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Mais de uma dezena de associações de imigrantes de Sintra repudiam firmemente a violência dos últimos dias após a morte de Odair Moniz e mostraram-se preocupados com as políticas de imigração, disse esta sexta-feira o presidente da Câmara.
“Foram firmes a repudiar. Disseram que não é através da violência que conseguem melhorar a vida, resolver os problemas, e destacaram querer mais integração e paz para trabalhar e criar família aqui, motivo pelo qual vieram para Portugal”, contou Basílio Horta à Lusa.
O autarca referia-se à reunião que teve na quinta-feira com mais de uma dezena de associações de imigrantes do concelho, com os presidentes de juntas de freguesia e com autoridades policiais locais e nacionais para abordarem os acontecimentos dos últimos dias.
Na reunião estiveram presentes a Associação Luso Cabo-Verdiana de Sintra, a Comunidade Islâmica da Tapada das Mercês e Mem Martins, a Olho Vivo, a Estrela da Lusofonia, a RJ Anima, a Casa Seis, a Fundação Aga Khan, a Associação CIAPA, a Casa da Guiné, a Associação dos Filhos de Farim, a Associação de Solidariedade dos Filhos e Amigos da Região de Gabú, a Associação Islâmica de Sintra — Mesquita Cacém e a Associação Balodiren.
“São 14 associações com quem trabalhamos há muito tempo e no sentido da integração dos imigrantes. Em 2023 tínhamos 83 mil imigrantes, dos quais mais de 60 mil estão integrados. Nota bem o trabalho que se tem vindo a fazer no sentido da integração, essencial para garantir a paz. Mas, este ano, mudou, tivemos um maior fluxo. As contas ainda não estão fechadas, mas é provável que sejam 100 mil em 2024, ou seja, 25% da população global são imigrantes”, disse.
De acordo com Basílio Horta, as associações transmitiram que “há um mal-estar latente relativamente à política de imigração” porque “tudo o que tem a ver com as nacionalizações, com a atribuição da nacionalidade, autorização de residência está a ser muito atrasado”. “Temos de ter um maior cuidado e uma celeridade na política de imigração“, defendeu.
Destacando o trabalho que tem vindo a ser feito em Sintra com os imigrantes, o autarca disse que há uma “grande confiança entre a câmara, a Fundação Gulbenkian e os imigrantes”, que têm “os mesmos direitos dos sintrenses, sem diferença nenhuma”.
“E é assim que queremos viver. Mesmo na estratégia local de habitação, não queremos guetos“, frisou.
Quanto aos incidentes que se têm registado após a morte de Odair Moniz, baleado pela PSP, Basílio Horta considerou que podem significar apenas “banditismo puro” e defendeu que, se assim não for, é necessário olhar para as condições de vida das pessoas que vivem naqueles bairros.
“Anteontem houve à noite muitos acontecimentos, mais de 60, coisa que não estávamos habituados. Nunca tivemos em quase 10 anos que levo de mandato. Não houve incêndios de autocarros, houve incêndios de lixo, contentores no concelho todo. Queimaram 45 contentores, um prejuízo de quase 50 mil euros”, disse.
Quanto à reunião que teve com os 11 presidentes de juntas de freguesia de Sintra, relatou que aquelas autarquias deram conta de carências a nível de “falta de pessoal, de polícia, de guardas, de equipamentos, que não são suficientes”.
“Algumas sentiram-se um pouco abandonadas”, acrescentou.
Segundo Basílio Horta, este mau momento tem de ser aproveitado para se olhar de uma maneira global para a política de segurança, para a falta de efetivos e de equipamentos.
“Durante a reunião, a solução encontrada é a de que tem de haver maior proximidade das forças de segurança com os presidentes de junta. O diálogo deve ser reforçado”, disse.
MAI diz que dispositivo policial vai manter-se no terreno este fim de semana
Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Desde a noite de segunda-feira registaram-se desacatos no Zambujal e, desde terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados autocarros, automóveis e caixotes do lixo. Mais de uma dezena de pessoas foram detidas, o motorista de um autocarro sofreu queimaduras graves e dois polícias receberam tratamento hospitalar, havendo ainda alguns cidadãos feridos sem gravidade.