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Esta quinta-feira, vários adeptos israelitas e francesas envolveram-se em confrontos dentro do estádio onde decorria o jogo França-Israel. Segundo o jornal Le Figaro, os adeptos da seleção de Israel estavam espalhados pelo estádio, cuja lotação ficou pelos pouco mais de 16 mil adeptos, exibindo a bandeira do seu país — e os problemas aconteceram numa das bancadas mais altas do Stade de France.
A polícia presente dentro do estádio foi obrigada a intervir para garantir que o jogo continuava sem incidentes. Os confrontos aconteceram logo no início da partida, que decorreu com normalidade até ao fim. Ainda antes do apito do árbitro, o hino israelita foi vaiado.
De acordo com a agência France-Presse, mais de 600 apoiantes da comunidade judaica dirigiram-se ao Stade de France para o jogo de “alto risco” escoltados pela polícia francesa, que mobilizou 4.000 polícias e pessoal de segurança à volta do estádio e mais 1.500 polícias nos transportes públicos, segundo o chefe da polícia francesa, Laurent Nuñez.
Affrontement au stade de France dès les 10 premières minutes du match entre la France et Israël, du côté des tribunes d’israël, les supporters de l’équipe de France donnent de la voix dès que les supporters Israéliens chantent pour qu’on ne puisse les entendre. @UEFA @fff
????… pic.twitter.com/VyHBmVAZh0
— Instinct Foot ⚽ (@instinctfoot) November 14, 2024
Já fora do estádio, poucas centenas de manifestantes juntaram-se, convocados pela França Insubmissa (LFI, esquerda), contra a realização do jogo das seleções de futebol, mostrando o descontentamento com a presença do Presidente francês no jogo. “Eu não concordo com isso (com a presença do Presidente francês e do governo no jogo), não deveriam estar lá. É bem óbvio que eles estão escolhendo um lado. É como se eles estivessem misturando política e desporto, o que talvez não deveriam”, referiu Matteo, de 20 anos, americano a viver na França.
A manifestação que começou pelas 18h00 horas locais (17h00 em Lisboa) numa praça em Saint Denis, a apenas dois quilómetros do Stade de France, onde se realizou o jogo, reuniu cerca de 200 pessoas e membros do partido de esquerda radical que foram gritando por Gaza, pela Palestina, pelo Líbano, pelo fim do genocídio e o fim do fornecimento de armas a Israel por parte da França.
Muitos manifestantes mostraram-se muito relutantes em se expressar perante os muitos jornalistas presentes no local, recusando, por exemplo, fornecer a identificação, mas os que falavam mostravam a sua indignação para com a situação no Médio Oriente, com a qual consideram que a França está a compactuar.
Affrontement au stade de France dès les 10 premières minutes du match entre la France et Israël, du côté des tribunes d’israël, les supporters de l’équipe de France donnent de la voix dès que les supporters Israéliens chantent pour qu’on ne puisse les entendre. @UEFA @fff
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“Não gosto que a França, onde nós vivemos, receba uma equipa, especialmente depois do que aconteceu em Amesterdão. Acho que não se pode realmente separar nada que a Israel faz do regime do Apartheid, mesmo no desporto”, disse Matteo, de 20 anos, americano a viver na França.
A quantidade de polícia “nunca é justificada, é sempre demais e reacionário”, afirmou o americano, referindo também “os helicópteros que são um gasto de dinheiro” desnecessário nesta situação.
“Eu posso imaginar acontecerem problemas após o jogo, especialmente pelo que aconteceu em Amesterdão na semana passada, mas eu acho que vai depender do que os fãs da Israel fazem”, disse Caitlin, de 20 anos.
Segundo a jovem também americana a estudar em Paris, a manifestação estava programada inicialmente para ocorrer próximo do estádio, mas foi mudada pelo aparato policial, mas os manifestantes não “querem magoar ninguém”, só querem chamar a atenção para a situação em Gaza.
Com dezenas de bandeiras da Palestina, outras do Líbano e alguns cartazes expostos denunciando o genocídio, a manifestação pacífica não teve forças de segurança, contrariando todo o aparato policial nas redondezas do estádio.
“Eu vim aqui com a minha filha de 16 anos, nós estamos aqui de forma pacífica, não estamos aqui para procurar uma luta, apenas para expressar a nossa tristeza, mais do que a nossa fúria perante o fato da inação dos países em geral, mas de países ocidentais, em particular, e do nosso país, a França, a pátria dos direitos dos homens, que não conseguem respeitar os direitos internacionais”, disse à Lusa Aïcha, de 44 anos, descrevendo a situação como “vergonhosa”.
Para a marroquina, que cresceu em França, a manifestação tem como objetivo denunciar a falta de inação perante Israel em competições desportivas, já que “desde o início da guerra na Ucrânia, há sanções que foram tomadas contra a Rússia”.
“Temos o direito de criticar um Estado que comete um genocídio, e em nenhum caso é antissemitismo, temos, entre as pessoas que estão aqui connosco, a União Judia por a Paz (UJFP), por exemplo, muitos compatriotas judeus que se unem connosco e que protestam contra o que está a acontecer”, afirmou Aïcha.
Além do apoio ao povo palestiniano, os manifestantes querem denunciar “a ideologia sionista, que é uma ideologia supremacista e racista”, defendendo “numa primeira etapa, a solução para dois Estados”, segundo a marroquina, que se considera francesa.
O deputado local Éric Coquerel, presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, denunciou o “genocídio” sofrido pelos palestinianos às mãos das forças armadas israelitas, perante os cerca de mil presentes.
Lamentou também que o Presidente francês, vários membros do governo e os antigos Presidentes François Hollande e Nicolas Sarkozy estejam também presentes no jogo, segundo os mesmos, para denunciar o antissemitismo. Para Coquerel, esta presença oficial “vergonhosa” representa um apoio ao governo israelita de Benjamin Netanyahu.
“Os fãs israelitas não estão aqui para apoiar a sua equipa. Eles estavam aqui para provocar a humanidade, dizem palavras que não são aceitáveis. Eles estão de acordo com matar os filhos da Palestina”, disse o recém-imigrado Abderrazak, de 32 anos, acompanhado da sua mulher e filha com apenas alguns meses, não querendo revelar a sua naturalidade. Para Abderrazak, “o que está a acontecer na Palestina é contra a humanidade”, defendendo que “os israelitas tentam destruir a humanidade”.