Paulo Rangel, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, recusou este sábado adiantar a nova configuração da direção do PSD antes do fim do Congresso dos sociais-democratas. Em entrevista ao Observador, à margem da reunião magna, Rangel argumentou que deve haver “alguma ligação” entre a direção do partido e o Governo, quando questionado sobre se alguns ministros se vão manter em funções na liderança do PSD, mas não confirmou se vai manter o seu lugar como vice-presidente.
“Estou sempre disponível para tudo, mas no meu caso, dos Negócios Estrangeiros, seria ainda mais compreensível que uma atividade partidária mais intensa pudesse ficar na sombra. Mas não podem tirar nada das minhas palavras. Porque não sei nada e mesmo que soubesse, seria um prerrogativa do presidente do partido e confio muito no presidente do partido”, considerou o ministro.
Já sobre o Orçamento de Estado, que tem aprovação garantida na generalidade, recusou uma possível “desvirtuação” durante a discussão na especialidade. Fazendo eco das palavras do primeiro-ministro, Rangel respondeu: “É preciso muito sentido de responsabilidade. Mas esta postura precisa de ser consequente. É muito importante que o país tenha um Orçamento”.
Contudo, recusou comentar mais detalhadamente as entrevistas do secretário-geral do Partido Socialista sobre o tema. “Não vou aqui entrar em cenários, vou dizer aquilo que é expectável e razoável neste cenário”, argumentou o ministro de Estado, revelando que ainda não leu as mais recentes declarações de Pedro Nuno Santos, por motivos de agenda dos Negócios Estrangeiros.
Questionado sobre a sua pasta, recusou, porém, comentar uma fricção noticiada entre si mesmo e o Chefe da Força Aérea. “Há assuntos que nem merecem comentários”, afirmou apenas.
A entrevista continuou com questões sobre a permanência de Miguel Albuquerque na presidência da mesa do Congresso. “Miguel Albuquerque já foi às urnas duas vezes e isso tem de ser tido em conta, mas daí não tirem nenhum estado de alma meu quanto à sua manutenção”, respondeu Paulo Rangel, que recusou relacionar este tema com a ameaça do presidente da Região Autónoma da Madeira à aprovação do Orçamento de Estado. “Estamos aqui a falar de duas coisas: uma são os órgãos do partido, a outra é o Orçamento. Hoje, todas as respostas apontam para a desdramatização”, considerou uma vez mais.
O ministro destacou a postura “claramente pró-regional do PSD”, em que autonomia da Madeira e Açores “sempre teve um papel relevante”. “Porque tiveram sempre esse papel, houve sempre espaço de negociação, que acho de salutar. Aquilo que espero é uma posição construtiva, ainda que compreenda que os líderes regionais querem defender os interesses das suas regiões”, continuou. Rangel rematou a sua posição, afirmando que não “desvaloriza” a posição das regiões autónomas, mas também não as “sobrevaloriza” e recusando que esta discussão leve à inviabilização do Orçamento.
Já sobre o outro tema que marca o Congresso — a preparação para as eleições presidenciais de 2026 — Rangel tornou a repetir expressões de Luís Montenegro: “Há um perfil claro, Marques Mendes integra esse perfil. É legítimo que venha ao Congresso. Mas não é único que encaixa no perfil e é uma decisão que será tomada a seu tempo”, declarou, recusando ser definitivo e entrar em “especulações”.
“É um percurso perfeitamente natural, de contacto com os militantes, de alguém que está a pensar — como já o disse — nessa hipótese”, afirmou sobre a presença de Luís Marques Mendes no Fórum Braga. “Agora, a candidatura presidencial parte sempre do próprio, não são os partidos que convidam as pessoas a candidatar-se”, argumentou o ministro, deixando ainda elogios à postura transparente de Marques Mendes sobre as suas pretensões a Belém.
Para além dos anúncios que ainda não foram formalizados, Rangel comentou outro anúncio, que foi confirmado este sábado: a filiação do eurodeputado Sebastião Bugalho no PSD. A par da sua notoriedade e capacidades, o ministro destacou a sua “maturidade política”, comparada à de Ana Gabriela Cabilhas — que também foi anunciada como militante — e à qual deixou os mesmos elogios.
Paulo Rangel terminou a entrevista, debruçando-se sobre as eleições autárquicas, sobre as quais reconheceu que há “expectativas” e considerou que a “câmara do Porto é mais importante que a de Lisboa”, uma vez que esta última se confunde muitas vezes com o governo central. Ainda assim, explicitou que não há hierarquia entre estes postos, mas que a autarquia do Porto é um “desafio” com muita visibilidade. Por esse motivo, os mais altos perfis do partido são apontados para esse cargo. E confirma que ganhar estas duas câmaras, Lisboa e Porto, é um dos objetivos para o PSD poder cantar vitória nas eleições de 2025.