Os partidos da oposição à gestão de Carlos Moedas (PSD) na Câmara de Lisboa, nomeadamente PS, BE, Livre, PCP, PEV, PAN, IL e Chega, manifestaram esta terça-feira preocupação com os problemas na cidade, sobretudo na habitação, segurança e higiene urbana.

No fundo, a oposição já está em campanha“, respondeu Carlos Moedas, após ouvir as intervenções na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, no âmbito do debate sobre o estado da cidade, que se realiza anualmente, tendo este sido o último antes das eleições autárquicas de 2025.

Do grupo municipal do PS, Davide Amado acusou Carlos Moedas, eleito pela coligação “Novos Tempos” (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) e que governa sem maioria absoluta no mandato 2021-2025, de ser “incapaz de providenciar soluções” para os problemas que existem na cidade, designadamente na gestão do lixo, na mobilidade, na habitação, no alojamento local, na segurança e no apoio às pessoas em situação de sem-abrigo.

“Passado quase um mandato inteiro, o que temos é uma Lisboa mais dividida, mais suja, que agravou os desequilíbrios provocados pelo turismo massificado, com pouca atenção aos direitos humanos, onde comprar ou alugar casa se tornou quase impossível para quem cá vive ou trabalha”, afirmou a deputada do BE Maria Escaja.

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Destacando os problemas da habitação e do lixo, com críticas sobre “entornar dinheiro em cima da situação“, Isabel Mendes Lopes, do Livre, lamentou a posição de Moedas ao falar em imigração de “portas escancaradas” e desejou “que o próximo debate do estado da cidade já se faça com outro executivo, com outra presidência, com outra maioria, que resgate Lisboa para uma política progressista, humanista e ecologista”.

Contra o aumento da devolução do IRS aos lisboetas, que no total do mandato será de cerca de 200 milhões de euros, “em que mais de metade é devolvido aos 10% de famílias mais ricas da cidade”, a eleita do PCP Natacha Amaro frisou que o direito à cidade para todos “continua por cumprir”, com problemas na habitação, nos transportes públicos, na mobilidade suave, na gestão do tráfego automóvel e do estacionamento, no planeamento do crescimento do turismo, no comércio local e na cultura: “Os principais problemas da cidade e muitas das questões centrais aqui referidas não nasceram neste mandato, mas não podemos escamotear que nestes três últimos anos estes problemas não só não se resolveram como nalgumas matérias se agravaram”.

Também a deputada do PEV Cláudia Madeira partilhou uma posição idêntica: “Sabemos que muitos problemas não surgiram nos últimos três anos, mas a verdade é que não foram resolvidos e até se agravaram, e não foi por falta de recursos que chegamos a este estado, nem por bloqueios, que na verdade não existem, apenas servem de pretexto para uma vitimização que tem marcado este mandato desde o início”.

Não queremos uma cidade para ricos, turistas ou unicórnios. Queremos uma cidade onde seja simplesmente possível viver”, defendeu o deputado do PAN António Valente, sugerindo uma política habitacional “mais ambiciosa” e a concretização de investimentos na área da proteção e bem-estar animal.

O deputado da Iniciativa Liberal (IL) Rodrigo Mello Gonçalves disse que “o estado da cidade não é a catástrofe que alguns à esquerda proclamam“, mas ressalvou que “ainda está longe de ser o ideal ou o desejável”, sublinhando que “existem diversas áreas de atuação onde são necessárias mudanças e reformas para pôr Lisboa a funcionar”, desde a mobilidade à higiene urbana, apoiando o aumento da devolução do IRS aos lisboetas.

Do partido Chega, Bruno Mascarenhas considerou que “tem muito mais mérito o PS perder a câmara” do que a vitória de Carlos Moedas, realçou que a situação do lixo “está pior” porque “há incompetência, má gestão”, apontou a “imigração ilegal” na zona histórica da cidade, criticou a concentração das respostas às pessoas em situação de sem-abrigo no Beato como “um campo de refugiados”, o investimento em ciclovias e em iniciativas da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero), e disse que a marca da governação de PSD/CDS-PP é que os lisboetas se sentem “acossados na sua própria cidade”.

Depois de ouvir os deputados municipais, o presidente da câmara sublinhou que “Lisboa é uma cidade aberta, é uma cidade para todos“, apelou à “moderação da sociedade” em vez da polarização e do radicalismo, defendendo que é importante ouvir opiniões diferentes e ser tolerante.

Temos feito muito, muito, em conjunto, acima dos partidos, acima das ideologias“, concluiu Carlos Moedas, dirigindo-se a todos os deputados municipais e pedindo aos “democratas e moderados” que possam “estar unidos nesta caminhada de servir os Lisboa”.

“Respeito os ataques sobre as políticas, não respeito os ataques pessoais, os ataques que são feitos de forma, eu diria, de caráter. Não deveria existir na política. É muito triste que isso aconteça e, sobretudo, que partidos que eram do arco da moderação tenham deixado esse arco da moderação para irem juntar-se ao radicalismo. É triste, mas é a realidade”, declarou o social-democrata, sem mencionar a que partido se referia, deixando a possibilidade de ser o PS devido ao cartaz em que os socialistas fazem alusão ao lixo na cidade com o nome de Moedas.