Com o relógio a aproximar-se da hora que pode ditar a saída de Michel Barnier da liderança do executivo francês, o primeiro-ministro mantém a esperança de que o seu governo não será chumbado pelo parlamento. “Depende dos deputados, cada um deles tem uma parte de responsabilidade perante o povo francês”, refere, em entrevista aos canais TF1 e France 2, na noite de terça-feira.
“Sei que é uma situação frágil e efémera”, afirma Barnier, que assume ter pensado, ao longo dos três meses em que ocupa a pasta, “que poderia partir na manhã seguinte, porque se trata de uma questão política e tão complicada”. No entanto, acredita que a moção de censura que será discutida esta quarta-feira não é “um voto contra ou a favor de Barnier”, mas sim “sobre um texto” — o orçamento da segurança social, neste caso.
Parlamento francês vai votar moções de censura ao governo na quarta-feira
Apesar das críticas dirigidas de todas direções ao orçamento que aprovou por decreto do governo, Michel Barnier reitera a sua disponibilidade para discutir os termos do documento. “Sempre disse que o orçamento poderia ser melhorado (…) Ouvimos toda a gente e fizemos progressos em vários pontos”, diz o primeiro-ministro, referindo as “semanas e semanas” que foram investidas para redigir o projeto orçamental.
“Eu não negoceio, eu oiço”, disse o governante sobre como considerou correrem as discussões com os vários partidos antes da apresentação oficial do documento. Nos dois polos políticos teceram-se acusações contra Barnier por ter “ignorado” as suas indicações, mas a resposta do primeiro-ministro contraria estas afirmações: “Não é verdade”. Disse ainda que a conversa com Marine Le Pen se assemelhou mais a uma “guerra de licitações” do que propriamente uma negociação, mas que não o levou “a lado nenhum”.
Continuando a troca de acusações, Barnier declarou também que alguns membros do Partido Socialista, como Olivier Faure e Boris Vallaud, pré-determinaram o sentido da votação para a moção “antes de sequer ter aberto a boca”. No entanto, acredita que não é uma missão impossível, mas sim “complicada”, porque “nunca é impossível”.
Macron diz ter “confiança na coerência das pessoas”
Já Emmanuel Macron assumiu que “não pôde acreditar na moção de censura” apresentada tanto pela esquerda como pela direita e sublinhou ter “confiança na coerência das pessoas” para manter uma situação de estabilidade política, que assegurou ser a sua prioridade. Em visita de Estado à Arábia Saudita, o Presidente de França acusou o partido de extrema-direita, União Nacional, de ser “insuportavelmente cínico” caso vote ao lado da Nova Frente Popular (extrema-esquerda), o que representaria um “insulto para os seus eleitores”. No que toca ao Partido Socialista, Macron considera que um voto a favor da censura do governo demonstraria uma “perda total de identidade”.
O chefe de Estado aproveitou as questões dos jornalistas, citadas pelo jornal Le Monde, para esclarecer a “ficção política” à volta de uma possível saída antecipada do Palácio do Eliseu. “Não faz sentido”, afirma Macron, reforçando que irá “honrar esta confiança com toda a energia até ao último segundo para ser útil ao país”, e que nunca pensou em abandonar a presidência.