A greve dos farmacêuticos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) regista esta terça-feira uma adesão de 92% a nível nacional, de acordo com o Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF).

“O pico regista-se na Madeira, com 96%” de adesão, disse à agência Lusa o presidente do sindicato, Henrique Reguengo, dando conta de concentrações realizadas esta terça-feira em Coimbra e em Lisboa, para dar corpo à insatisfação destes profissionais.

Os farmacêuticos estão em greve entre esta terça-feira e quinta-feira, para contestar o impasse nas negociações com a tutela, depois de ter sido adiada uma reunião prevista para o início do mês. Segundo a estrutura sindical, os farmacêuticos sentem-se discriminados face aos médicos e aos enfermeiros.

Em reação à greve, o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF) alertou esta terça-feira que os melhores profissionais desta área estão a abandonar o SNS, provocando uma situação nos hospitais que levará décadas a recuperar.

“Os melhores farmacêuticos, porque têm alternativas muito mais interessantes fora do SNS, estão a abandonar o SNS e estamos a criar uma situação que nem nas próximas décadas se consegue recuperar”, adiantou à Lusa Hélder Mota Filipe, no primeiro de três dias de greve dos profissionais das unidades de saúde públicas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O bastonário salientou que “só alguém desprovido de alguma capacidade de compreensão é que podia deixar de concordar” com a paralisação dos farmacêuticos do SNS, alegando que se trata de uma classe que “desde 1999 não vê a grelha salarial atualizada”.

Hélder Mota Filipe deixou “uma chamada de atenção ao Governo” para a situação em que chegaram os farmacêuticos do SNS que “não permitirá nunca que os hospitais do SNS funcionem adequadamente”.

“Nenhum país desenvolvido tem hospitais a funcionar adequadamente sem que o circuito do medicamento e a boa utilização dos medicamentos esteja assegurado”, defendeu o bastonário, ao salientar que aos farmacêuticos é também pedida atualmente uma maior intervenção, tendo em conta a constante inovação terapêutica e o surgimento de fármacos altamente complexos.

“Não sei como é que querem compatibilizar a situação precária, desumana até, como os farmacêuticos estão a ser tratados no SNS com hospitais modernos que garantam a qualidade da prestação de cuidados na situação em que vivemos”, lamentou o responsável da OF.

Depois de realçar que o papel da ordem é garantir aos doentes a prestação da qualidade, Hélder Mota Filipe referiu que em causa está uma profissão que tem muitas alternativas, apontando o exemplo dos profissionais “envolvidos nos ensaios clínicos no SNS, que estão a sair para hospitais privados ou para companhias que desenvolvem” este tipo de atividade.

Hélder Mota Filipe defendeu ainda que, perante medicamentos que custam milhões de euros por tratamento, as poupanças que a intervenção dos farmacêuticos podem gerar “pagam a atualização da sua carreira e a contratação de mais uma quantidade” de outros profissionais para o SNS.

Em declarações à Lusa no início do mês, Henrique Reguengo defendeu que a intervenção farmacêutica é cada vez mais complexa e necessária e que, desta forma, o SNS vai ter cada vez menos pessoas interessadas na profissão, sublinhando que alguns internos já estão a sair.

“Os farmacêuticos, para já, têm uma empregabilidade de 100%. Se não vierem para o SNS, vão para outro sítio onde lhes paguem como merecem“, concluiu.