A Arte Equestre Portuguesa foi esta terça-feira classificada Património Imaterial Cultural da Humanidade, na reunião do comité responsável da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A classificação é o resultado de um processo iniciado em 2015 e desenvolvido em parceria pela Associação Portuguesa de Criadores do Puro-Sangue Lusitano, pela Parques de Sintra, que gere a Escola Portuguesa de Arte Equestre, e pelo município da Golegã. A Arte Equestre Portuguesa foi integrada no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial em 2021.

De acordo com os documentos da candidatura, as entidades promotoras propõem como medidas de salvaguarda desta prática a criação de um centro de investigação associado à Biblioteca Equestre D. Diogo de Bragança, no Palácio Nacional de Queluz, a garantia da Escola Portuguesa de Arte Equestre como instituição de referência no ensino, e a integração da equitação como parte de um complemento ao currículo escolar, com base num projeto-piloto já existente na Golegã, entre outros.

Tendo por base um respeito pelo cavalo para que se estabeleça uma “perfeita harmonia” com os cavaleiros, a Arte Equestre Portuguesa interliga as dimensões funcionais e artísticas, “originando duas expressões indissociáveis, uma popular e uma erudita”, como se pode ler na documentação da candidatura à UNESCO.

“Em todas as suas dimensões, a Arte Equestre em Portugal diferencia-se pela posição do cavaleiro na sela, a indumentária específica e os arreios. O cavaleiro desenvolve um conhecimento equestre, procurando a colaboração suave e consentida do cavalo, sem forçar, intuindo o que lhe é pedido”, acrescenta o mesmo texto.

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O Comité Intergovernamental para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO está reunido até sábado na capital paraguaia e, entre as candidaturas apresentadas, conta-se ainda uma do Brasil sobre o modo de produção artesanal do Queijo de Minas, no Estado de Minas Gerais, no sudeste do país sul-americano, que vai ser votada na quarta-feira.

Parques de Sintra honrada com classificação

A Parques de Sintra, que gere a Escola Portuguesa de Arte Equestre, considerou “uma honra muito grande” a decisão da UNESCO, partilhando o feito “com todos os cavaleiros”. “A arte equestre em Portugal é um complexo cultural, social e artístico, singularizado pela utilização deste cavalo excecional que é o puro sangue lusitano, com características únicas e exclusivas. E estamos muito orgulhosos”, disse Luís Calaim, da Parques de Sintra, em declarações à Lusa por telefone, a partir de Assunção.

“Gostávamos de felicitar e partilhar esta inscrição da UNESCO com todos os cavaleiros da arte equestre”, referiu Luís Calaim, recordando haver “milhares de cavaleiros, não só em Portugal mas em todo o mundo, que montam no cavalo lusitano”.

A comunidade de praticantes vai desde os amadores aos profissionais, encontrando-se o maior grupo na Escola Portuguesa de Arte Equestre, embora haja praticantes espalhados por 20 países em cinco continentes, como recorda o texto patente na candidatura à classificação pela UNESCO. “Estamos convictos que a manutenção deste património [Arte Equestre Portuguesa] neste inventário vai depender da sabedoria coletiva de todos. E não podemos esquecer que a única constante na história da humanidade é a mudança, e é muito importante para nós termos isto ciente no nosso dia-a-dia”, referiu hoje Luís Calaim à Lusa.

“A escolha da Unesco será doravante um contributo importante” para a projeção da AEP, defende Marcelo

Foi através de uma nota no site da Presidência, Marcelo saudou a decisão da agência das Nações Unidas. “A Unesco atribuiu a classificação de Património Cultural Imaterial da Humanidade à Arte Equestre Portuguesa, destacando as especificidades dessa arte no nosso país, a sua natureza de cultura popular e erudita e a particular relação entre cavalo e cavaleiro”, escreveu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Na comunicação publicada no site oficial da Presidência da República, o chefe de estado felicitou “todos os seus promotores e praticantes, e em especial a Associação Portuguesa de Criadores do Puro-Sangue Lusitano, a Parques de Sintra e o município da Golegã, responsáveis pela candidatura”.

O Presidente destaca ainda que “a escolha da Unesco será doravante um contributo importante no sentido da salvaguarda, da investigação, do ensino e da projeção da Arte Equestre Portuguesa”.

Golegã diz que reconhecimento da arte equestre valoriza território

Para o vice-presidente da Câmara da Golegã, o reconhecimento da UNESCO é “uma forma de valorizar o território, a cultura e o património” do país. “É importante e é uma forma de valorizar o nosso território, a nossa cultura e o reconhecimento da UNESCO é fundamental. Nós próprios enviámos essa candidatura e só dessa forma conseguimos preservar aquilo que de melhor temos e também dizer ao mundo que temos este reconhecimento”, disse Diogo Rosa, explicando: “Nós, como capital do cavalo, desde o primeiro momento que aceitámos (participar na candidatura). Isto foi aceite por outros executivos e nós mantivemos essa posição.”

O vice-presidente acredita que esta distinção vai aumentar o turismo equestre no concelho e no país, referindo que este reconhecimento “não é apenas uma forma de garantir proteção, mas também uma oportunidade de promover a tradição a nível mundial”.

O município pretende também o reconhecimento da UNESCO para a Feira Nacional do Cavalo, um dos maiores eventos do género em Portugal, que se realiza anualmente na Golegã. A autarquia acredita que a distinção poderá reforçar “a projeção internacional do evento” e consolidar ainda mais a posição da vila como “capital do cavalo”.