Havia dois cenários possíveis na antecâmara da conferência de imprensa de Rúben Amorim antes da receção do Sporting ao Estrela da Amadora esta sexta-feira à noite. Cenário 1: existia um acordo entre clubes, não só verbal mas também devidamente comunicado à CMVM, e o técnico poderia começar a falar daquilo que será a despedida e as razões para deixar a meio o atual projeto desportivo em Alvalade. Cenário 2: não surgiam novidades nesse sentido e basicamente o treinador corria o risco de estar na mesma posição em que estava no final da partida com o Nacional para a Taça da Liga. Primeira dúvida desfeita, estava em cima da mesa esse cenário 2. Dentro do cenário 2, surgiam duas possibilidades: hipótese a) continuava a ser bombardeado por perguntas a que não podia responder; hipótese b) explicava logo de início que não podia dizer nada.

Como Observador escalpelizou numa peça que resumia o que se foi passando nas últimas 48 horas, e apesar de todas as informações que foram saindo na imprensa nacional e estrangeira, tudo estava mais claro do que se foi “pintando” na manhã desta quinta-feira entre o que era certo e aquilo que estava por fechar.

  • O que está certo? Rúben Amorim vai assinar contrato até junho de 2027, com mais um ano de opção por comum acordo das partes, ficando com um salário a rondar os oito milhões de euros mais bónus por objetivos desportivos. Com o técnico seguirão vários elementos da sua equipa técnica entre Carlos Fernandes, Adélio Cândido (ambos confirmados), Paulo Barreira, Jorge Vital (hipóteses muito fortes) e Emanuel Ferro, neste caso uma surpresa em termos internos mas sem impacto no que se quer para o futuro. Pelo treinador principal será paga a cláusula de rescisão, sendo que terá de ser o próprio Amorim a pagar os dez milhões de euros ao Sporting, pelos outros elementos terá de existir um acordo para que possam sair mais cedo em relação ao vínculo que têm atualmente. Todos ficam até 10 de novembro, dia do Sp. Braga-Sporting que coincide também com o clássico no Campeonato entre FC Porto e Benfica.
  • O que não está certo? O acordo entre clubes para que Rúben Amorim não tenha de cumprir os 30 dias por força de um pré-aviso necessário mas que nunca foi remetido e o valor final a pagar pelos ingleses para libertarem os adjuntos do técnico principal, que têm também um período a cumprir caso seja essa a vontade do Sporting entre o pagamento de um montante para a saída e o seu timing.

Nesse contexto, informações que davam conta da possibilidade de fazer ainda a receção ao Arsenal para a Liga dos Campeões no final de novembro ou mesmo um alegado ultimato que poderia reter Amorim até ao final da temporada não faziam sentido neste xadrez até à decisão final. E não fazia a dois níveis: a partir da tal indicação em forma de pré-aviso e mediante o pagamento da cláusula de rescisão, Rúben Amorim pode sair 30 dias depois; em paralelo, ninguém da estrutura verde e branca admitiria esse cenário perante todo um ambiente degradado por aquilo que muitos internamente consideraram ser uma “quebra de confiança” a não ser que surgisse um volte face completo, que não está em causa, que levasse à sua permanência.

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Tudo pontos que Amorim poderia ou não abordar numa conferência de imprensa que teve início com uma pontualidade britânica com o ponteiro a bater nas 13 horas. E houve apenas uma questão sobre o jogo antes de começar esse “bombardeamento” por parte dos 31 jornalistas presentes na sala incluindo ingleses.

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“Sei que fizeram uma viagem para estarem aqui [em Alcochete]. No fim do jogo falarei, quero que a equipa se foque no jogo com o Estrela da Amadora. Prometo que no fim do jogo falarei e ficará tudo esclarecido. O Sporting sem bicampeão não muda, toda a gente aqui quer o Sporting bicampeão. O foco é o Estrela, uma vitória é mais um passo, tudo o resto falo amanhã após o encontro. No fim do jogo vai ser tudo mais claro. Neste momento o único foco é o jogo. Se fazia alguma coisa diferente? Eu não controlei nada da situação, não podia ter feito nada de diferente…”, respondeu Rúben Amorim às primeiras três perguntas.

“Não há guerra nenhuma, muito menos paz podre porque não faz parte do meu feitio e do meu presidente. Senti os jogadores diferentes na palestra, não houve revolta nenhuma e isso havia quando cheguei. Ao lerem as notícias, percebi que não estavam normais porque estavam ansiosos. Não houve nenhuma revolta nem precisei que o Morten segurasse os companheiros porque controlo-os bem e conheço-os bem”, atirou de seguida, na resposta onde falou mais sobre aquilo que se viveu na Academia ao longo desta semana.

“Partir corações? Principalmente o meu, sou eu que decido… Presidente querer que saia mais rápido? Não me parece que o presidente está a acelerar a minha saída, está a fazer o que tinha de fazer… Vão perceber que não há paz podre, somos adultos. Agora, foco no Estrela, é o que interessa. João Pereira? Não tenho falado mais com ele, sei que estão preparados por ele e pela equipa técnica. Vejo isso quando chamo os jogadores da equipa B. Tem muita personalidade e está preparado. Se acho que vou sair bem? Será cumprido se sair, sem dúvida nenhuma… É uma situação muito difícil. Quando não sei o que posso dizer é tudo mais complicado, essa incerteza gera dificuldade e tenho problemas de comunicação porque toda a situação em si me deixa mais nervoso. Estará a acabar a novela. O que me deixa nervoso é não saber bem o que posso dizer e isso cria-me depois grande dificuldades, é apenas por isso”, prosseguiu o ainda treinador leonino.

“Nós temos muito boas condições aqui e há seis anos estávamos no Casa Pia, não é por razões monetárias. Estabilidade? Há fases na vida em que estamos muito bem e depois falta qualquer coisa, queremos provar qualquer coisa e vamos para algo que não sabemos bem… Se alguma coisa acontecer, o meu maior medo é acontecer alguma coisa no final do ano e poder estar ligado a isso. Esse é o meu maior medo talvez…”, referiu antes de responder à única pergunta em inglês no final de uma conferência de 15 minutos.