Insanidade é repetir o mesmo erro e esperar um resultado diferente. Esta frase atribuída a Albert Einstein parece refletir a realidade do construtor japonês Nissan que, em 1999, foi salvo da falência pela Renault, depois de anos de gestão própria, com os franceses a serem afastados de forma polémica em 2018, com acusações ao então responsável máximo Carlos Ghosn, um artifício para evitar a fusão com os franceses, que retiraria poder aos japoneses. Agora, passados apenas seis anos de novo com gestão japonesa, a Nissan está novamente à beira do precipício, em termos financeiros, e desesperadamente à procura de um investidor salvador, o que depois da manobra contra a Renault, não será fácil de encontrar.
De acordo com informações de pelos menos dois executivos da Nissan ao Financial Times, o construtor acredita que tem apenas entre 12 a 14 meses para encontrar alguém para pagar a conta. Mas o curioso é que os japoneses não procuram uma nova gestão ou a integração num grupo que tenha uma estratégia a longo prazo e que possa acomodar a Nissan, à semelhança do que aconteceu com a Renault após 1999. Os franceses não só conseguiram recuperar as finanças do construtor, como o Nissan Revival Plan de Ghosn conduziu a marca de regresso à ribalta, no que muitos economistas consideraram ser uma das reviravoltas mais impressionantes da história, como pode ler aqui, aqui e aqui.
Para aguentar mais cerca de um ano, a Nissan começou já por vender as acções que detém na Mitsubishi e por cortar 9000 postos de trabalho, reduzindo aproximadamente 20% da sua capacidade de produção global, isto enquanto a Renault, que após 1999 detinha 43,4% da Nissan, devido a ter assumido 5,4 mil milhões de dólares da dívida dos japoneses, começou a reduzir a sua presença no construtor asiático, primeiro para 15%, para agora se tentar livrar do resto.
Os responsáveis da Nissan admitiram ao Financial Times que os esperam tempos muito difíceis, pois precisam de ser rentáveis nos mercados japonês e americano, o que não acontece agora. Ao que parece, a Nissan deposita algumas esperanças num eventual interesse da Honda, marca conterrânea com quem assinou em Agosto uma joint-venture para a concepção e desenvolvimento de veículos eléctricos. Mas aqui convém recordar a reacção de Carlos Ghosn ao anúncio desta parceria, quando o antigo gestor afirmou que a Honda nunca iria realizar uma espécie de “Aliança” como a que foi feita com a Renault, mas apenas um takeover da Nissan com a Honda na liderança. Algo que a Renault também pretendia, mas que nunca conseguiu impôr.