O hábito é chamar-lhe “mudança de chip”. Em menos de 20 dias, o Sporting jogou com o PSV na Liga dos Campeões, venceu o Casa Pia em Alvalade, passou duas semanas à espera do fim da pausa para os compromissos das seleções e esta sexta-feira visitava o Portimonense na 3.ª eliminatória da Taça de Portugal. Menos de 20 dias, três competições, duas semanas sem grande parte do plantel a trabalhar em Alcochete.

Pelo meio, a notícia da saída de um diretor desportivo. Os leões entravam em campo pela primeira vez desde a oficialização da ida de Hugo Viana para o Manchester City, no final da temporada, e o assunto dominou naturalmente a conferência de imprensa de antevisão de Rúben Amorim. Uma conferência de imprensa onde o treinador leonino, sem grande surpresa, lembrou o que anda a dizer desde que chegou a Alvalade em março de 2020: neste momento, o Sporting é mais do que um conjunto de individualidades.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Portimonense-Sporting, 1-2

3.ª eliminatória da Taça de Portugal

Estádio Municipal de Portimão, em Portimão

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Portimonense: Vinicius Silvestre, Ruan, Alemão, Filipe Relvas, Jefferson, Tony, Diogo Ferreira (Davis Silva, 81′), Mohamed Diaby, Camilo Durán (Chico Banza, 45′), Geovane, Tamble Monteiro (Elijah Benedict, 71′)

Suplentes não utilizados: Philip Tear, Feliciano Mendes, Kelechi John, Yuki Kobayashi, Cláudio Mendes, Francisco Varela

Treinador: Ricardo Pessoa

Sporting: Kovacevic, Bruno Ramos (Iván Fresneda, 82′), Debast (Lucas Taibo, 90+6′), Gonçalo Inácio, Ricardo Esgaio (Geny Catamo, 64′), Hjulmand, Daniel Bragança, Nuno Santos, Francisco Trincão, Conrad Harder, Geovany Quenda (Gyökeres, 64′)

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Jeremiah St. Juste, Morita, Maxi Araújo, Henrique Arreiol

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Conrad Harder (40′ e 90+4′), Elijah Benedict (87′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Tony (61′), a Hjulmand (81′), a Gonçalo Inácio (85′)

“Fazer o que o Hugo Viana fez até agora é muito difícil. Mas o clube tem uma estrutura, um método, tem as pessoas. Temos um caminho feito, ninguém faz nada sozinho. Se me perguntassem isto há três anos era diferente. Agora, acho que já toda a gente sabe como é que as coisas se fazem. O Sporting chegou a um momento em que só precisa dos adeptos, são eles a máquina disto. Se isso se mantiver, acho que no resto já há um plano. O clube é muito grande, mas acho que estamos numa fase em que já há um método, uma ideia, um projeto e uma visão onde se podem mudar peças. Tudo vai seguir com naturalidade”, explicou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Era neste contexto que o Sporting visitava o Portimonense, que está atualmente no 16.º e penúltimo lugar da Segunda Liga. Rúben Amorim estreava Bruno Ramos, central brasileiro de 19 anos que está emprestado pelo Académico de Viseu e que tem trabalhado com a equipa B, e deixava Gyökeres no banco para colocar Conrad Harder como referência ofensiva. Trincão e Geovany Quenda completavam o trio ofensivo, com Ricardo Esgaio a surgir na ala direita e Daniel Bragança a fazer companhia a Hjulmand no meio-campo. Na baliza, Kovacecic voltava à titularidade depois de seis jogos consecutivos de Franco Israel.

O jogo até começou com uma oportunidade de golo, num lance em que Conrad Harder apareceu a rematar de primeira na área para uma boa defesa de Vinicius (3′), mas depressa se percebeu que o momento do dinamarquês seria uma exceção à regra. O Portimonense defendia com uma linha de cinco elementos muito clara e colocava muita gente no corredor central e a poucos metros da baliza, invalidando qualquer tentativa de exploração de profundidade e obrigando o Sporting a lateralizar e a procurar quase sempre o cruzamento.

Os leões dominaram toda a primeira parte, completamente inseridos no meio-campo adversário e a assumir a totalidade da iniciativa que também era totalmente consentida pelo Portimonense. Geovany Quenda (6′) e Nuno Santos (21′) procuravam criar perigo como podiam, essencialmente através de remates de fora de área que saíram quase sempre desenquadrados, e acabou por ser Hjulmand a ficar muito perto de abrir o marcador com um cabeceamento na sequência de um canto que Vinicius defendeu (31′).

O jogo arrastou-se, previsível e repetitivo e cheio de pontapés de cantos e cruzamentos, com Daniel Bragança (32′) e Debast (34′) a tentarem também a meia distância sem qualquer tipo de sucesso. De um momento para o outro, porém, apareceu o golo: num instante de muita paciência do Sporting, Nuno Santos descobriu Conrad Harder na área com um grande passe vertical e o avançado dinamarquês, do lado de fora do adversário, atirou forte e rasteiro para abrir o marcador e levar os leões a vencer os algarvios para o intervalo (40′).

Ricardo Pessoa mexeu logo no início da segunda parte, trocando Camilo Durán por Chico Banza, e o Sporting poderia ter aumentado desde logo a vantagem por intermédio de Trincão, que desviou ao lado na pequena área depois de um grande trabalho de Conrad Harder na direita (48′). O Portimonense dava a ideia de querer discutir mais a posse de bola e o resultado, principalmente através do impacto do recém-entrado Chico Banza, e Tamble ficou muito perto do empate ao aparecer a rematar por cima na área num lance em que Debast teria de ter feito melhor (54′).

Rúben Amorim quis transmitir para dentro do relvado que a ideia era aumentar a vantagem que até aí era mínima e lançou Gyökeres e Geny Catamo já depois da hora de jogo, retirando Quenda e Ricardo Esgaio e mantendo Conrad Harder, que passou a atuar a partir da esquerda. A lógica, porém, mantinha-se: o Sporting tinha bola, o Portimonense já não conseguia debater o encontro como fez nos primeiros minutos da segunda parte, mas os lances de perigo escasseavam.

À medida que o relógio se aproximou do fim, porém, a equipa de Rúben Amorim perdeu a capacidade de controlar as ocorrências e foi permitindo um crescimento dos algarvios, que beneficiavam das substituições que Ricardo Pessoa foi fazendo. Já nos últimos instantes, o Portimonense conseguiu mesmo aproveitar o adormecimento leonino e chegou ao empate: canto na esquerda, Alemão ganhou e a bola sobrou para Elijah Benedict, que empatou à saída de Kovacevic (87′). 

O herói do jogo, porém, já estava escolhido. Quando o Estádio Municipal de Portimão já pensava no prolongamento, Gyökeres combinaram de forma perfeita e serviram Conrad Harder, que picou a bola à saída de Vinicius e bisou para carimbar a vitória (90+4′). No fim, com Rúben Amorim a ter ainda tempo para estrear o central Lucas Taibo, o Sporting venceu o Portimonense no Algarve e seguiu para a quarta eliminatória da Taça de Portugal.