“Não há tempo a perder em disputas desnecessárias. Vou retirar o meu nome da consideração para o cargo de procurador-geral”. O anúncio foi feito por Matt Gaetz, o escolhido de Donald Trump para liderar o Departamento da Justiça, nas suas redes sociais esta quinta-feira, depois de um dia animado no Capitólio que girou em parte à sua volta.

O nome de Gaetz para procurador-geral tinha sido recebido com choque entre os republicanos. Para além das suas posições polémicas enquanto congressista e a sua impopularidade dentro do Partido Republicano, Gaetz era ainda alvo de uma investigação do Comité de Ética, por conduta sexual indevida — terá pago para ter sexo com uma menor de 17 anos — e consumo ilícito de drogas. Na quarta-feira, o órgão da Câmara dos Representantes tinha decidido não publicar o relatório desta investigação — que cessou logo após Gaetz ter apresentado a demissão do Congresso.

No mesmo dia, o aspirante a procurador-geral e o futuro vice-Presidente, JD Vance, estiveram reunidos toda a tarde com vários senadores republicanos — cujos votos Gaetz precisava para ser aprovado. “Tive excelentes reuniões com os senadores ontem. Agradeço o seu feedback atencioso — e o apoio incrível de tantos”, escreveu Gaetz sobre essas mesmas reuniões.

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O ex-congressista da Florida justifica a desistência com o facto de o seu processo de confirmação junto de Senado se ter tornado “numa distração injusta para o trabalho essencial da transição Trump/Vance”. Acrescenta que o Departamento de Justiça “tem de estar pronto logo no Dia 1”, o que não seria capaz se o seu processo continuasse a ser mediatizado e escrutinado politicamente como foi até aqui.

Tudo apontava para que o nome de Gaetz não fosse aprovado na audiência perante o Senado — um chumbo assim não acontecia desde 1989. Muitos nomeados para cargos de administração desistem do lugar quando se veem perante o escrutínio da opinião pública e dos seus pares, sem deixar o processo chegar à audiência — precisamente o que fez agora Gaetz.

Matt Gaetz, o “guerreiro” que Trump quer para “Martelo da Justiça”, pode nem chegar ao cargo

Tinha de ser Gaetz — ou o próprio Donald Trump — a retirar o nome. Trump manteve a confiança política no “guerreiro” que escolheu, tal como o próprio definiu. Gaetz afirma que se mantém “totalmente comprometido” com o sucesso de Trump na Casa Branca e agradece a honra de ter sido nomeado. “Estou certo que ele vai salvar a América”, remata Matt Gaetz na publicação no X.

O futuro de Matt Gaetz e do Departamento da Justiça não é certo. O Presidente eleito pode manter um dos seus apoiantes mais leais na sua administração, entregando-lhe um cargo que não esteja sujeito à aprovação do Senado — como fez com Elon Musk e Vivek Ramaswamy. Já a pasta da Justiça poderá ser entregue a Todd Blanche, segundo avançou o New York Times, ainda antes de Gaetz ter anunciado a desistência. Blanche é o advogado de Trump, que se destacou pela sua presença no julgamento do caso Stormy Daniels. Trump nomeou Blanche para ser o braço de direito de Gaetz, como procurador-geral adjunto.

Menor declarou ao Comité de Ética que teve relações sexuais com Gaetz em duas ocasiões diferentes

Minutos depois de Gaetz ter anunciado a desistência, a CNN revelou que, no seu testemunho ao Comité de Ética, a vítima menor afirmou que tinha tido relações sexuais com Matt Gaetz não uma, mas duas vezes. O Comité escolheu não divulgar o relatório, mas fontes com acesso ao mesmo partilharam o seu conteúdo com o canal norte-americano.

A CNN questionou Matt Gaetz sobre esta nova informação: o ex-congressista sempre negou as acusações. Esta tentativa de contacto aconteceu ainda antes de Gaetz ter recorrido às redes sociais para anunciar que tinha retirado o seu nome da corrida para o Departamento de Justiça.

Segundo as fontes, a mulher — que tinha 17 anos quando afirma ter tido sexo com Matt Gaetz — relatou perante o Comité que no segundo encontro sexual estava presente uma outra mulher, maior de idade. A vítima repetiu o relato numa outra audiência para um processo cível num tribunal da Florida, relacionado com este caso. A outra mulher, que também testemunhou, negou qualquer envolvimento com a menor ou Matt Gaetz, nos termos descritos pela vítima.

Este outro processo baseia-se, em grande parte, nos testemunhos das mesmas pessoas que falaram perante o Congresso, ou seja, as pessoas que estavam presentes na festa em que os alegados crimes terão ocorrido. A acusação para este processo foi feita por um político republicano contra Joel Greenberg, que se encontra a cumprir 11 anos de prisão, depois de ter sido condenado por tráfico sexual na sequência de uma investigação do Departamento de Justiça — na qual Matt Gaetz também era visado, por ter pago à rapariga de 17 anos para que viajasse com ele entre estados.