Uma primeira parte demasiado má, um segundo tempo onde tudo o que podia correr bem, correu melhor, uma ajuda que chegou de Glasgow para tudo ficar em definitivo arrumado. Quando se projetava a receção de Portugal à Polónia, existia muito a tónica de comentar a necessidade de vitória para ficar em melhor posição para lutar pelo primeiro lugar da Liga A da Liga das Nações. Afinal, não foi preciso. A Seleção só precisava de fazer melhor do que a Croácia frente à Escócia e o ensejo saiu melhor do que o pedido entre uma goleada no Dragão com os polacos e uma derrota dos balcânicos aos 86′ após terem estado a jogar com menos um desde os 43′. Assim, Roberto Martínez via-se obrigado a mudar o chip na deslocação a Split – não era uma partida decisiva para a posição no grupo, tornava-se uma partida importante para uma posição no “grupo”.

Portugal termina grupo com empate na Croácia em dia de mais três estreias (mas sem recorde para Quenda)

“Equipa renovada? Renovada é uma boa palavra, com muito talento. Falamos sempre da boa formação de Portugal, do número de jogadores portugueses que há na formação. O nosso objetivo era os quartos de final e passar em primeiro lugar do grupo e o que precisamos agora é de mostrar que há competitividade pelas posições. Nos últimos cinco jogos, mostrámos que há um grupo que pode jogar. A ideia é, em 18 meses, estar numa fase final de um Mundial. Para nós é importante ter um bom desempenho com a Croácia, executar bem os conceitos que preparámos e ganhar. Não são três pontos que contam na tabela mas contam muito pela formação e pelo trabalho que estamos a fazer”, apontara o selecionador na antecâmara do jogo.

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“Jogar pela Seleção é sempre importante, fazê-lo sempre com a mesma energia. A primeira parte contra a Polónia foi muito má. Faltou propósito, faltou procurar os espaços que precisávamos. Estamos a trabalhar juntos há quase dois anos e sabemos que podemos ajudar os jogadores a reagir a momentos difíceis. É importante olhar para trás durante o estágio de setembro e outubro, onde sempre fizemos o mesmo. Há jogadores que têm mais de 1.000 ou 1.500 minutos esta época e vamos ter outros jogadores com energia e clareza para executar os conceitos. Como liderar a equipa num jogo sem pressão? É muito mais difícil ter o foco totalmente no jogo quando já não interessa mas temos de ter em conta a pressão. Algumas exibições podem ter impacto no futuro dos jogadores na Seleção e, por isso, há muito em jogo. A pressão existe sempre e eu coloco-a em mim e na equipa, independentemente do jogo”, acrescentara Roberto Martínez.

Sem os dispensados Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes, Bernardo Silva e Pedro Neto, além de nomes de peso de fora por lesão como o central Rúben Dias, vários elementos tinham espaço para se mostrarem em diversas vertentes, da liderança da equipa à competitividade por posição, do momento que atravessam àquilo que podem dar de diferente à Seleção. Nessa ótica, Geovany Quenda surgia como exemplo paradigmático de “nova oportunidade”, podendo tornar-se o internacional A mais novo de sempre. “Encaixa na ala direita. Já trabalhámos em setembro e é essa a posição onde vai trabalhar. O que traz à Seleção é o desequilíbrio e a capacidade técnica. É um jogador com magia, que tem um futuro espetacular. A sua experiência de estar com a Seleção é importante, entre ou não no relvado. O Fábio Silva também fez um excelente trabalho”, referira.

Era também curiosidade que chegava o encontro na Croácia, contra uma formação de Modric e companhia que tinha como objetivo pontuar e garantir a passagem aos quartos da Liga das Nações sem pensar no que se poderia passar no Polónia-Escócia (decisivo não só para a qualificação mas também para definir a vaga de descida à Liga B). E tudo apontava para que tal acontecesse depois de uma primeira parte irrepreensível com a colocação de João Cancelo a surpreender, João Félix ao melhor nível e um Vitinha que voltou a mostrar que não sabe jogar mal em qualquer posição e contexto. No entanto, o recorde de Paulo Futre não caiu. Porquê? Porque a Croácia mexeu ao intervalo e Portugal não mais conseguiu recuperar para ir o jogo, terminando em dificuldades para aguentar um empate que durante 45 minutos parecia uma vitória certa. Se a primeira parte mostrou o melhor da Seleção, a segunda expôs todas as fragilidades que também tem.

