Mais de 57.700 pessoas entraram em Espanha de forma irregular em embarcações precárias, conhecidas como ‘pateras’, entre 1 de janeiro e 15 de dezembro, um número recorde que se deve às chegadas às Canárias, segundo estatísticas oficiais divulgadas hoje.

As 57.738 pessoas que até 15 de dezembro deste ano entraram em Espanha a bordo de ‘pateras’ ou ‘cayucos’ superam já as 57.498 de todo o ano de 2018, que era até agora o maior número de sempre registado num ano civil completo.

Em relação a 2023, há também um aumento, de 55.618 em todo o ano passado para 57.738 até 15 de dezembro, segundo os dados sobre “imigração irregular” em Espanha publicados hoje pelo Ministério da Administração Interna.

O aumento de chegadas de imigrantes a Espanha por esta via deve-se às ilhas Canárias, uma vez que nas costas de Mediterrâneo diminuíram este ano o número de chegadas.

As Canárias vivem desde meados do ano passado um pico inédito de chegadas de ‘pateras’, tendo 2023 sido já um ano recorde de número de imigrantes a entrarem de forma irregular nestas ilhas do Atlântico.

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Até 15 de dezembro chegaram às Canárias 43.737 pessoas a bordo destas embarcações, mais 18,6% do que no mesmo período de 2023.

Em todo o ano passado, as Canárias acolheram 39.910 imigrantes que chegaram às ilhas por mar de forma irregular.

Já nas costas espanholas do Mediterrâneo (Espanha continental e Baleares) diminuíram este ano o número de imigrantes que chegaram ao país em ‘pateras’: 13.952 até 15 de dezembro, menos 2,2% do que os 14.259 do mesmo período de 2023.

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Espanha – com costas no Mediterrâneo e no Atlântico e duas cidades que são enclaves no norte de África (Ceuta e Melilla) – é um dos países da União Europeia (UE) que lida diretamente com maior número de chegadas de migrantes em situação irregular que pretendem entrar em território europeu.

As autoridades espanholas têm atribuído o número inédito de chegadas às Canárias no último ano e meio à instabilidade política na região africana do Sahel.

A este motivo, as organizações não-governamentais (ONG) somam acordos de países europeus, como Espanha, com Estados africanos para maior controlo de fronteiras e das rotas do Mediterrâneo, que estão a levar os migrantes e as máfias ligadas à imigração para outros percursos e a optar pela “rota do Atlântico”, considerada mais perigosa e mais mortal.

A questão das migrações e da situação que se vive nas Canárias levou já a duas deslocações este ano do primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, a países da África ocidental.

A primeira deslocação de Sánchez, em fevereiro, foi à Mauritânia e viajou acompanhado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Os dois anunciaram então ajudas de centenas de milhões de euros ao país africano, para gestão de fluxos migratórios e apoio a refugiados, entre outros objetivos.

Na segunda deslocação, no final de agosto, Sánchez esteve na Mauritânia, Gâmbia e Senegal e assinou protocolos nos três países para promover a “imigração regular”, com a contratação de trabalhadores na origem.