Durante o ano de 2023, morreram na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) 238 fetos e bebés até aos 28 dias, um número que quase duplicou em relação aos 132 casos de óbitos fetais e neonatais registados em 2022.
A notícia é avançada esta terça-feira pelo Público, que cita os números que constam da última monitorização realizada pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) à atividade dos 58 blocos de partos e serviços de neonatologia de Portugal continental.
De acordo com aquele jornal, em 2023 as mortes fetais e neonatais corresponderam a 0,66% do total de nascimentos do ano na região LVT, enquanto no ano anterior esta percentagem tinha sido de 0,38%.
O Público nota que é nesta região do país que se têm concentrado a maioria dos encerramentos de urgências e maternidades. Contudo, os especialistas ouvidos pelo jornal alertam para a necessidade de entender estes dados dentro do contexto.
Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, sublinha que não se deve juntar os óbitos fetais aos neonatais: se os primeiros podem resultar de facto de problemas na assistência ou complicações na gravidez, os segundos podem resultar da prematuridade, malformações ou doenças.
Os dados em conjunto são “disparatados”, diz Clode, sublinhando que, no limite, até pode não haver qualquer significado neste aumento.
Alberto Caldas Afonso, presidente da Comissão de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, também alerta para a necessidade de interpretar os dados com mais contexto, e sugere explicações como o aumento do número de mulheres estrangeiras que têm filhos em Portugal e que são menos acompanhadas pelos serviços de saúde, ou como o facto de haver cada vez mais gravidezes tardias, o que aumenta o risco.
O relatório de monitorização da ERS também dá conta de uma realidade já conhecida — o número desproporcionalmente maior de cesarianas no privado em relação ao público. No setor privado a percentagem de cesarianas é mais do dobro do que no setor público.
Os dados surgem no dia em que a Comissão de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente apresenta as suas conclusões relativamente aos problemas neste setor da saúde, bem como a proposta de reorganização das urgências obstétricas e pediátricas.