A Escola de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) do Porto abriu um inquérito interno a um dos seus professores. O Observador sabe que se trata de Daniel Bernardes, um dos docentes afastados do Hot Clube há cerca de dois anos por “situações de assédio”. A instituição terá aberto este procedimento interno apenas de forma preventiva — tendo por base as notícias que vieram a público recentemente — sendo que não terão sido registadas novas queixas contra o professor de piano desde que chegou à instituição.
Foi no ano letivo de 2021/2022 que o Hot Clube Portugal, uma das principais escolas de jazz do país, afastou dois professores por “situações de assédio”. Na época, os casos foram “reportados de forma informal com a direção pedagógica e com a intervenção de uma professora”, noticiou o Observador no início do mês. Segundo o presidente do Hot Clube, concluiu-se naquele momento que tinha havido um “abuso na relação de professor e aluna”.
O Observador sabe que um dos professores visados nesse processo foi Daniel Bernardes, que, após ser afastado da escola de Lisboa, seguiu para a zona do Porto. Desde outubro de 2022, integra o corpo docente da ESMAE, onde dá aulas de piano na licenciatura e mestrado em Música, especificamente na vertente de Jazz.
Segundo o presidente da escola de Música do Porto, Marco Conceição, depois de o caso do Hot Clube ter sido noticiado “foi aberto um inquérito [interno]” pela ESMAE, sendo que “se aguardam as conclusões do processo”, lê-se na resposta enviada ao Observador. A instituição não esclareceu quais os motivos que levaram à abertura deste inquérito ao docente de 38 anos, mas o Observador sabe que se tratou de uma decisão que tem como objetivo salvaguardar e proteger a instituição face às informações que vieram a público acerca do caso que terá acontecido no Hot Clube no ano de 2021/2022.
A Escola de Música do Porto quis apurar junto dos alunos se teriam conhecimento de novos casos de assédio ou de queixas contra o agora professor de piano da ESMAE. E, nesse sentido, foi aberto um inquérito interno. No entanto, o Observador sabe que, até ao momento, não há registo de qualquer denúncia. O Observador contactou Daniel Bernardes, que não quis prestar declarações.
Além de professor na ESMAE, o pianista assume, também desde 2022, a direção artística do projeto da UNESCO “Leiria Cidade Criativa da Música”. Daniel Bernardes é também compositor, tendo assegurado a direção musical de algumas produções para o Teatro Nacional Dona Maria II, para o Teatro do Bairro e para o Centro Cultural de Belém a propósito do centenário da fadista Amália Rodrigues.
Antes de chegar à ESMAE, o músico esteve pelo menos um ano no Hot Clube Portugal, sendo possível encontrar o nome do ex-professor nos dossiers informativos da escola de jazz desde, pelo menos, o ano letivo 2020/2021. Mas tudo mudou quando Daniel Bernardes foi afastado desta instituição, que já tinha frequentado enquanto aluno de jazz, em 2007.
Há cerca de duas semanas, o mundo do jazz e das artes sofreu um abanão quando a DJ Liliana Cunha (com o nome artístico de Tágide) divulgou nas redes sociais que tinha sido vítima de violação por parte do pianista João Pedro Coelho. Além de Liliana Cunha, o músico foi visado em outras acusações relacionados com crimes sexuais. João Pedro Coelho também fez parte do corpo docente do Hot Clube, e deixou de exercer funções na escola em 2022/2023, mas a instituição referiu que as suspeitas sobre este ex-professor não estão relacionadas com a escola de Jazz de Lisboa.
Publicamente, o músico negou estar envolvido em casos de assédio ou violação, através de uma publicação feita no Instagram. Liliana Cunha apresentou queixa à PSP e o caso está agora nas mãos do Ministério Público.
Após a DJ Liliana Cunha ter tornado pública a acusação contra João Pedro Coelho, o mundo artístico uniu-se e foram criados canais de denúncia via email. Até ao momento já foram recebidas 79 queixas, que visam 18 pessoas (em especial do mundo da música), adiantou o Público.
O tema já levou a que um professor e músico da Escola de Jazz e da Orquestra de Jazz de Leiria se tivesse demitido. Paulo Jorge Batista Santo justificou não ter condições para continuar na instituição face às acusações contra o presidente da Associação de Jazz de Leiria, ligada à Escola e à Orquestra de Jazz da cidade. Em 2021/2022, este dirigente foi afastado do Hot Clube, juntamente com Daniel Bernardes.
“Não me revendo na posição que a AJL — Associação Jazz de Leiria adotou, sinto-me obrigado a cessar todas as minhas funções para com esta entidade”, escreveu Paulo Jorge Batista Santo numa publicação na rede social Instagram na passada terça-feira. Em declarações ao Observador, acrescentou depois que o facto de a associação “estar em silêncio é por si já uma posição”. “Não me revejo nisso”, rematou.