A Associação Nacional de Farmácias (ANF) defendeu esta segunda-feira a integração das farmácias na rede de rastreios nacional para identificar precocemente doenças, como os cancros gástrico, colorretal, o VIH/Sida ou hepatites virais, e contribuir para aumentar a população elegível rastreada.

A ANF vai promover na terça-feira a conferência “Rastreios e Prevenção: Inovar em Saúde Pública”, em que pretende responder a questões como “O que tem sido feito e o que mais se pode fazer” no domínio dos rastreios e prevenção secundária.

A associação defende que, para a implementação de um Programa de Prevenção da Doença e Promoção da Saúde, inscrito no Orçamento do Estado para 2025, os rastreios oncológicos e não oncológicos em proximidade são uma das mais relevantes estratégias de saúde pública.

Em declarações à agência Lusa, a presidente da ANF, Ema Paulino, afirmou que a intenção da conferência é debater “a pertinência de englobar a rede de farmácias na rede de rastreios a nível nacional”, como é o caso, por exemplo, da bactéria ‘helicobacter pylor’ para o cancro gástrico, ou o cancro colorretal, que pode ser identificado precocemente através de um exame de sangue oculto nas fezes.

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Mas também podem realizar testes rápidos para deteção do VIH/sida e das hepatites B e C, aproveitando a sua capacidade instalada, com profissionais qualificados e instrumentos adequado, sustentou.

Pela sua proximidade e intervenção na sensibilização da população, as farmácias podem aumentar o acesso da população elegível aos rastreios e atenuar assimetrias regionais.

“Mesmo em situações como o rastreio do cancro colorretal, em que temos um rastreio, teoricamente, de base populacional (…) as taxas de adesão são muito baixas”, lamentou.

Ema Paulino enfatizou os ganhos da patologua ser detetada precocemente para o doente, mas também para o Serviço Nacional de Saúde, porque “fica muito mais barato” intervir numa fase precoce, com medicamentos de primeira linha e intervenções menos invasivas.

Questionada se a ANF tem debatido estas medidas com a tutela, afirmou que estava a trabalhar anteriormente com a Direção Executiva do SNS no rastreio do cancro colorretal, mas o projeto parou com a nova direção.

Adiantou que a associação tem um protocolo com a Câmara de Oeiras, que financia testes de VIH/Sida e hepatites virais, tendo o Ministério da Saúde já manifestado disponibilidade para avaliar a possibilidade de expandir estes rastreios a nível nacional.

Na conferência, a ANF vai mostrar um exemplo do que está a ocorrer em França, e noutros países como Reino Unido e Canadá, em que as farmácias já aplicam testes rápidos para identificar infeções agudas, como urinárias e da garganta, para determinar se é necessário prescrever antibiótico, o que os farmacêuticos fazem através de protocolos definidos com os médicos.

“Como é óbvio não queremos extravasar aquelas que são as nossas competências. A competência do diagnóstico e da prescrição é uma competência médica (…) mas é uma forma de aliviar os outros níveis de cuidados para situações mais complexas e mais urgentes”, disse, observando que Portugal é o país da União Europeia com maior afluência às urgências de situações não urgentes.

O diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Rui Tato Marinho, que vai estar presente na conferência, destacou que o rastreio das hepatites virais e do cancro do cólon tem aumentado nos últimos anos, um “esforço muito grande” intensificado após a pandemia.

O gastrenterologista realçou o papel que as farmácias podem ter neste domínio, afirmando que podem ser “a porta de entrada para o sistema de saúde ou para fazer o diagnóstico de uma doença”.

“Os farmacêuticos são aliados dos médicos, dos enfermeiros dos técnicos superiores de diagnóstico”, disse, rematando: “um conselho de um farmacêutico pode salvar uma vida, particularmente nos rastreios, que visam detetar a doença quando não existem sintomas”.

As doenças oncológicas são a segunda causa de mortalidade em Portugal, onde a cada ano são detetados mais de 7.000 casos de cancro colorretal, registando uma taxa de mortalidade superior à média da UE.

As estimativas apontam que até 2035, na Europa, a mortalidade por cancro aumente em mais de 24%.