Grupos armados, que apoiam o ex-presidente boliviano Evo Morales, tomaram várias unidades militares na zona central do país, escreve a Associated Press, citando as Forças Armadas da Bolívia. Os revoltosos fizeram militares reféns e apoderaram-se de armamento e munições do exército boliviano. Estes incidentes vêm agudizar a tensão no país, com os apoiantes de Morales a tentarem impedir que as autoridades prendam o ex-chefe de estado, que é acusado dos crimes de violação e tráfico de pessoas.

Esta sexta-feira, os apoiantes de Morales cercaram um quartel em Villa Tunari, e fizeram 20 soldados reféns, escreve o El País. Um vídeo divulgado por uma televisão local mostra cerca de vinte soldados feitos reféns por um grupo de camponeses, que tentavam impedir a reabertura de uma estrada que mantém isolada a cidade de Cochabamba (a cerca de 400 quilómetros da capital La Paz), onde Morales se encontra.

“Cortaram a água, a luz, fizeram-nos reféns. Pedimos uma solução rápida, não intervenham nos pontos de bloqueio, já que a vida dos meus instrutores e soldados [corre perigo]”, pediu um militar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para além desta unidade, outras duas foram tomadas, segundo o presidente Boliviano Luis Arce, que, na rede social X, criticou a tomada de locais onde está armazenado armamento. “Ocuparam o lugar onde se encontram as armas militares destas unidades, o que constitui um ato criminoso absolutamente condenável e que está longe de qualquer reivindicação social legítima do movimento camponês indígena originário”, escreveu o atual presidente boliviano.

Em comunicado, as Forças Armadas da Bolívia já avisaram os revoltosos: “pegar em armas contra a pátria será considerado traição à pátria e revolta armada”, sublinham, instando a população “a abandonar o quartel de forma imediata e pacífica”.

Bolívia. Ex-presidente Evo Morales escapa a tentativa de assassinato, 14 balas disparadas contra o veículo onde seguia

Os evistas, como são conhecidos, têm aumentado as ações violentas desde que, a 27 de outubro, as autoridades bolivianas tentaram parar, sem sucesso, a carrinha onde seguia o ex-presidente Evo Morales (que esteve no poder entre 2006 e 2019). O veículo foi baleado várias vezes e os manifestantes acusaram o governo de tentar matar o ex-presidente. Com o bloqueio de estradas e as ações armadas contra os militares bolivianas, o principal objetivo dos revoltosos é impedir a perseguição judicial contra Morales e garantir que o histórico líder do país possa voltar a ser candidato nas próximas eleições presidenciais, marcadas para 2025. Os bloqueios de estradas estão, no entanto, a prejudicar toda a população da província de Chapare, com muitos camiões com alimentos, mercadorias e medicamentos impedidos de circular.

Na semana passada, cerca de trinta polícias ficaram feridos, um deles em resultado da explosão de dinamite, levado pelos apoiantes de Morales para impedir a ação das forças de segurança. Mais de meia centena de manifestantes foram presos, mas os revoltosos retomaram o controle das estradas na região de Cochabamba.

Entretanto, e com a tensão a aumentar, e com cada vez mais evistas nas ruas, os comandantes das diferentes unidades do exército prometeram que não intervirão para evitar serem feridos ou terem de usar armas de fogo contra a população. Para já, Luis Arce garante apenas que o governo vai “continuar a realizar ações destinadas a restabelecer a ordem pública, salvaguardar a vida dos bolivianos, a paz social, bem como o direito do povo à liberdade, liberdade de circulação, de trabalho, de acesso a combustível, alimentos e medicamentos”.

A tensão na Bolívia está a aumentar há três semanas, quando o ex-presidente Morales foi acusado pelo Ministério Público de ter violado uma menor de 15 anos, quando ele ainda era presidente, em 2016. Está ainda acusado do crime de tráfico de pessoas, por alegadamente ter incentivado a prostituição da adolescente. Morales reagiu imediatamente, acusando o governo de Luis Arce, seu antigo apoiante de perseguição, e de o querer impedir de concorrer à presidência.