Foram dezenas de milhares de pessoas a marchar pelas ruas de Tbilisi durante a noite de domingo, mas a mensagem era só uma: “A Geórgia escolhe a União Europeia”. Com os olhos nas eleições legislativas deste próximo sábado, onde uma coligação sem precedentes tentará derrubar os atuais governantes do país, a Presidente Salome Zurabichvili esteve presente no evento, que descreveu como sendo uma “demonstração da vontade do povo por liberdade, independência e um futuro europeu”.

“Hoje está presente a sociedade, as pessoas, os georgianos que vão para a Europa”, afirma Zourabichvili, num discurso que sublinhava o apelo ao voto contra o atual governo — o partido Sonho Georgiano — em favor dos partidos de oposição com “ideais ocidentais”. Apesar de ter sido candidata pelo partido, a chefe de Estado tornou-se numa das maiores críticas do partido.

Adicionalmente, a Presidente deixou uma mensagem de apoio ao seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, dizendo que “está a lutar pela Geórgia” e que, depois da vitória da Ucrânia no conflito com a Rússia, vão “entrar juntos na UE”.

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A Presidente da Geórgia, Salome Zurabichvili, a discursar perante a multidão reunida na capital em apoio à adesão na União Europeia

Durante a manifestação, viram-se milhares de bandeiras da União Europeia e da Geórgia na Praça da Liberdade, na capital do país, em apoio à causa europeia avançada pelos quatro principais partidos opositores. “Estamos aqui, porque estamos prontos para a mudança”, diziam os manifestantes, citados pela Reuters, indicando que estas próximas eleições são “fundamentais” para o futuro da Geórgia. “O destino do país está por um fio”, defendem ainda, reforçando: “Estas eleições vão decidir se finalmente nos vamos conseguir libertar da ditadura do Sonho Georgiano”.

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Dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Tbilisi a marchar em apoio à adesão da Geórgia na União Europeia

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“Geórgia vota na UE”, lê-se nos cartazes dos manifestantes em Tbilisi

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As bandeiras da União Europeia e da Geórgia juntas na frente das marchas pela capital do país

“Em mais lado nenhum na União Europeia vão encontrar tantas pessoas a lutar diariamente para defender valores da democracia como na Geórgia”, referem os cidadãos em mensagens pelas redes sociais, fazendo menção à elevada adesão popular à manifestação.

O partido Sonho Georgiano — no poder desde 2016, tendo vencido as últimas duas eleições com maioria absoluta — foi descrito pela União Europeia como estando a “desviar-se para um regime autoritário”, depois da aprovação de um projeto de lei que conferia o estatuto de “agentes estrangeiros” a organizações que recebam mais de 20% do seu financiamento de entidades estrangeiras. Esta medida, para os georgianos que tendem para valores mais ocidentais, é comparável à lei homónima da Rússia, sugerindo a aproximação dos governantes do país ao regime de Moscovo. A aprovação desta lei foi a razão pelo congelamento da candidatura de adesão da Geórgia à União Europeia, em maio deste ano.

Uma grande parte dos partidos de oposição assinaram a “Carta da Geórgia”, um pacto em que salientam o seu compromisso para não cooperarem com o Sonho Georgiano na formação de uma coligação no governo. Apesar das sondagens ainda indicarem uma maioria absoluta para os atuais governantes, o apoio pelo partido tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos.