Depois de o Grupo Volkswagen anunciar a construção da sua fábrica de baterias em Valência, eis que a Stellantis avança igualmente com a instalação de umas instalações similares em Saragoça, tendo os chineses da CATL como parceiros e suporte técnico, pois são um dos maiores fabricantes de acumuladores para veículos eléctricos.
A fábrica da Stellantis em Espanha terá uma capacidade de produzir 50 kWh por ano, o que deverá servir para alimentar um milhão de veículos pequenos, com uma média de 50 kWh cada, ou 670.000 caso se tratem de modelos de dimensão média, com 75 kWh de bateria. Tanto as instalações da Volkswagen como as da Stellantis prevêem criar cerca de 3000 empregos directos e 30.000 indirectos.
Enquanto, aqui ao lado, as fábricas de baterias “nascem que nem cogumelos”, do lado de cá da fronteira nem uma. Isto apesar de Portugal ter lítio e poder explorá-lo e da distância às fábricas não parecer ser relevante, pois o Grupo Volkswagen projectou a sua unidade de células para veículos eléctricos em Valência, para abastecer as fábricas de Barcelona (Seat) a 350 km e a de Navarra (VW) a 450 km, enquanto cidades portuguesas como Guimarães estão apenas a 700 km de Navarra e a 400 km da Autoeuropa, em Palmela.
VW monta fábrica de baterias em Espanha. Mas fora da Catalunha
Tal como aconteceu com as instalações fabris da Volkswagen em Valência, também esta fábrica da Stellantis foi alvo de extensas negociações. Segundo a imprensa espanhola, às ajudas avançadas pelo Governo local (4100 milhões), há ainda que somar os incentivos suportados pela União Europeia (189 milhões).
O acordo esteve ainda em risco por uma questão política, uma vez que Espanha votou a favor do incremento de impostos especiais aos carros eléctricos chineses, para compensar os incentivos atribuídos pelo Estado chinês e considerados ilegais pela Organização Mundial do Comércio, o que desagradou à CATL. A situação acabaria por se resolver quando os espanhóis se abstiveram na segunda votação, seguindo a célebre máxima de Marx, não aquele que fez chorar muita gente, Karl, mas sim o que nos fez rir a bandeiras despregadas, o Groucho, a quem é atribuída a frase “estes são os meus princípios e, se não gostarem, tenho outros”.
A fábrica de baterias da Stellantis/CATL tem uma capacidade ligeiramente superior à da VW/Seat em Valência, que de momento anuncia apenas 40 GWh, apesar de o acordo de investimento prever um reforço para 60 GWh, dependendo das condições do mercado. Ao contrário da fábrica dos alemães, que irá produzir células com a química NCM (níquel-cobalto-manganês), as que oferecem maior densidade energética, as do grupo francês recorrem a cátodos em LFP (fosfato de ferro-lítio), com menor densidade, mas mais baratas e mais seguras por não pegarem fogo em caso de acidente, ao não possuírem níquel. Este tipo de células destina-se preferencialmente a veículos pequenos e compactos, em que o preço é mais determinante do que a autonomia.