Os minutos iniciais começaram com Portugal a mostrar grande personalidade com bola e a mostrar tudo o que estava preparado com e sem posse para o encontro na Croácia (e que nada tinha a ver com aquilo que era apresentado inicialmente pelos grafismos da UEFA): com bola, a Seleção definia uma linha de três atrás que variava consoante o corredor utilizado para sair em construção, ficando Nelson Semedo ou Nuno Mendes com os centrais, e colocava João Cancelo mais na esquerda, a dar largura quando Portugal saía pela direita e a jogar mais por dentro quando era Mendes que subia pelo corredor. Foi assim que, ainda nos cinco minutos iniciais, Nuno Mendes apareceu na área a cruzar com a bola a sofrer um desvio sem que ninguém chegasse a tempo de empurrar para a baliza (5′). Foi assim que, pouco depois, João Félix ganhou espaço com uma grande finta, combinou com João Cancelo pelo corredor central e rematou para defesa de Livakovic (8′).

A Croácia ia dando alguns sinais de que queria assumir outro protagonismo na partida mas, à exceção de dois cruzamento que ainda criaram algum ruído na área nacional, continuava a ser Portugal a dominar em toda a linha o encontro com grande capacidade de criar lances de potencial perigo no último terço de várias formas e com um protagonista em foco, Rafael Leão: primeiro combinou com Nuno Mendes na esquerda, arriscou o 1×1, fez a diagonal para dentro e rematou para defesa de Livakovic antes da recarga de Otávio desviada por um adversário que passou perto da trave (17′), depois teve uma jogada pelo meio com João Félix antes de assistir Nelson Semedo na direita para o remate a rasar o poste já com pouco ângulo na área (29′).

O golo parecia uma questão de tempo e chegou com a nota artística mais elevada da primeira parte: Vitinha fez um passe soberbo a 40 metros a explorar a velocidade de João Félix na profundidade, o avançado teve uma receção ainda melhor de forma orientada para a baliza e rematou de pé esquerdo sem hipóteses para o 1-0 (33′). Sem que se percebesse ao certo o porquê, o lance demorou algum tempo a ser validado mas acabou por desbloquear uma fase bem mais movimentada do encontro: José Sá saiu bem aos pés de Matanovic para evitar o empate (37′), Kramaric acertou no poste depois de um cruzamento largo de Perisic com assistência de cabeça ao segundo poste de Gvardiol (40′), João Félix recebeu um passe de Tomás Araújo entre centrais para atirar forte para defesa de Livakovic (41′), Rafael Leão falhou sozinho na área o remate em jeito após nova assistência de João Félix numa jogada que teve início nos pés de João Cancelo (45+1′).

A Croácia mexeu logo ao intervalo, com as saídas de Kovacic e Sosa para as entradas de Pasalic e Jakic que tiveram o condão de desfazer a linha defensiva a três que tinha sido delineada de início, mas Portugal deixou de ter o controlo do encontro mais por demérito próprio do que propriamente por aquilo que os balcânicos foram conseguindo construir. O que falhava? Vitinha, por muito bom que seja em qualquer ação, não dava para tudo, deixando de existir a mesma ligação entre meio-campo e ataque para manter o adversário em sentido. Depois, apareceu um salvador que já esta temporada livrou o Manchester City de mais apuros: Gvardiol ainda viu um golo anulado quando a Seleção jogava com dez de forma momentânea por lesão de Tomás Araújo (62′) mas marcou numa jogada tirada a papel químico pouco depois, com Jakic a cruzar para a zona do segundo poste e o defesa a aparecer nas costas de Semedo a desviar para o 1-1 (66′).

A Croácia ganhava o ascendente anímico, Portugal tentava recuperar o ascendente em campo e Martínez lá acabou por mexer naquilo que há muito estava esgotado, trocando Otávio e Rafael Leão por Fábio Silva e Francisco Conceição. O “espalha brasas” que fez jus ao nome no último Europeu não demorou a deixar a sua marca, ganhando o seu primeiro duelo 1×1 para oferecer de bandeja a Nuno Mendes o golo na pequena área antes de Livakovic evitar aquilo que parecia inevitável (73′), mas esse lance acabou por não ter continuidade nos minutos seguintes, aparecendo José Sá a brilhar na baliza a remates de Luka Sucic e Budimir, neste caso a desviar a recarga para a trave antes de sair para canto (78′). Contra tudo o que se vira na primeira parte, a Seleção estava em falência e só não concedeu a reviravolta porque Budimir acertou no poste (90+3′) e Diogo Dalot salvou um desvio de cabeça perto da linha de baliza na sequência de um canto (90+4′).