O ministro da Educação voltou atrás sobre os dados que avançou na semana passada relativos ao número de alunos que, desde o início do ano letivo, estiveram permanentemente sem aulas a pelo menos uma disciplina. Fernando Alexandre disse que eram apenas 2.338 os alunos nesta situação, afirmando que esse universo corresponderia a uma redução de 90% face aos 21 mil no mesmo período do ano passado. Já esta sexta-feira, o ministro admitiu que os dados estavam incorretos. “Lamento ter indicado aquele dado, hoje não o teria feito”, diz agora Fernando Alexandre ao Expresso, o mesmo jornal a quem tinha avançado os valores em primeiro lugar, que posteriormente foram discutidos em conferência de imprensa.

As declarações surgem depois de várias vozes terem levantado dúvidas sobre a contagem do Governo. Dúvidas que partiram do antecessor no cargo, João Costa, e do PS, que acusou o Governo de “faltar à verdade” e garantiu que o número em causa rondava os 2 mil e nunca os 21 mil.

Desde o início do ano letivo, mais de 2 mil alunos estão sem aulas a uma disciplina. Valor cai 89% face a 2023

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Face à diferença entre os valores apontados, o Expresso pediu uma clarificação. Numa primeira fase, o ministério disponibilizou dados que supostamente estavam relacionados com o número de alunos sem aulas no ano letivo passado durante um, três, seis e nove meses. Os números totais oscilavam nesses períodos entre os 19 mil e os 22 mil alunos. Mais tarde, o ministério decidiu pedir a “revalidação dos dados” à Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) que forneceu novos dados: os alunos sem aulas desde o início do ano letivo eram afinal 7381 e no final do 1º período eram 3295.

“Confesso que já não acredito nestes números [fornecidos pela DGEstE]. Para mim deixaram de ter validade. Simplesmente não são credíveis”, reconhece agora o próprio ministro, acrescentando que tinha confiado nos elementos que lhe tinham sido apresentados e que, “ao longo de várias semanas de trabalho e reuniões”, nunca foram postos em causa pelos serviços.

“Confrontado com dados contraditórios, o MECI [Ministério da Educação, Ciência e Inovação] considerou não existir fiabilidade na informação prestada pelos serviços sobre o ano letivo de 2023/24, colocando em causa o rigor de todos os dados que têm vindo a público, incluindo o valor de referência escolhido pelo Governo para a avaliação do efeito das suas medidas, assim como os dados divulgados pelo ex-ministro João Costa”, disse o ministério numa resposta escrita ao Expresso.

Questionado sobre se devia um pedido de desculpa ao PS, Fernando Alexandre sublinhou que não. “Em oito anos e meio tiveram tempo para montar um sistema de informação que permitisse medir este problema se o tivessem identificado como prioritário.”

IL quer ouvir com urgência ministro da Educação após mea culpa sobre número de alunos sem aulas