A associação ambientalista ANP/WWF manifestou esta segunda-feira “profunda preocupação” com o declínio do lobo-ibérico em Portugal, que atribuiu aos “escassos e pouco ambiciosos” esforços dos últimos governos para travar a situação.
À falta de esforços dos governos alia-se, para a deterioração do estado de conservação da espécie, a perda e fragmentação de habitat, a perseguição direta, a escassez de presas naturais, os incêndios florestais e as alterações climáticas, refere a associação em comunicado.
A Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha com a internacional “World Wide Fund for Nature (WWF), comentou assim os resultados do censo nacional (2019-2021) do lobo-ibérico, que há muitos meses o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) dizia estar pronto mas que só esta segunda-feira foi conhecido.
O censo mostrou que a área de presença do lobo em Portugal reduziu 20% e o número de alcateias detetadas decresceu 8% para as 58 em duas décadas, encontrando-se principalmente a norte do rio Douro.
De acordo com o relatório, na Peneda/Gerês registou-se um aumento de alcateias, de 16 para 24, tendo-se verificado uma diminuição nos restantes três núcleos, principalmente no Alvão/Padrela, onde o número de alcateias estimado sofreu uma redução superior a 50% (de 13 para seis).
Entre os principais fatores que estarão comprometer a conservação do lobo, encontram-se a “mortalidade por causas humanas” (atropelamento, laços, tiro, envenenamento), o ataque do predador ao efetivo pecuário (bovino, ovino ou caprino) que conduz a uma menor tolerância à sua presença, baixa disponibilidade de presas selvagens ou a instalação de infraestruturas de comunicação e produção de energia.
Os resultados obtidos no atual censo revelam que não foram alcançados os objetivos estabelecidos há 20 anos para melhorar o estado de conservação do lobo em Portugal.
No comunicado, a ANP/WWF frisa que os lobos representam um elemento-chave dos ecossistemas, já que, como predadores de topo, ajudam a manter o equilíbrio natural e apoiam a diversidade da vida selvagem, e destaca que estão classificados pelo Livro Vermelho de 2023 como “em perigo”.
A situação de declínio, diz a associação, “torna-se ainda mais preocupante” tendo em conta que há poucos dias a Convenção de Berna, subscrita por Portugal, determinou a diminuição do estatuto de proteção do lobo, “colocando em causa décadas de esforços de conservação”, disse Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da ANP|WWF.
A ANP/WWF recorda que em 2023, a presidente da Comissão Europeia apresentou uma proposta para diminuir o estatuto de proteção do lobo e que Portugal se posicionou sempre, “e bem, contra a redução da proteção”. E recorda também que em setembro passado Portugal alterou o sentido de voto, “dando um passo muito perigoso ao contribuir para a desproteção da biodiversidade“.
“A ANP|WWF teme que o atraso de um ano na publicação deste relatório se deva a uma tentativa de reter a divulgação destes resultados negativos até à votação, o que, a confirmar-se, demonstra falta de compromisso com a transparência e a conservação da biodiversidade em Portugal, para lá de uma já confirmada falha grave na implementação de medidas eficazes para conservar esta espécie ameaçada”, diz a associação no comunicado.
A associação pede medidas de proteção do lobo, como impedir projetos de infraestruturas em áreas de localização conhecida de alcateias, proibir a caça em áreas de alcateias e em épocas de reprodução, agilizar mecanismos de compensação por danos, priorizar a prevenção de incêndios florestais em habitats de lobos, sensibilizar populações e convocar uma reunião urgente do Plano de Ação para a Conservação do Lobo-Ibérico.
“Apelamos à coragem do atual Governo para que esta situação possa ser revertida com urgência”, diz, citado no comunicado, Vasco da Silva, coordenador de Florestas e Biodiversidade da ANP|WWF.