Primeiro foi André Villas-Boas. À partida para a Bélgica, onde esta quinta-feira o FC Porto vai defrontar o Anderlecht a contar para a Liga Europa, o líder dos azuis e brancos falou da crise dos dragões nos resultados e das três derrotas consecutivas como não acontecia há 16 anos para também chamar a si o foco e “aliviar” o peso que se começa a sentir sobre Vítor Bruno, aposta da SAD dos dragões para o comando técnico.
“Em primeiro lugar há que assumir as responsabilidades pelo mau momento. A equipa tem trabalhado bem para restaurar a confiança e conseguir vitórias. Sabemos que neste momento a equipa não está à altura dos pergaminhos do FC Porto, mas também sabemos que tem qualidade para mais e estamos seguros que é isso que vai fazer. Encaramos este jogo com responsabilidade, tivemos mais de 2.000 portistas em Moreira de Cónegos e queremos retribuir, invertendo rapidamente a tendência dos resultados”, referiu o líder dos portistas no aeroporto Francisco Sá Carneiro, reforçando de novo a confiança no atual técnico.
“A confiança no treinador mantém-se, tanto dos jogadores, como da estrutura, como da Direção. Tem espaço para desenvolver o seu trabalho, tem tempo, o seu trabalho não está em causa. Os resultados não estão ao nível do FC Porto mas é preciso dar tempo para que as coisas se invertam, para que os resultados apareçam, para que a equipa ganhe outra animosidade e comece a responder mais às expectativas dos sócios. Perdemos a oportunidade de ganhar uma prova [Taça de Portugal] mas temos outros objetivos ainda mais importantes e temos de corresponder”, acrescentou, quase que dando prolongamento às palavras que tivera na visita oficial a Luanda na semana passada depois da goleada sofrida frente ao Benfica no clássico da Luz.
A seguir foi Vítor Bruno. Já em solo belga, o treinador voltou a assumir a responsabilidade pelo momento que os azuis e brancos atravessam mas deixou mais do que isso na conferência de imprensa que antecedeu a partida diante do Anderlecht, falando de pontos essenciais para a redenção da parte dos jogadores.
“Contestação? É normal, o FC Porto não está a ganhar. Tem de recair em alguém. Quem é o rosto visível? É o treinador. E sou eu o responsável, não fujo a nada disso. O grande responsável sou eu, não são jogadores nem Direção. Assumo por inteiro. Agora, durmo de consciência tranquila, porque faço tudo em prol do FC Porto, para que o FC Porto ganhe e tenha uma voz forte em competições internas e europeias”, referiu.
“Concordo que têm de aparecer novas lideranças no clube, no balneário. Eles sabem. Independentemente de terem 17 anos, como o [Rodrigo] Mora, ou 37, como o Marcano, da idade, da experiência que possam ter, têm de aparecer lideranças novas, que agarrem a equipa em alguns momentos. Obviamente que isso não se consegue de um dia para o outro. A equipa é nova, muita gente nova que não começou no momento certo, no ponto de partida. Isso vai-se conquistando, vai-se ganhando. O tempo não há e urge ganhar e é isso queremos fazer amanhã [quinta-feira]”, acrescentou mais no final da conferência.
Nem de propósito, dois antigos capitães do FC Porto marcaram presença na inauguração do Arena Portugal, infraestrutura que vai albergar todo o futsal nacional (além das novas instalações do Canal 11) e falaram sobre o momento dos azuis e brancos não de forma distinta mas com visões diferentes, com Bruno Alves a mostrar confiança na redenção de um projeto novo que precisa de tempo e Pepe a referir que é complicado fazer agora uma análise ao que se pode estar a passar no FC Porto por não se encontrar no clube.
“Como portista é um momento difícil. Ao mesmo tempo estou triste porque é um clube que gosto muito, uma casa que está habituada a ganhar. Agora não faço parte do dia a dia e não posso alongar-me, sei o que se passa pela comunicação social. Mas também sei, por ter estado lá dentro, que é um momento difícil. Como vejo a exigência dos adeptos? Eles têm essa exigência, do que é o FC Porto. Como ex-jogador também sei disso, sei o que os adeptos querem dos seus jogadores e do clube. Agora é uma questão das pessoas perceberem o que os adeptos querem e darem o melhor. Solução? Tive a oportunidade de falar na Gala das Quinas… Falar pouco e trabalhar muito, essa é a mensagem que deixo. Neste momento é trabalhar muito e falar pouco para regressar rápido às vitórias”, comentou Pepe, que deixou o plantel este verão.
Mas será Vítor Bruno o problema ou uma das chaves da solução sendo o homem certo para o lugar? “Essa pergunta tem de ser feita ao presidente. É muito delicado falar neste momento… Eu não sei o que se passa. Obviamente que conheço, porque tive cinco anos e meio a trabalhar com o Vítor. Ele era meu adjunto, agora é treinador principal, não sei como são as dinâmicas. Que os adeptos que continuem a apoiar o FC Porto para que o clube consiga sair desta situação. Falta de referências? Cometi erros como jogador mas de coração cheio porque tentei sempre dar o meu melhor. Hoje as pessoas reconhecem isso, porque defendi sempre a camisola que vesti com unhas e dentes. E é isso que os adeptos querem. Se era preciso um Pepe? Não sei, não sei…”, acrescentou o antigo internacional português, que terminou a carreira após o Europeu.
Já Bruno Alves, que chegou a jogar com Pepe a seu lado sendo capitão do FC Porto, apontou o discurso num outro sentindo, repetindo por mais do que uma vez que é necessário dar tempo ao tempo. “Temos que perceber que o FC Porto está a passar por um processo de transição, de mudança. temos que dar tempo para as pessoas trabalharem e trazerem essa nova identidade. Acreditar que o presente pode trazer algumas dificuldades mas o futuro vai ser bom. Temos que dar esse voto de confiança a toda a direção. É preciso plantar para depois colher”, salientou o antigo número 2 e também ex-internacional.
“Falta de referências? Tem que se criar essa identidade. Há mais jogadores que têm que entender o que é o FC Porto, conquistar isso. O FC Porto sempre foi um clube que tornou as dificuldades em força, é essa a identidade e acredito que quem lá está tem competência para fazer isso e vai conseguir. Se Vítor Bruno pode ter falta de experiência? Acredito que ele tenha competência para fazer um bom trabalho. O FC Porto já teve treinadores muito jovens que tiveram sucesso, acho que foi esse o seguimento. Falar já é um pouco precoce, temos de dar um pouco mais de tempo para avaliar”, completou Bruno Alves.