O Mundial de Fórmula 1 está praticamente decidido, faltando apenas atribuir o título de campeão de construtores a McLaren ou Ferrari, mas nem por isso deixa de ter a mesma dose de apontamentos de série da Netflix. No episódio mais recente, Max Verstappen e George Russell são verdadeiros protagonistas — e o piloto inglês adquiriu contornos de vilão.

Tudo aconteceu durante o fim de semana e durante o Grande Prémio do Qatar. Já tetracampeão mundial, Max Verstappen fez a volta mais rápida da qualificação e garantiu a pole-position, mas um incidente com George Russell durante as sessões de sábado acabou por agitar a grelha de partida. A dada altura, enquanto o britânico da Mercedes estava a realizar uma volta de aquecimento e não para registar tempos, o neerlandês da Red Bull parecia ir abaixo do limite mínimo de velocidade em pista. “Ia demasiado lento”, soltou Russell via rádio, num aparente desabafo sem importância.

Mas tinha toda a importância. Os dois pilotos foram chamados pelos comissários de corrida, para que ambos pudessem explicar o que aconteceu e dar a respetiva versão, e foi nesse momento que tudo terá azedado. Na ótica de Max Verstappen, George Russell estava a fazer uma volta de aquecimento, procurou colocar-se mesmo atrás do Red Bull e acabou por simular uma travagem abrupta — quando, na verdade, foi ele a provocar a situação.

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Na ótica de George Russell, porém, Max Verstappen ia demasiado lento para tentar travar a aceleração do Mercedes. Ora, depois de ouvirem as duas versões, os comissários do Grande Prémio do Qatar optaram por um castigo pela metade: penalizaram o neerlandês com uma posição na grelha de partida, ao invés das regulamentares três em casos deste tipo, e admitiram que este cumpria a velocidade mínima em pista. Resultado final? Verstappen caiu para o segundo lugar, George Russell ficou com a pole-position.

Já campeão, Verstappen vence no Qatar e penalização a Norris adia título de construtores

Verstappen acabou por ganhar a corrida de domingo, com Charles Leclerc e Oscar Piastri a completarem o pódio e Russell a terminar em quarto, mas nem por isso o tetracampeão mundial esqueceu o que se tinha passado no dia anterior. “Falar com ele? Não, por agora não. Ele mostra-se sempre muito educado à frente das câmaras, mas quando o conheces pessoalmente torna-se uma pessoa completamente diferente. Não o suporto, mesmo. Ele que vá à m****, não quero ter nada a ver com ele”, começou por dizer, em declarações à comunicação social dos Países Baixos.

“Já estive muitas vezes naquela sala de reuniões ao longo da minha carreira e com muita gente e nunca vi ninguém a tentar lixar-me daquela maneira. Perdi todo o respeito por ele. Não quis acreditar quando soube da penalização. Mas de certo modo também já não fico surpreendido com nada, tendo em conta o mundo em que vivemos. Não quis estragar a volta de preparação de ninguém e acabei penalizado. Foi o que tentei explicar, mas senti que estava a falar com uma parede”, acrescentou.

Entretanto, as publicações especializadas revelaram que Max Verstappen confrontou George Russell pessoalmente, ainda antes da corrida e depois do desfile dos pilotos, referindo que esperava que o britânico estivesse “contente” com o que tinha conseguido. Já depois da vitória do neerlandês no Qatar, Christian Horner acabou por confirmar que os dois tiveram “um momento”, garantindo que Verstappen usou a penalização como motivação adicional para a etapa.

Contudo, a verdade é que o episódio acabou por fazer lembrar outros momentos em que George Russell também terá dito uma coisa em frente às câmaras e outra junto dos comissários. Já esta temporada, no Grande Prémio da Austrália, o britânico da Mercedes perseguia Fernando Alonso nas últimas voltas enquanto lutavam pelo quinto lugar e acabou por despistar-se contra as barreiras. Russell começou a gritar de forma alarmante via rádio, para motivar uma bandeira vermelha que interrompesse a corrida e lhe garantisse a posição em que seguia na altura do acidente.

Não aconteceu, George Russell acabou mesmo por abandonar e, mais tarde, até defendeu Fernando Alonso na conferência de imprensa. Na reunião com os comissários, porém, terá oferecido uma versão diferente, acusando o espanhol de travar repentinamente. Alonso acabou por ser alvo da maior sanção de sempre por “condução errática e potencialmente perigosa”: 20 segundos de penalização na classificação final e três pontos na licença, algo inédito. Uma semana depois, no Japão, Russell acabou por reconhecer que estava “a mexer numas coisas no volante” e que acabou por ficar demasiado perto do Aston Martin.