar orçamentos de governos, mas constatou “a incapacidade e a bangunça no espaço da direita”. Sublinhou também que esta decisão é tomada “para um contexto”, “é para 2025 e não para 2026 ou 2027”.

Na declaração que fez na quinta-feira à noite, Pedro Nuno Santos avisou que, no próximo ano, só vai pronunciar-se sobre o Orçamento do Estado para 2026 depois de ele ser entregue — salta por cima de quaisquer negociações com a AD nessa altura. Medina considerou ainda que a decisão esvazia o Chega: “Estes meses foram úteis para demonstrar que o Chega é hoje uma inutilidade política.” “Não faz parte de qualquer decisão à direita por isso é um voto inútil”, argumentou Medina.

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Pedro Nuno tentou “pôr militantes uns contra os outros”

Medina já não é tão alinhado em relação ao que se passou no fim de semana passado, em que Pedro Nuno Santos aproveitou a participação em quatro congressos federativos do partido para sacudir a pressão pública de alguns socialistas sobre a posição do partido no Orçamento. O líder mandou mesmo calar os críticos, sobretudo os que ocupam o espaço mediático.

Sobre estes avisos, diz que “não foram declarações própria de um secretário geral do PS” e que se tratou de uma “tentativa de estigmatização do debate, pôr militantes uns contra os outros”. Para Medina foi “certamente um mau momento” de Pedro Nuno Santos.

Já Francisco Assis foca as suas declarações na decisão desta quinta-feira e diz que Pedro Nuno “demonstrou possuir a coragem de um líder e a ponderação de um estadista”. “Desautorizou todos quantos o associam a um sectarismo radical e dogmático”, considerou Assis que acrescentou ainda que o “PS é e será sempre um grande partido da esquerda democrático empenhado, esteja no poder ou na oposição, em contribuir para afirmação de um país cada vez mais livre, mais próspero e mais justo”.

Quanto ao líder que também já criticou pelas declarações do fim de semana, considerando-as “menos felizes”, Assis diz agora que Pedro Nuno  “não é um calculista, nem um cínico; é um político sério que compartilha com os portugueses as suas convicções, as suas naturais hesitações e as suas dúvidas. Sabe ouvir e sabe decidir”, argumentou numa resposta ao Observador.

Na próxima segunda-feira, o PS reúne a Comissão Política Nacional, o órgão do partido que mandatou Pedro Nuno Santos para gerir o processo orçamental e que votara nessa noite a abstenção agora decidida.